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quinta-feira, 22 de agosto de 2019






O CAMINHO DAS ESTRELAS: MISTÉRIOS, AVENTURAS E APRENDIZADOS NO CAMINHO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA.

A pedido dos amigos, disponibilizo aqui o prefácio que acabou sendo um resumo do meu livro. Lançamento previsto para setembro. Uma pequena amostra para degustação. 
PREFÁCIO


Este livro vai revelar a você dois caminhos: um que leva a Santiago de Compostela; o outro, que conduz ao coração de um homem.
Todo ser humano que sai à procura de alguma coisa já a carrega dentro de si. Por isso que uma busca não é uma busca -- é uma revelação. Como aconteceu a Cristo, que muito pregou -- mas só após a cruz fez a ascensão. Ou com Buda, que tanto caminhou -- mas sentado é que chegou à iluminação.
A imagem da busca é a de alguém que segue um caminho. A realidade da busca é a de um caminho que prossegue em alguém.
Mas os caminhos -- de chão, de pedra..., existentes ou a se criarem -- são necessários. Pois o que eles são, feitos em terra, e como eles estão, delineados em nossa mente, contribuem fortemente para sensibilizar, energizar e motivar o ser para a jornada.
Os bons caminhos raramente são fáceis. No percurso deles há sempre obstáculos -- geralmente muitos, frequentemente grandes. O das Índias, tinha o Atlântico. O de Ícaro, o Sol. O de Drummond, a pedra.
O caminho de Vieira -- o Luiz, professor, não o Antônio, padre – tinha tudo isso e muito mais. Para Luiz Vieira, autor deste “O Caminho das Estrelas”, o problema não era o oceano (que ele venceu de avião), nem o sol (que chapéu e protetor anteparavam) ou a multidão de pedras (de que se desviava). O problema eram os “outros” problemas: o desconhecido, a inexperiência, o(s) idioma(s), os costumes e até o antinatural, quando não o sobrenatural... Sem falar nas ansiedades, nas angústias, nas inquietações, no autoquestionamento (tipo “O que é que eu estou fazendo aqui?”). E o que dizer dos sonhos e pesadelos e das estranhas situações ou sensações de irrealidades e pararrealidades, quando não se sabe se se está desperto ou se se delira, quando não se sabe se pessoas e animais, ambientes e cenários são coisas reais dentro de um sonho ou se são fantasias e fantasmas dentro de uma realidade...
Nenhum homem é feliz sem um delírio de algum tipo. Os delírios são tão necessários para a nossa felicidade quanto a realidade”, reconhecia Christian Nestell Bovee, escritor americano. Não creio que Luiz Vieira delirava quando, após ler um livro sobre o Caminho de Santiago, prometeu-se a si mesmo percorrê-lo -- e, agora, muda da condição de leitor para a de autor de uma obra compostelana.
Vieira - ele mesmo escreve - queria aventura. Outros fazem o Caminho pela História, pela Cultura, pela Mística, razões bem mais humanistas do que as humanas esperanças e o pagamento de promessas ligadas a dinheiro e poder, saúde e prazer; e bem mais pias que as caridosas - e caras – indulgências com que, desde o século 3 “et multa saecula”, pecadores ganhavam oportunidade de reparar os males advindos de seus pecados para, lá adiante, limpar a própria alma e ganhar um terrenozinho no bem loteado Céu daqueles idos...
Se era aventura o que inicialmente desejava Luiz Vieira, ele recebeu muito mais. Parte desses ganhos ele guarda consigo; outra parte, e não é pouco, ele a divide aqui com os leitores. Divide sua ansiedade inicial, feliz, e os iniciais “tropeços” de primeira viagem, porém firme no propósito, empedernido igual a “burro xucro”.
O livro conduz o leitor a vivenciar o Caminho a partir do frio de zero grau nas montanhas franco-espanholas; a caminhar toda Zubire, uma cidade de só duas ruas; a ver/ouvir o burburinho da trimilenária Pamplona.
Mais adiante, ficamos sabendo da pessoa do autor e da pessoa de outras pessoas. Do autor, seus sonhos e sofrimentos; de outros, saberemos de “Seu” Franco e sua sabedoria franca, seu sorriso franco. Saberemos de “Seu” Paulo, fadiga e fome, pão e palavras.
À medida que caminha, Luiz Vieira nos encaminha, empresta-nos seus olhos, entreabre a mente, apresenta-nos de mais de perto quem ele viu, conheceu, conversou pelo Caminho: por exemplo, nos deixa saber, em Torres del Rio, de uma bruxa no quarto; da dor e redenção nas histórias de Maria, 80 anos; de uma neoamiga neozelandesa.
Em Azofra, apresenta-nos melancolia, desânimo... e Papai Noel. Mostra-nos os pés muito feridos e relata uma cura inesperada. O encontro com um espanhol bom de prosa. A catedral de Burgos, onde Luiz concorda com a beleza da igreja mas, cabreiro, discorda do “pay to pray” (pagar para rezar).
À medida que caminha, o autor mais no encaminha. Quando seus olhos perscrutam o Caminho, eles nos dizem de natureza e vastidão, beleza e solidão. Quando passa por lugares e se assenta em restaurantes e bares, quando faz pouso em beliche coletivo ou repouso em cama individual, quando se abanca em bancos de praças e ruas... de tudo isso dá conta o olhar vieirano.
Mas o radar humano do autor gosta mesmo é de emitir ondas emocionais, permeáveis às cargas de energia e sensibilidade emanadas de gente. É como se Luiz Vieira fizesse coro com Públio Terêncio Afro, poeta e dramaturgo da Roma de 22 séculos atrás: “Sou humano, e nada do que é humano me é estranho...”
E é nas histórias humanas que o autor vai (se) desentranhando e “desestranhando”. Luiz Vieira se junta a outro ser para com ele sentir e para dele saber. E para nos contar colorida e doloridamente da história de Lorenzo, em León, onde o autor vivenciou a mendicância e por horas, entre uma esmola e outra, ouviu relatos de uma vítima de crises econômicas além-Atlântico, crises que teimam em tornar coletivas as dores que são vividas individualmente, cotidianamente.
Outros relatos levam a experiências com personagens misteriosos (que nem a enigmática Ana, com seus exercícios e lições) e até o que não é “persona”, como o estranho cão no caminho de Palas de Rei.
Particularmente sensível à beleza, Luiz Vieira se deixa levar e enlevar pelo que lhe entra pelas vistas como imagens e lhe sai pelos dedos em palavras: a simplicidade do quarto e catre onde ele dormiu e onde o santo de Assis pode ter estado; o castelo de Gaudí, de 120 anos; a tradição do ritual da queimada; e o alumbramento com a “imponência” da catedral de Santiago de Compostela, onde abraços se deram e lágrimas se derramaram ao som de hinos e cheiro de incenso.
*
Este livro nos leva, literalmente, ao fim do mundo -- como o acreditavam os viventes do século 15, tanto que deram o nome de Finisterra (“fim da terra”) a um lugar para além de Compostela. O autor foi até lá, e nos levou a esse fim -- que ele não é de deixar nada pelo meio do caminho...
Há muito se sabe que nem todo caminho leva a Roma. Diversos levam a Jerusalém e alguns poucos verdadeiramente levam à maior das distâncias e ao mais desconhecido dos destinos: o interior de si mesmo.
A partir de um caminho exterior, Luiz Vieira fez sua jornada mais íntima. E chegou à Galícia, a Compostela, por uma das rotas mais desafiadoras, oitocentos quilômetros a pé, começando na França, nas faldas da cordilheira dos gelados Pireneus.
Não são muitos os caminhos que levam a Santiago de Compostela.
O mais novo deles é este livro.
Mais novo -- e melhor.
Deixe-se levar...
Edmilson Sanches



sexta-feira, 26 de abril de 2019

CORAÇÃO BOBO


Num dia qualquer, enquanto relaxava de mais um dia intenso de trabalho, uma moça me sai com essa:
- (...) seu coração bate esquisito!
- Como assim, esquisito? – indaguei.
            Ela escutou mais um pouco com ar de enfermeira e perguntou:
            - Há quanto tempo você não faz um checkup?
            - Fiz no ano passado – respondi.
            - Fez eletrocardiograma?
            - Não. Esse eu fiz há uns dois anos – respondi com sentimento de culpa.
            - Pois amanhã mesmo vou agendar uma consulta no cardiologista para você. Esse coração tá muito esquisito – sentenciou-a em tom severo.
            - Claro que não! Meu coração está perfeito. Minha pressão sempre foi 12X8 – minimizei o alarme.
Mesmo com minha resistência, sua insistência foi maior.  Em uma semana, lá estava eu no consultório particular de uma cardiologista examinando o coração. E eu que sempre tive uma excelente saúde, de me gabar que meus checkups não davam nem verme, de ter um fôlego de atleta, de nunca ter sentido absolutamente nada... fui surpreendido com esse diagnóstico:
            - O que está acontecendo com esse coração senhor José Luiz? – pergunta a médica observando o eletrocardiograma com cara de preocupada.
            - Não sei doutora. Não sinto nada de anormal.
            - Já sentiu dor no peito, tontura...?
            - Nada. Nunca senti nem dor de dente.
            - Faz exercício físico?
            - Sim. No mínimo quatro vezes por semana. Musculação e treino muay thai – respondi convicto.
            - E quando se exercita, sente cansaço?
            - De jeito nenhum.
            - Estranho. Seu exame mostra um problema na válvula aórtica. E, provavelmente você já sofreu um infarto – sentenciou a jovem médica num tom grave.
             Recebi esse diagnóstico como um soco no estômago. Senti minha cabeça girar e a garganta fechar. Até então, só havia recebido elogios dos médicos. “Você tem uma saúde de ferro!” “Seu coração é de leão”, “tem fôlego de atleta...” Aos 51 anos, recebi aquela notícia como uma sentença de morte. E para completar, a médica ainda disse que eu teria que procurar um grande centro para fazer um cateterismo. “Talvez consiga resolver só com medicamento; talvez seja preciso colocar uma válvula para corrigir ou até mesmo haja a necessidade de fazer uma cirurgia”. Essas palavras martelavam em minha mente que nem conseguia mais ouvir as orientações da médica bonitona. “Evite frituras, carnes gordas... coma bastante fibras...” “Ora bolas, nos últimos 10 anos de minha vida tenho me alimentado corretamente. Cortei tudo o que faz mal... A única coisa que não cortei foi a cerveja nos finais de semana, e as vezes em excesso”, - pensei encabulado.
            Com o ânimo bastante abatido, fui para casa atordoado, mas sem demonstrar a ninguém meu estado de espírito. Passei uma semana tentando levar uma vida normal, mas só conseguia pensar em minha morte. Nunca tive medo de morrer, mas de repente, me dei conta de que ainda havia um monte de coisas a fazer, muitas coisas a realizar. “Que droga! Agora que tenho a oportunidade de dar minha contribuição para transformar a educação de Parauapebas, vou morrer?! Não vou ter a oportunidade de ser avô...” Um filme começou a rodar em minha cabeça. Lembrei das aventuras e loucuras que já aprontei nessa vida, dos perigos de morte que já corri, do meu gosto pelo perigo e, inevitavelmente, lembrei das inimizades que cultivei.
            Instintivamente, comecei a agir como se vivesse o último dia da minha vida. Coloquei as contas em dia, liguei para amigos distantes, adiantei reuniões de trabalho, conferi e-mails... Até conclui a revisão do meu livro sobre o Caminho de Santiago que estava meio a passos de tartaruga.
            Passado o momento do susto e da angústia, coloquei minha vida nos trilhos. Preenchi minha mente com bons pensamentos e passei a encarar a situação de outra maneira. “Ora bolas, o que tiver que ser, será. Vou lutar, vou procurar um bom médico, fazer o que for preciso para recuperar esse velho coração. Se eu escapar dessa, Glória a Deus! Se eu morrer, morrerei feliz, sabendo que esse foi um propósito de Deus que me conduziu até aqui com dignidade e felicidade”.
             

***

            Segunda-feira, 22 de abril. Dia da Terra. Às 8h em ponto estou no Hospital Santa Genoveva (Uberlândia) em completo jejum para fazer o cateterismo. Feito os procedimentos iniciais, sou conduzido a uma sala de cirurgia com equipamentos futuristas assustadores. O médico pergunta se eu já havia feito esse procedimento. Respondo que será a primeira vez.
            Fecho os olhos e concentro-me para não sentir nenhuma dor ou inconveniente. Treinei isso desde a juventude quando precisei tomar seis benzetacil, e tem dado certo. Por volta das 11 horas, escuto a voz do médico: “Senhor José Luiz, tenho boas notícias. Não há nenhuma obstrução de artéria. Seu coração está perfeito! Só uma veia que passa por dentro da aorta, dando a impressão que está obstruída. Um pequeno ‘defeito’ de fábrica que não compromete sua saúde. Você vai precisar de uma semana de repouso e depois vá para casa. Abra um bom vinho e comemore.”
            “Uma veia que passa por dentro da aorta” – penso intrigado. Esse meu coração tinha que ser mesmo diferente! Ainda bem que o médico não descobriu que é de pedra! Apenas um coração bobo! Ufa! Não será dessa vez. Vida que segue. Vida plena e abundante.

____

Observação: o editor do blog ganhou vida própria e resolveu bagunçar a edição. Vai assim mesmo.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

O QUE DIZER AOS PROFESSORES?

A SOCIEDADE, COM SEUS MAUS EXEMPLOS, DESFAZ NOS ALUNOS O ESFORÇO EDUCATIVO DOS PROFESSORES?


Enquanto o aluno permanece na vida da escola QUATRO horas por dia, esse mesmo aluno, na escola da vida, passa as demais VINTE horas...

* * *

Início de ano letivo. Secretarias de educação e Escolas realizam seus eventos de planejamento, diretrizes etc.

Há oito anos, em 28/01/2011, a convite de gestores e professores, estive em Açailândia (MA) para proferir palestra de encerramento de semana pedagógica.

O tema dado e desenvolvido: "Os Desafios do Educador na Sociedade Contemporânea".

Prevista para duas horas, a pedido dos professores o tempo da palestra quase duplicou.

Passeamos por subtemas como Qualidade, Ética, Política, Motivação, Cidadania, O Professor, A Escola, O Aluno, A Aprendizagem, A Sociedade, Os Desafios...

Não é fácil a tarefa do Educador: em diversos, repetidos, muitos casos, as mentes que ele tenta "organizar" dentro da escola serão daqui a pouco desorganizadas lá fora.

O professor educa, a sociedade deseduca: da política bandida à violência gratuita, dos lares desestruturados ao crime (bem) organizado, tudo em termos de péssimos exemplos transborda e envolve a criança, o jovem, o aluno, que terá, em última instância, de buscar em si mesmo e em raros modelos, a força e sabedoria para escolher certo entre o Bem e o Mal, o Bom e o Ruim, o Justo e o Injusto, o Valor e o Preço...

Foram horas de palestra. Disse e refleti junto com as dezenas e dezenas de educadores presentes, que me pagaram bem -- com real interesse, atenção e carinho -- o tempo, esforço e recursos que despendi para lhes falar sobre o me pediram. A atenção de quem escuta é o salário invisível de quem fala.

"Educação" vem de "ex-" + "ducere". Ação de conduzir para fora. Fazer vir à tona o saber potencial que se encontra dentro de cada aluno.

Tarefa dura: enquanto, no mais das vezes, o aluno permanece na vida da escola QUATRO horas por dia, esse mesmo aluno, na escola da vida, passa as demais VINTE horas.

Essas vinte horas dividem-se com o sono, a família, os vizinhos, os amigos, a igreja, o clube social, as festas ou outras formas de diversão, a cidade, as ruas...

Após o tempo na escola, como o processo socioeducativo, que se deveria iniciar na família, está ocorrendo nos demais "ambientes"? 

O que está "aprendendo" -- e "ensinando" -- esse aluno?

Escola 4 X 20 Outros ambientes

A concorrência é, mesmo, grande...

EDMILSON SANCHES

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

POBRES BANCOS

SE UM BANQUEIRO PULAR DO ALTO DE UM PRÉDIO, SIGA-O: ISSO DEVE DAR DINHEIRO...

Neste 31/01/2019, o banco Bradesco acaba de divulgar seu lucro líquido apenas nos três últimos meses de 2018 (outubro, novembro e dezembro). 

Pois bem: no quarto e último trimestre o lucro líquido (isto é, depois de descontadas todas as despesas, inclusive folha de pagamento dos funcionários) foi de R$ 5 BILHÕES E 830 MILHÕES, em números redondos, TREZENTOS MILHÕES DE REAIS a mais do que previam os analistas do mercado.

Por sua vez, o banco Santander anunciou lucro líquido, no mesmo período, de R$ 3 BILHÕES E 405 MILHÕES, mais de DUZENTOS MILHÕES DE REAIS a mais do que os analistas esperavam.

Já o banco Itaú, de janeiro a setembro de 2018 (três trimestres), já havia lucrado (lucro líquido) nada menos do que R$ 19 BILHÕES E 047 MILHÕES.

O Banco do Brasil, do Governo Federal, teve lucro líquido de R$ 9 BILHÕES E 470 MILHÕES DE REAIS nos primeiros nove meses de 2018 (1º, 2º e 3º trimestres).

A Caixa Econômica Federal, nos primeiros nove meses de 2018, teve lucro líquido de R$ 11 BILHÕES E 513 MILHÕES. Este valor já é quase igual a todo o lucro da Caixa em 2017, que foi de R$ 12,5 bilhões.

O Banco do Nordeste do Brasil, instituição financeira regional também do Governo Federal, teve lucro líquido de R$ 332 MILHÕES E 470 MIL de abril a setembro (2º e 3º trimestres) de 2018.

Alguém já escreveu que fundar ou afundar um banco, não importa: dá lucro.

Por outro lado, um provérbio da Suíça chega ao extremo de recomendar (simbolicamente, claro) que, se um banqueiro pular do alto de um prédio, deve-se segui-lo, pois isso com certeza dará dinheiro...

Enfim, se você quiser pegar mesmo em dinheiro, seja caixa ou dono de banco... 

Pois, pelo visto, não importa o tamanho da crise, o lucro das instituições financeiras será maior.

EDMILSON SANCHES 
edmilsonsanches@uol.com.br

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

FAKE NEWS - SINAL DE DEFORMAÇÃO DA PERSONALIDADE

"...a boca fala do que está cheio o coração". (Mateus 12:34).

Com a tragédia recente de Brumadinho, ficou claro como boa parte da população brasileira é sensacionalista e adora tragédias. Um dos sinais disso é o grande número de fake news que circula pela internet. E tem para todos os gostos: vídeo mostrando o momento exato que a barragem estourou, foto de mulher grávida na lama, foto de um homem sujo de lama abraçando um bombeiro, foto dos soldados israelenses chamando os bombeiros brasileiros para orar (essa foi foda), e outras bobagens a mais. Parece que as pessoas sentem uma necessidade mórbida de dar a notícia de qualquer jeito e a qualquer custo e sai compartilhando tudo o que vê pela frente.

Como nasce uma fake news?


Geralmente nasce de uma mente doentia e carente que sente a necessidade de espalhar mentira simplesmente pelo vício de mentir e/ou para ganhar likes na internet. Essa prática pode até render um bom dinheiro para essas pessoas. Assim, esses "gênios" do mal ficam horas construindo as notícias falsas e pesquisando a melhor forma de deixá-las atrativas. Geralmente elas começam com o termo "Bomba" ou outra expressão sensacionalista, e terminam com a ordem "compartilhem...".  Porém, essas notícias falsas precisam ser viralizadas, senão não cumprirão seus objetivos. E quem são os responsáveis pela viralização?  Quem são os agentes que se encarregam pela disseminação das notícias falsas? Infelizmente são a maioria absoluta dos brasileiros. Uma pesquisa recente publicada no Jornal Folha de São Paulo mostra que 90% dos eleitores do presidente eleito acreditam em fake news. Confira aqui. Isso é trágico e desesperador e demonstra o quanto nossa sociedade precisa rever seus conceitos.

Qual o perfil de quem espalha fake news?


Antes, eu afirmaria que as pessoas que compartilham notícias falsas eram pessoas ingênuas e de baixa escolaridade. Quem tem mais de 40 anos deve lembrar de quando aparecia debaixo da porta uma carta anônima com alguma mandinga (oração ou mensagem exotérica), dizendo que o receptor teria que fazer 30 cópias e enviar para 30 pessoas, senão uma desgraça aconteceria em 10 dias. Com o advento das redes sociais, isso se tornou brincadeira de criança inocente. Hoje, os fake news são responsáveis por eleição de presidente e até por assassinatos de inocentes. E já não é mais exclusividade de pessoas ingênuas e desescolarizadas. Encontramos desde o analfabeto até o doutor que pratica esse crime.

Há pesquisas que indicam que a pessoa que espalha fake news tem algum desvio de caráter. Na Bíblia Sagrada encontramos uma explicação para esse fenômeno: "a boca fala do que está cheio o coração". (Mateus 12:34). Esse versículo tem muita lógica. Uma pessoa que compartilha vídeo ou foto de criança violentada com a desculpa de que está repassando para alertar, tem grande chance de ter algum comportamento - mesmo inconsciente - de pedófilo. Quem espalha com frequência imagens de violência com aquela pérola - "Espalhe sem dó até chegar as autoridades", - geralmente tem um perfil violento. Os que espalham conteúdos com difamação contra homossexuais, por exemplo, tem grande chance de ser um homossexual reprimido e enrustido. Não me levem a mal. Essas são indicações de pesquisas sérias que publicarei aqui e não se trata de uma regra. 

Uma pessoa só compartilha uma notícia falsa quando essa notícia é conveniente com o seu pensamento. Portanto, seguramente, podemos traçar o perfil de uma pessoa pelo tipo de conteúdo que ela compartilha. Um fã do Bolsonaro por exemplo, quando depara com uma notícia negativa sobre ele, filtra a informação, julga que é falsa e, às vezes até busca as fontes e checa a veracidade, e não sai compartilhando, mesmo que seja verdadeira. Agora, se a notícia for contra o Lula, dispara a tecla de compartilhamento sem nenhuma checagem. O mesmo acontece com a maioria dos fãs do Lula.

Já escrevi nesse blog uma matéria sobre esse tema, onde batizei de "cavalo do cão eletrônico". Leia aqui. É claro que nem todo mundo que espalha fake tem desvio de personalidade ou deformação moral. Algumas notícias falsas são tão perfeitas que enganam até os mais criteriosos. Quem nunca espalhou uma, que atire a primeira pedra. Nos próximos posts deixarei algumas dicas de como se livrar dos fakes e não fazer o papel de cavalo do cão eletrônico.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

BRUMADINHO - QUANTO VALE UMA VIDA?

SILÊNCIO


Temos 26 letras e com elas já escrevemos todas as cartas de amor e todas as declarações de guerra. Com elas falamos as palavras mais suaves e também dissemos as mais ásperas. E todas essas letras e palavras são insuficientes para dizer da dor... da morte... Da tragédia que está abaixo e além da lama.

Temos 10 algarismos, do zero ao nove, e com eles fizemos todos as contas astronômicas e todos os cálculos microscópicos. Com eles construímos quantidades de fortunas pessoais, percentuais de lucros empresariais... ao lado dos números nacionais e mundiai de pobreza, fome, miséria humanas. E todos esses algarismos e números não são bastante para subtrair a morte, diminuir a dor...

Temos 7 notas musicais e com elas compusemos todas as sinfonias mais celestiais e todas as músicas-grude mais "infernais". Com essas notas musicais embalamos todas as cantigas de ninar a vida que nasce e também escrevemos em partituras todos os réquiens de chorar a vida que se (es)vai. E todas essas notas são poucas, muito poucas, para reproduzir o universo sonante e silencioso dos ais de dor de corações e almas que se partem ante a morte que vive em corpos sem vida...

Temos inúmeros modos e maneiras, jeitos e "jeitinhos", atos e atitudes, ritos e rituais para nos expressarmos ante o imponderável da tragédia, da morte, da agonia da dor, da perplexidade da perda. Mas tudo -- letras e palavras, algarismos e números, jeitos e maneiras, ritos e rituais --, tudo é nada ante a hora derradeira, o momento último, o instante extremo, o suspiro final.

Silêncio
silênci
silênc
silên
silê
sil
si
s
ssssssss! Corpos dormem... 

Deixem o silêncio gritar...

EDMILSON SANCHES
edmilsonsanches@uol.com.br