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quarta-feira, 27 de março de 2024

A SWAT EM BROGODÓ E A ORAÇÃO DA SANTA

Esse é um conto de ficção. Qualquer semelhança com a realidade, será apenas coisa de sua cabeça.

Era um dia de sexta-feira do mês de fevereiro de 1957 do ano do Nosso Senhor Jesus Cristo. Lembra de Brogodó? A cidadezinha encravada ao sopé das montanhas de diamante, terra que jorrava leite e mel, onde a riqueza gerada daria para enriquecer toda a população e ainda sobraria muito. Mas, como vocês já viram nos episódios anteriores (se ainda não viu, tome vergonha nessa cara e volte na primeira parte), o que era para ser uma bênção, se transformou numa maldição. A riqueza trazida pelo diamante arrancado das profundezas das montanhas de Brogodó atraíram velhos vampiros que se revezavam no poder executivo. A Côrte do Povo que funcionava como um parlamento, também teve boa parte dominada por esses vampiros e, assim, tudo ocorria dentro da normalidade vampiresca.

Na Côrte do Povo, havia uma cortesã que representava o povo de Brogodó com uma genialidade jamais vista. Seu nome era Elizabete III - a Grã Marquesa. Mesmo Elizabete fazendo todo tipo de tramoia e praticando todo tipo de "sem-vergonhices", era vista por seus eleitores e simpatizantes como uma santa. Com uma voz nasal, um inglês sofrível que não conseguia pronunciar dez palavras sem atropelar o verbo e a concordância, mesmo assim, conseguia arrancar aplausos da plateia dos fiéis seguidores. Também não vamos negar. Apesar da Grã Marquesa não ser nada inteligente, tinha uma habilidade especial para seduzir, manipular e encantar sua plateia. Geralmente começava seu discurso com as palavras: "Eu como mulher, como mãe, como esposa, como cristã, como evangélica temente a Deus..." Assim, usando uma capa religiosa que agradava muita gente, Elizabete III ia enganando a quase todos. Chegou a ser chamada de Santa por muitos.

Mas, veja cara leitora e caro leitor. Nem mesmo as santas escapam das "maldades" desse povo "mal" que não respeita nem as "autoridades". Pois bem. Naquela sexta-feira, mais uma vez a cidade de Brogodó foi visitada pela S.W.A.T. Esse órgão responsável por combater a corrupção na Pensilvânia, chegou na rica cidade dos vampiros de surpresa e foi direto para a Secretaria de Educação e para a casa do secretário José Bial. Segundo denúncias, esse órgão operava um pesado esquema de corrupção responsável pelo desvio de milhões de dólares. Também havia suspeita de rachadinha, uso político da estrutura, funcionários fantasmas e até alunos fantasmas para justificar o aumento de carga horária de alguns professores.

O pobre secretário José Bial ficou atônito quando recebeu os homens de preto da S.W.A.T às 6 horas da manhã. Apesar de ser o secretário de educação, o pobre coitado, homem simplório, não tinha a menor ideia da gravidade da situação. Afinal, quem mandava na sua secretaria era sua madrinha, a Elizabete III. Ela mesma. A santa, a Grã Marquesa de Brogodó. Como ela tinha cargo na Côrte do Povo, designou uma ajudante de ordens para dar os comandos na secretaria que ela comandava, mesmo a bichinha não tendo capacidade. Mas, vá lá, a menina tinha capacidade para obedecer, e isso já bastava. Nesse sentido, o pobre secretário, estava mais perdido do que cachorro quando cai do caminhão de mudança. Acompanhava a tudo trêmulo, pálido, mais branco do que uma vela. 

O baculejo durou umas duas horas. Quando tudo acabou, o José Bial correu para a casa da sua madrinha Elisabete III. Essa, já sabendo do que tinha acontecido, muito nervosa, nem deixou o pobre rapaz entrar na sua casa. Do interfone, falou que estava orando e que ás 20h o procuraria na casa secreta - local bem escondido onde a Grã Marquesa guardava documentos comprometedores e alguns objetos de valor.

A santa passou todo aquele dia orando e agradecendo a Deus pelo livramento. Temia que a S.W.A.T fosse também em sua casa. Aí seria o fim. Enquanto orava, foi tratando de juntar documentos, aparelhos celulares, dinheiro... Separou tudo em uma caixa e mandou seu motorista levar para sua casa secreta onde morava um fiel escudeiro de sua inteira confiança. "Obrigado meu Deus por não ter deixado esses cães dos infernos virem em minha casa. Esse seria o meu fim" - repetia a santa com os joelhos brancos no chão.

A noite, a santa pediu ao seu esposo que ficasse em casa enquanto iria resolver uns problemas. "Meu amor, fique em casa e não saia por nada. Vou resolver aquela situação e não tenho horas para chegar. Fique de olho nas câmeras e preste atenção nas pessoas que passam em frente. Não abra o portão para ninguém" - ordenou a santa. Já no seu carro, ligou para seu namorado e combinou de encontrarem na saída da casa secreta às 21 horas. Namorado? Sim, o que você tem com isso? A santa merece ser feliz!

Às 20h, como combinado com seu pupilo José Bial, chegou à casa secreta e iniciou logo a conversa. "Meu amigo, não se preocupe. Esses cães só querem dinheiro e se for preciso, nós daremos. Não diga nada a ninguém, não fale com jornalistas, não escreva nem uma notinha. Fique calmo que eu vou resolver tudo" - ordenou a Grã Marquesa com segurança e frieza. José Bial chorou, lamentou mas, no final confiou em sua santa. Recebeu um abraço de consolo e foi pra sua casa descansar. Afinal, aquele tinha sido um dia de cão. Agora se sentia mais aliviado e seguro com as palavras da santa. Apesar do numero de documentos levados de sua casa e do seu gabinete, a santa havia garantido que o que tinha de comprometedor estava bem guardado numa caixa em lugar seguro naquela casa onde estavam.

Como combinado, a Grã Marquesa saiu às 21h do seu esconderijo e a dois quarteirões, num ponto sem iluminação, parou seu carro para seu namorado entrar. Foram para outra casa secreta para relaxar, amar  e tomar whisky. Antes que você, leitor maldoso me questione o fato da santa tomar whisky, já que é evangélica, vou logo te adiantando: ela merece e pronto. Você não tem nada a ver com isso. 

Extasiada, a santa voltou para casa as duas horas da madrugada onde encontrou seu marido sentado numa poltrona em frente ao monitor de 50 polegadas vigiando a rua pelas câmeras. Ordenou que ele fosse dormir no quarto de hóspedes pois estava muito exausta e precisava ficar sozinha. Entrou para seu quarto e dormiu como um anjo. Ou melhor: como uma santa.

sexta-feira, 22 de março de 2024

EDUCAÇÃO - VIREI DIRETOR(A). E AGORA?

           

Antônio Carlos é professor de História há 14 anos. Sempre vivenciou de perto os problemas das cinco escolas que trabalhou durante esse tempo. Por diversas vezes, atuou como voluntário para ajudar o diretor em situações como a prestação de contas do Conselho, organizar reunião de pais, dar suporte pedagógico aos professores mais novos, ajudar na matrícula, entre outras tarefas. Sabe o quão difícil são as responsabilidades de um diretor, principalmente num meio onde a educação não é tão prioridade como dizem.

O professor Antônio Carlos, como um bom observador, analisava o trabalho e o comportamento dos seus gestores. Ajudava de forma voluntária e de boa vontade, mas, mantinha um olhar crítico ao ver que muitas coisas não davam certo. “Se fosse eu, resolveria esse problema em dois tempos”. “Não entendo como o diretor Fernando nunca conseguiu resolver isso”. “Parece que tem gente que gosta de problemas”. “Essa diretora é procrastinadora. Desde o inicio do ano que estamos com as centrais do bloco C sem funcionar e ela nunca resolveu”. “Um dia vou ser diretor pra mostrar como as coisas funcionam – comentava ou pensava com seus botões.

Há uma frase que ninguém sabe ao certo de quem é, pois aparece com diversos nomes de autoria, que diz o seguinte: “Tenha muito cuidado com o que você quer, deseja ou fala. Pode trazer para sua vida coisas que jamais quis de fato”. Antônio Carlos era realizado como professor. Amava o seu trabalho e tinha o reconhecimento de toda a comunidade escolar. Mas via a gestão escolar como algo que significava ascensão na sua carreira. Almejava ser diretor e idealizava uma realidade totalmente diferente do real. Nos seus pensamentos, se via sentado numa poltrona de couro preto atrás de uma luxuosa mesa de mogno com várias gavetas. Sua ampla sala, cuidadosamente decorada ao estilo moderno, seria o seu centro de comando onde tomaria grandes decisões e atenderia toda a comunidade escolar. “Serei um diretor de portas abertas e atenderei a todos a qualquer hora. Jamais serei um burocrata” – comentava com alguns colegas de trabalho.

Eis que num dia chuvoso do mês de fevereiro, estava em sala de aula e recebeu uma mensagem que lhe deixou inquieto. “Quando puder, me ligue. Tenho uma proposta para você”. Quando o professor Antônio Carlos viu quem era a autora da mensagem, foi tomado por uma intensa ansiedade. Nem esperou terminar a aula que estava ministrando. Pediu licença aos alunos, disse que tinha um problema urgente para resolver e se dirigiu para a sala dos professores. Ligou imediatamente para a Diretora Regional de Ensino. Seu coração quase sai pela boca quando ouviu a proposta. “Professor, vou direto ao ponto. Quero que você assuma a gestão da escola Professor Silveira Rocha. Pense e me dê a resposta até o final dessa tarde. Passe na diretoria para conversarmos".

A partir desse momento, o professor Antônio não conseguiu mais se concentrar. Pediu licença a sua diretora e disse que não se sentia bem. Precisava ir para casa. Há muito esperava por uma oportunidade dessa. E ela veio de forma inusitada. Teria que tomar uma decisão rápida. “Logo a escola Silveira Rocha? Uma das maiores da rede? Será que vou dar conta?” – pensava angustiado.

O professor Antônio Carlos pensou, pensou e decidiu. Pegou a sua moto e se dirigiu a 51ª Unidade Regional de Ensino. Às 17h53 deu o seu sim à Diretora que, instantaneamente fez os trâmites para a nomeação do novo diretor. Com uma semana depois, a escola Professor Silveira Rocha já tinha um novo diretor. E assim, começou uma nova e desafiadora jornada na vida profissional do empolgado e dedicado professor Antônio.


Bem-vindo ao mundo real



A escola Professor Silveira Rocha, era uma das maiores da rede estadual da cidade. Com mais de 900 alunos matriculados, tinha problemas que já se acumulavam ao longo dos anos. O prédio tinha uma ótima estrutura, mas, sem uma manutenção adequada, foi se deteriorando em todas as áreas. Telhado com goteiras, paredes com infiltração, rede elétrica que dava curto circuito constantemente, mobília inadequada... Mas, todos esses problemas pareciam pequenos diante das outras questões. A escola ficou sob o comando de uma gestora que não tinha habilidade administrativa, muito menos pedagógica. Assim, criou-se um ambiente hostil, com servidores desmotivados, sem gerenciamento, e, com falta de clareza dos objetivos. A escola sequer tinha o PPP – Projeto Político pedagógico.

No primeiro dia de gestão, o professor Antônio decidiu fazer um tour pela escola para ver de perto toda a estrutura. Por ironia do destino, só havia entrado na escola uma vez, na ocasião dos jogos estudantis, onde fora palco das principais partidas devido sua boa estrutura esportiva. Agora, estava ali como gestor, com um olhar diferente e atento a todos os detalhes. Seu José, o vigia mais antigo, dona Joaninha, a responsável pela limpeza, o professor Geraldo de História e a coordenadora Viviani acompanharam o novo diretor nesse tour. Em cada espaço, iam apresentando os problemas numa lista que parecia interminável. Antônio ia anotando tudo na sua agenda e assinalando os mais graves e urgentes. Em cada ambiente ia ficando mais angustiado. Já estava acostumado com os problemas quotidianos que uma escola apresentava, porém, essa escola ultrapassou tudo o que já tinha visto.

A escola não tinha quase nada, nem o básico para o funcionamento de uma unidade escolar. A cozinha, parecia mais um espaço abandonado. Ampla, com espaços de depósitos, porém, não tinha panelas suficientes para a preparação da alimentação escolar, e o único fogão estava funcionando pela metade. O depósito estava quase vazio e o estoque não dava mais nem para dois dias. Na secretaria, havia apenas um velho computador ultrapassado e umas prateleiras enferrujadas de ferro. As salas de aula também não eram nada agradáveis. Carteiras velhas e insuficientes, paredes pichadas, lousas manchadas. Sem contar com as velhas centrais de ar que não funcionavam. Além dos problemas materiais, a escola tinha uma minúscula equipe de manutenção. Apesar de ter 12 salas de aula e mais de 900 alunos, tinha apenas duas funcionárias para a limpeza, uma merendeira e um vigia.

Por falta de segurança na escola Professor Silveira Rocha, os vândalos adentravam no espaço nos finais de semana e, além de depredar, roubavam fios, canos, lâmpadas, deixando a situação ainda pior.

Já era próximo ao meio dia, quando finalmente Antônio Carlos conseguiu entrar na sala do diretor. Agradeceu a equipe que lhe acompanhava e pediu para ficar por um instante só. Entrou naquela sala pequena, escura e desorganizada. Trancou a porta para garantir privacidade e se jogou na velha cadeira giratória que havia atrás de uma velha escrivaninha. Olhou ao redor com olhar atento e percebeu como aquele espaço representava bem a atmosfera da escola. Um ambiente sombrio, desorganizado, com objetos entulhados por todos os cantos, mobília velha e aspecto de desleixo. O cheiro que predominava ali era uma mistura de mofo com alcatrão. O professor – agora diretor – Antônio, sentado na velha cadeira com o encosto solto, chorou. Pensou em desistir, em sair dali correndo e voltar para sua rotina de professor onde era feliz e não sabia.

Enxugou as lágrimas, respirou fundo e ponderou. “Não posso abandonar esse velho barco agora no meio da tempestade. Calma Antônio. Isso é só o começo. Você consegue!” – disse em voz alta como se quisesse convencer a si próprio.

O diretor sabia que tinha uma infinidade de problemas para resolver, de incêndio para apagar e outros para evitar. Imediatamente começou a anotar todas as ações, todas as dificuldades, todas as propostas de mudança, todas as parcerias necessárias e, o mais importante: para cada ação colocou plano A, B, C e D. Não desistiria. Identificou vários problemas da unidade escolar que se acumularam simplesmente pela falta de gestão, como por exemplo: falta do Projeto Político Pedagógico (PPP), falta de organização do Conselho Escolar, falta de entrosamento da Coordenação Pedagógica com a administração, falta de entrosamento com a comunidade escolar para desenvolver o sentimento de pertencimento a escola, falta de ações pontuais para organizar o espaço escolar, entre outros. Viu que por falta da regularização do Conselho escolar a escola deixou de receber verbas dos programas estaduais e federais que poderiam resolver as questões de infraestrutura e da falta de material.

O diretor Antônio também percebeu que muitos problemas dependiam diretamente da secretaria Estadual de Educação. Perguntou à secretária da escola o que já havia sido feito. Ouviu como resposta que vários ofícios já foram encaminhados e que as autoridades tinham ciência dos problemas da escola. Porém, nunca obtiveram respostas.

Debruçou-se sobre uma pilha de papéis e ficou ainda mais assustado. Lembrou do que havia dito anteriormente: “jamais serei um burocrata”. Ledo engano! Percebeu na prática que a burocracia fazia parte do processo de organização em sistemas públicos. Descobriu que não tem como lidar com a vida de estudantes, de funcionários nem com finanças públicas sem seguir um roteiro cheio de protocolos.

Será que o professor Antônio Carlos, excelente educador, será também um excelente gestor? Será que conseguirá resolver os graves problemas da escola Professor Silveira Rocha?

O tempo dirá.


(...) cONTINUA

quarta-feira, 13 de março de 2024

DARCI APRESENTA RAFAEL RIBEIRO AO PT E CAUSA BAIXA IMPORTANTE NA LEGENDA

Depois da última visita do governador em Parauapebas, na ocasião da inauguração da reforma da escola Eduardo Angelim, o cenário político tomou novo rumo. Durante o seu discurso, Helder Barbalho causou mal estar no prefeito com a história dos caititus e dos blogueiros vazios. (Leia a matéria aqui).

Depois disso, o governador chamou as suas lideranças de Parauapebas (Kenyston, Braz, Rafael e Darci) para um café sem açúcar e bateu o martelo em torno do nome de Ivonaldo Bráz, que, segundo ele, tem mais condições e experiência para barrar a sanha da oposição e ganhar as eleições. 

O prefeito Darci, não gostou nem um pouco de ser contrariado e resolveu peitar o governador e mostrar a ele quem é que manda nessa joça. Entrou em campo para procurar um partido para seu pupilo Rafael Ribeiro. E não deu outra. Foi ao PT, partido que, mesmo ele tendo se desfiliado em 2016, continua tendo total influência. 

A reunião com o diretório petista aconteceu no último sábado, 09 de março. Rafael Ribeiro foi apresentado como candidato a ser apoiado pelo PT. Há inclusive a possibilidade do Rafael se filiar ao PT ou se candidatar pelo PSDB e fazer dobradinha com o PT. Tudo está na mesa de negociação e deve se acertar nos próximos dias.


Baixa no PT


Quem não gostou nem um pouco dessa negociação foi o professor Raimundo Neto. O mesmo, tinha colocado seu nome a disposição como opção para candidatura do PT. A apresentação foi fruto de um debate entre um grupo importante de filiados que acham que já chegou a hora do PT sair da sombra do Darci e apresentar candidatura própria. 

O diretório do PT resolveu ignorar o nome do Raimundo Neto e, sem ao menos dialogar, reuniu quase secretamente e abriu as portas para os planos do Darci. Acontece que Neto não está sozinho. Além de ser um nome histórico no partido, tem um grupo grande que deve lhe acompanhar na sua decisão, e não apoiará a decisão do diretório. 

Veja abaixo a carta de desfiliação que o professor Raimundo Neto apresentou ao Partido dos Trabalhadores de Parauapebas:


Há cerca de 40 anos, iniciei minha militância no Partido dos Trabalhadores – PT, ainda muito jovem, nos anos finais da ditadura militar, na década de 80. Na época, morava em Imperatriz.

No início dos anos 90, mudei-me para Parauapebas, onde continuei minha militância no PT, sendo este o único partido ao qual fui filiado, permanecendo até ontem, 12.03.24. Após tanto tempo de engajamento, tudo tem seu fim.

Minha decisão de sair deve-se à profunda incompatibilidade entre meu pensamento e o dos dirigentes locais do PT sobre as próximas eleições. O PT local recusou-se a seguir o calendário interno estabelecido em seus próprios atos normativos.

Por esses motivos, decidi deixar o partido. Continuarei firme com minha ideologia de esquerda, mantendo-me como sempre fui, moderado.

Expresso minha eterna gratidão aos companheiros e companheiras que me acolheram durante esses anos de militância.

Raimundo Oliveira Neto


terça-feira, 12 de março de 2024

A TOMADA DO PODER EM BROGODÓ

Os vampiros de Brogodó - Episódio II

 

Esse é um conto de ficção. Qualquer semelhança com a realidade será coisa de sua cabeça

        

        

Tudo caminhava com a devida normalidade na cidadezinha dos confins do mundo no interior da Pensilvânia. Velhos vampiros de Brogodó se revezavam no cargo de prefeito e conduziam a política de forma que o povo acreditasse que tinha participação ativa no processo político. Ledo engano!

        Brogodó respirava política todos os dias do ano, mas quando chegava no ano eleitoral, a coisa pegava fogo literalmente. Os eleitores agiam de forma passional e defendiam com unhas e dentes seus políticos. Se envolviam com tamanha paixão que, as vezes dava até morte. Velhos amigos viravam inimigos; familiares brigavam entre si; casais se separavam. Tudo fazia parte de um jogo envolvente dos vampiros para que aquele povo se sentisse parte do jogo. No fundo, quase todos eram manipulados e estavam no mesmo saco defendendo os interesses dos vampiros contra os seus próprios.

        A cada eleição, os vampiros promoviam dantescos espetáculos e transformavam a disputa num picadeiro, usando e abusando da política pão e circo. O povo se divertia e, muitos aproveitavam para ganhar um dinheirinho ou até mesmo objetos como: óculos, tijolos, telhas, sacas de cimento, cesta básica, dentaduras, etc. Muitos desempregados ou desocupados aguardavam esse momento para conquistar o trabalho dos sonhos que era balançar bandeira nos cruzamentos e acompanhar os políticos nas passeatas e comícios. A ordem era aplaudir e gritar palavras de ordem, independente do que o político falasse. Bastava o sujeito subir no palanque e dizer “boa noite brogodoenses”, já se ouvia gritos histéricos e palavras desconexas como “lindoooo!” “Maravilhosooo!” “Te amooo!”.

        Uma minoria quase insignificante lutava bravamente para mudar aquela situação. Esse grupo era composto majoritariamente por trabalhadores rurais, operários das minas de diamante e alguns intelectuais como, advogados, administradores, engenheiros, padres, e, muitos, muitos professores. Pregavam uma Brogodó para todos com justiça, paz e equidade. Denunciavam a corrupção, as tramoias políticas e os acordos nefastos entre executivo e legislativo. Faziam muitas reuniões e construíam planos para retirar Brogodó das garras dos vampiros. No início, falavam quase que exclusivamente para eles próprios e quase ninguém os levava a sério. Aos poucos, a plateia foi crescendo, mesmo que por curiosidade. Alguns falavam: “vamos lá ouvir o que aqueles malucos estão falando”.

        Esse grupo de opositores foi crescendo, crescendo, ocupando vários espaços até que ficou grande. Se antes as pessoas ouviam com descrédito e desdém, agora já tinha um numero significativo de pessoas que aderiam às ideias e tomavam consciência de que poderiam se unir e derrotar os vampiros. Aquela ideia de que a família vampiresca dos Salins era imbatível, ia perdendo força e, no fundo do túnel começava a aparecer uma luz verde.

        E aconteceu o que muitos duvidavam. O ano era 1940 do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus. Ano eleitoral onde os vampiros esperavam confiantes por mais uma eleição “normal” como era de costume. Um velho vampiro, chefe do clã dos Salins que há muito dominava Brogodó sucederia sua mulher que já estava há dois mandatos no poder enquanto seu marido se aventurava por outras bandas. Tudo parecia normal.

        Normal, mas nem tanto. Na eleição para escolha do governador da Pensilvânia que ocorrera há dois anos, os vampiros de Brogodó tomaram o maior susto. Uma mulher quase desconhecida, candidata ao governo pela oposição, deu uma surra no candidato dos vampiros e, só não se elegeu porque sua votação expressiva só se deu em Brogodó. Esse foi um aviso que fez com que a vampirada reforçasse sua defesa e atacasse ainda mais aquele grupo de oposição considerado até então inofensivo.

        Pois muito bem. Voltemos a eleição de 1940. A campanha começou fria até que foi esquentando. A oposição aos vampiros foi tomando corpo e, sem dinheiro, sem estrutura, foi se espalhando como rastro de pólvora. De repente, a cidade inteira foi invadida pela cor lilás que representava a cor do grupo de oposição batizado de BROGODÓ PARA TODOS. A cada comício, a cada passeata, cada carreata, era surpreendente ver como aquele grupo crescia. Foi a campanha mais bonita e apaixonante que Brogodó já vira até então. Muitos até falavam empolgados que aquela era a campanha mais bonita de toda a Pensilvânia ou, quiçá do país.

        A campanha contra os vampiros de Brogodó seguia firme e mais empolgante a cada dia. O candidato representante da oposição foi escolhido pela sua simplicidade, sua simpatia, mas, principalmente devido ao seu carisma de se comunicar com o povão. Dizem as más línguas que ele não tinha a menor ideia do que fosse administração nem governo, e, além de tudo era desorganizado e desleixado até com sua vida pessoal. Mas, seu talento de se comunicar com o povo dava gosto de ver. Era daqueles que saia de casa de manhã para comprar pão para o café e voltava a noite sem os pães, mas cheio de histórias sobre as conversas que tivera com as pessoas na rua. “Eis aí o nosso candidato ideal. No quesito administração, nós daremos um jeito. Nós montaremos uma equipe técnica competente e com habilidade para governar. O Vavá será nosso passaporte para ganhar as eleições dos vampiros. Vamos furar essa bolha” – dizia empolgado o professor João Paulo, líder da oposição.

        Ia tudo muito bem na campanha mais empolgante e bonita de toda a história. O candidato Vavá, a cada dia empolgava mais os eleitores. No início, tinha dificuldade para discursar, mas logo pegou o jeito e, falava por horas para uma multidão cada vez mais entusiasmada. Mas uma coisa começou a deixar os líderes da oposição com uma pulga atrás da orelha. É que apesar do grupo não ter dinheiro e ter que fazer vaquinha até para comprar água, de repente, começou a aparecer uma fartura de material. A multidão que lotava os comícios, aparecia em peso de camiseta lilás e portando bandeiras. Quem comprou? Quem pagou? Ninguém sabia. O Vavá dizia que o povo estava comprando com o próprio dinheiro. Do nada, aparecia um cantor famoso para animar o showmício. Quem contratou? O diretor do comitê não sabia. No palco, a coordenação do evento muitas vezes percebia rostos estranhos àquela campanha. “Quem é esse com cara de barão? Não conheço”. “Quem é esse do chapelão com pinta de latifundiário? Nunca vi mais gordo”. “E essa madame com jeito esnobe, seria uma espiã? Não conheço, mas a bicha é bonita! Deixa ela aí. Pelo menos enfeita nossa campanha”. E o Vavá, sempre muito simpático, muito solícito, ia agregando a todos. No final da campanha, havia mais gente estranha acompanhando-o do que seus próprios amigos e companheiros de partido. Mas, o mistério continuava. Ninguém sabia de onde vinha tanto dinheiro, tanto material e tantas atrações caras. Mas naquela altura do campeonato, era bom nem perguntar. Todos estavam empolgados demais para se preocupar com detalhes sem importância.

        Eis que chegou o dia da eleição. Mesmo com os ataques violentos dos vampiros, o grupo de oposição deu uma lavada e venceu com folga. Mesmo já completando vinte anos, lembro-me como se fosse hoje a explosão de alegria e o clima de empolgação e esperança que tomou conta de Brogodó. Era festa pra todo lado. Até alguns fazendeiros que antes se declaravam inimigos daquele “bando de baderneiros comunistas” – como costumavam se referir ao grupo do Vavá – doaram vacas para o churrasco. Empresários empolgados comemoravam e se diziam ser Vavá desde criancinha. Foi uma vitória para lavar a alma daquele povo sofrido que resolveu, como num passe de mágica, abrir os olhos e se livrar de uma vez por todas dos vampiros.

        Será?


        Segue no episódio III

       

terça-feira, 5 de março de 2024

OS VAMPIROS DE BROGODÓ

 

PARTE I


No ano de 1924 da era do Nosso Senhor Jesus Cristo, o povo se preparava para uma nova eleição em Brogodó, uma cidadezinha enigmática, encravada nas montanhas de diamante no Estado da Pensilvânia . O nome, considerado esquisito por muitos, era uma justa homenagem ao igarapé que cortava a cidade e, outrora, servia como fonte de lazer e garantia água limpa para a população. Devido a má gestão de Brogodó, o igarapé agora era apenas um corredor de águas fétidas carregadas de clorofórmio fecal.

        Devido a grande atividade mineradora nas montanhas de diamante de Brogodó, a prefeitura tinha uma receita maior do que muitos Estados americanos. Mas, o que era para ser uma bênção, virou uma maldição para o povo brogodoense que vivia numa constante contradição. Tanta riqueza gerada e o povo vivia numa pobreza que dava dó. Eu explico essa contradição: devido as vultuosas quantidades de dinheiro gerada pela mineração, Brogodó atraiu vampiros de todos os cantos do país. Esses vampiros, disfarçados de homens de bem, descobriram um método para se revezar no poder de Brogodó e assim, sugarem todo o sangue do povo e suas riquezas.

        E o povo, de tanto ter o sangue sugado, estava apático e sem condições de reagir ao sistema implantado pelos vampiros. Alguns, até tentavam reagir, ameaçavam tomar o poder dos vampiros, mas, no final, como num encantamento vampirístico, todos agiam como bobalhões, paspalhões e acabavam contribuindo para que os vampiros permanecessem no poder. E assim, Brogodó continuava se afundando cada vez mais num círculo vicioso.

        A cada eleição, a história se repetia. Os não vampiros se uniam para expulsar os vampiros do poder. Os líderes não vampiros, espumando de ódio, prometiam vingança. “Dessa vez, vamos nos unir e botar esses vampiros ladrões de sangue para correr. Chega de roubalheira” – dizia seu Raimundo do mercadinho. “Vou votar em um cachorro, mas não voto mais nesse FDP chifrudo” – ameaçava seu Paulo da farmácia. “Agora chegou a hora do povo dar o troco. Vou botar pra torar nesses sanguessugas nojentos. Vamos nos unir meu povo. Não podemos esperar. A nossa hora é agora” – esbravejava com valentia o pré-candidato Zé Boca de Burro fingindo lacrimejar no olho esquerdo.

        Será que esse ano seria diferente?

        No fundo, bem lá no fundo, os não vampiros não tinham bons propósitos para Brogodó. Queriam apenas ocupar o lugar dos vampiros para continuar sugando o sangue do povo. E o povo? Ah, o povo! Esse era um capítulo a parte. Quando chegava o período eleitoral, aqueles que viviam ameaçando fincar uma estaca de madeira santa no peito dos vampiros, faziam filas nos comitês para oferecer seu trabalho como cabos eleitorais para ajuda-los, em troca de algum benefício ou até vãs promessas. E assim, tudo se repetia eleição após eleição.

        Já foram registrados casos em Brogodó de políticos não vampiros que conseguiram furar a bolha e chegar ao poder, mas foram mordidos pelos vampiros e se aliaram, tornando-se até piores. Mas, esse será um novo capítulo dessa história.