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terça-feira, 1 de outubro de 2013

CAMINHO DE SANTIAGO - DIÁRIO DE UM PEREGRINO VII

O que podemos aprender com os espanhóis?


Na parte V dessa série mostrei algumas diferenças básicas entre o Brasil e a Espanha. Uma delas é a idade. Enquanto o Brasil tem 513 anos, a Espanha já é uma velha matrona com 35 mil anos de história. Lá tudo já está consolidado, aqui tudo, ou quase tudo está por fazer.

Com tanto tempo de história, com tanta experiência, o povo espanhol tem muito o que nos ensinar em todas as áreas. Mas aqui quero destacar apenas um ponto: a civilização. Em todo o território espanhol você percebe os sinais de que ali vive um povo altamente civilizado em toda sua essência. 

Um povo civilizado trabalha e vive em harmonia. As leis são bem definidas e todos cumprem a risca. Essa história de dar um jeitinho para tudo é visto como malandragem inútil. A lei é vista como um instrumento essencial para se viver com harmonia numa sociedade com interesses diferentes e geralmente conflitantes. Então se cumpre e não se fala mais nisso. Mas esse cumprimento não é uma coisa alienada. Aliás, de alienado o povo espanhol não tem nada. Vi e testemunhei algumas manifestações contra o governo e contra empresários. Ele pode até questionar as leis, pode lutar pela sua mudança, mas cumpre. Cumpre com a consciência de que é o único jeito civilizado de convivência.

Um dia em Madrid sai com um amigo brasileiro que vive lá já há alguns anos. Ele estacionou a sua vã numa rua e saímos a pés para conhecer o centro comercial. Quando retornamos tinha uma multa no para brisas por ter ficado tempo há mais do que o permitido naquela área. Ele ficou visivelmente chateado e constrangido. Não pela multa, mas por ter infringido uma lei. Achei bem interessante esse comportamento que é típico de quem tem noção de cidadania.

E a polícia como age? Numa sociedade civilizada, a polícia também tem que ser civilizada. É bem treinada e equipada e tem como princípio proteger o cidadão. Age mais na retaguarda com o serviço de inteligência antecipando problemas. Mesmo a Espanha estando vivendo um grave momento de crise, mesmo com manifestações pipocando em toda parte, não vi nem uma ação policial. Aliás, a polícia é quase invisível. Achei impressionante quando passei por Pamplona e me misturei a uma manifestação contra o desemprego e contra os cortes nos serviços sociais. O que me chamou a atenção foi a ausência da polícia. Tinha um posto policial na praça, mas eles observavam tudo de longe. Fiquei imaginando aquela cena aqui no Brasil com policiais nervosos e adestrados para reprimir qualquer manifestação.

Nas conversar que tive com espanhóis perguntei sobre a violência. Todos enfatizaram que vivem tranquilos e sem medo. Recentemente houve um assalto a banco em Madrid e foi tratado como um acontecimento espetacular. É um ato inédito que os espanhóis não estão acostumados. Viver numa sociedade assim, com aparelhos que inibem a violência, com leis bem definidas e principalmente com a garantia do seu cumprimento é um exemplo prático de civilidade.

Um exemplo mais importante de civilização que me chamou a atenção foi a maneira como os espanhóis tratam o seu resíduo, o seu lixo de cada dia. Por onde passei, desde os pequenos povoados até as grandes cidades vi coleta seletiva de lixo. Lá isso é uma prática normal e corriqueira. Todo mundo separa o seu lixo e coloca em local adequado. A sua destinação é feita da forma mais correta e a prática da reutilização é constante. 

Me chamou a atenção a quantidade de lixeira nas vias públicas. Posso afirmar sem medo de errar que em Parauapebas tem mais lixeira pública do que em Madrid. E o povo joga lixo no chão por isso? Não! Cada um carrega o seu lixo consigo até encontrar uma lixeira ou simplesmente leva para casa. Não tem aquela história de jogar o papel de bala, o palito de picolé, a casca de banana em um canto qualquer. Sabe aquelas manchinhas pretas que vemos no chão? Mancha de chicletes que temos o péssimo hábito de cuspir em qualquer lugar na rua. Pois é. Lá não vi essas manchinhas. É tudo muito limpo e organizado. Seja no vilarejo, seja nas estradas da zona rural ou nos grandes centros urbanos. Tudo está na mais perfeita ordem, na maior harmonia. É bonito de se ver. Fiquei pensando: quando vamos atingir esse grau de civilização aqui no Brasil? Espero que não seja preciso esperar por 35 mil anos.




Um comentário:

  1. Foi o que eu pensei, os espanhóis não demoraram 35 mil anos para construir esta ordem, mas esse tempo todo foi para manutenção e aperfeiçoamento. Nós já passamos da hora de construir alguma coisa parecida. Vamos COMEÇAR?

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