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segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

ATAQUE TERRORISTA NA FRANÇA E A LIBERDADE DE IMPRENSA


Após o ataque na sede da revista de sátira Charlie Hebdo em Paris na França, nessa quarta (7), que deixou 12 mortos e 11 feridos, o mundo inteiro se manifestou sobre terrorismo e liberdade de imprensa. É claro que a imprensa brasileira e a ocidental destacou somente um lado da moeda. Todos aproveitaram um momento de comoção mundial para acirrar o discurso de liberdade de imprensa e referendar as medidas antiterroristas. Muitos se perderam na emoção e esqueceram da razão. Acompanhei atentamente a repercussão em vários setores da mídia, li vários textos pela internet e vi muito sensacionalismo. Um dos textos mais sensatos que li foi o do teólogo Leonardo Boff que fiz questão de reproduzir nesse Blog. Leia aqui. Ele apresenta de forma responsável, ética e inteligente uma visão mais realista dos fatos e suas consequências.

A revista Charlie Hebdo é famosa por ridicularizar políticos e religiosos através de sátiras e charges. Mesmo despertando a ira de muita gente, a revista tinha uma tiragem que nunca passou dos trinta mil exemplares. Depois do atentado, a grande comoção guinou a revista para uma tiragem espetacular de um milhão de exemplares. Cartunistas, jornalistas e editores de toda parte ocidental do mundo aproveitaram a ocasião para declararem em bloco que o atentado não foi só contra a Charlie Hebdo, e sim contra a democracia, contra a liberdade de expressão, contra a humanidade. Será que é tanto assim?

É claro que o assassinato de doze pessoas em qualquer parte do mundo e em qualquer categoria é motivo suficiente para grande comoção e repúdio. Ninguém, (NINGUÉM) tem o direito de tirar a vida do próximo seja por qual motivo for. Porém, não podemos analisar o fato de forma unilateral. Atacar a sede de uma revista e matar doze jornalistas é um ato tão abominável quanto ridicularizar a religião alheia. Não vi absolutamente ninguém citando as ofensas que a revista Charlie Hebdo sempre fez ao Islamismo. Não vi nem uma notinha contra a violência, contra o assédio moral, contra a humilhação que a revista fazia sistematicamente através de suas charges contra os imigrantes muçulmanos que vivem na França. Não vi sequer uma citação de repúdio pela forma desrespeitosa que a revista vinha agindo ao expor ao ridículo o Profeta Maomé. De repente a Charles Hebdo virou mártir, o símbolo sagrado da mídia, da liberdade de expressão.

Antes que me crucifiquem, - pois talvez eu seja um dos poucos que tenha a coragem de abordar o tema sob essa ótica - quero ressaltar que não estou defendendo o ato terrorista. Também fiquei comovido e indignado pelo brutal assassinato dos jornalistas. Sou contra qualquer forma de violência, intolerância e preconceito. Porém, não vou eleger a Charlie Hebdo como a única vítima. Não vou fazer coro alienado com a grande mídia e sair por aí bradando "Je suis Charlie". Aproveito o momento para fazer e chamar à uma reflexão mais aprofundada, sem paixões e sem falso moralismo. Se coloque no lugar do próximo. Nós cristãos, não gostamos quando algum fanático brinca com a imagem de Jesus Cristo. Conheço gente que seria capaz de matar por isso. O islamismo é uma religião de princípios pacíficos, porém, em qualquer religião existem os fanáticos, os fundamentalistas. Assim, quando ridicularizamos o símbolo máximo de uma religião, estamos sendo intolerantes, desrespeitosos e pérfidos. Como consequência, atraímos o ódio e a intolerância, que podem descambar para a violência. E violência não é só matar um grupo de pessoas por não concordar com suas idéias. A violência moral, a humilhação, a exposição ao ridículo pode ser muito mais cruel, pois mata aos poucos e causa sofrimento perpétuo.

Até que ponto em nome da liberdade de imprensa podemos expor e ridicularizar as pessoas? Inúmeras barbaridades são cometidas diariamente pelo mundo e, principalmente aqui no Brasil em nome dessa liberdade de imprensa. Poderia citar aqui vários exemplos de pessoas que perderam a vida, de empresas que foram extintas, de governos que foram derrubados injustamente por ações de suposta liberdade de imprensa. No meu ponto de vista, essa liberdade deixa de existir quando falta a ética, quando falta a responsabilidade e o respeito ao próximo. A isso eu chamo de ditadura da mídia.

(Continuarei tratando desse tópico - Liberdade de Imprensa - na terça, 13)



6 comentários:

  1. sua abordagem é interessante pois mostra a outra face da questão, a liberdade de expressão que sempre defendemos não pode ser confundida com o direito de dizer ou escrever o quiser sem levar a serio as consequências de tais atos. sou contra os ataques fanáticos e homicidas e espero que a tolerância não sucumba sempre ao terror.

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  2. Luiz se vc vivesse em um país de dominio do islã, vc seria livre pra expor suas opinioes? alem disso, a jirad é uma missao pra todo musssulmano, nao substime essa religiao, eles querem dominar o mundo.

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  3. Perfeito Luiz Vieira. Pensei que fosse só eu que estava enxergando essa manipulação midiatica. Parabéns. Excelente texto. Vou levar para minha turma da faculdade. (Antônio Carlos)

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  4. Você pode se indignar, mas não tem o direito de ser violento! Diria Shakespeare.
    O amor que move os irmãos cristãos, é o mesmo que move os islamitas?

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  5. Acontece que quem se sente o dono da verdade sente-se também no direito de ditar as regras; porém o enquadramento é impossível, aí vale a máxima: "o seu direito termina onde começa o meu", ou, fique na sua que eu fico na minha - assim ninguém se machuca. Valeu?

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  6. CADA COISA É UMA COISA,

    Não vamos confundir liberdade de imprensa como passaporte para ofender credos, ,constranger, ofender, humilhar, discriminar e debochar de minorias o de qualquer ser humano que seja.
    E´bom lembrar que a nossa liberdade termina quando começa a do outro e
    é nosso dever respeitar nosso semelhante, sua raça, orientação sexual, tradições e crenças.se queremos ter o direito sagrado de por nossa ser vez respeitados
    Temos que aprender a conviver com as diferenças sem intolerância.
    Um ato terrorista deve ser condenado, SEMPRE. Nada justifica um ato deste tipo
    por qualquer motivo que seja.

    Agora vamos admitir que uma coisa é uma coisa , outra ciosa e´outra coisa,
    não vamos confundir, misturar tudo no mesmo saco.

    Cada parte tem suas culpas, devemos meditar e repensar certas posições,
    mas infelizmente vidas humanas foram tragicamente perdidas, isto não podemos remediar e muito menos tolerar que isto volte a acontecer


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