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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

UM SONHO CHAMADO EDUCAÇÃO

Hoje peço licença aos leitores para falar de algo muito pessoal, tema que evito sempre abordar aqui. O fato é que acho isso relevante e pode causar um debate. Como vocês perceberam, na semana passada quase não escrevi nesse espaço. Porém, não deixei meus leitores assíduos sem conteúdo. Procurei com esmero e cuidado selecionar bons textos de outras fontes para compartilhar com vocês. O motivo da ausência é que desde o dia 17 de setembro estive em Belém participando  de um Congresso Internacional de Educação.

Quem me conhece sabe que sou professor por vocação e formação. Estive afastado do ambiente escolar por 6 anos seguidos enquanto assumi função de gestão no Governo Darci. Nos dois primeiros anos enquanto era Secretário de Meio Ambiente ainda tentei conciliar a gestão com a educação. Não deu. Percebi que estava falhando e então decidi que deveria priorizar a gestão por ser um desafio novo, uma nova experiência em minha vida. No segundo mandato fui secretário de Administração, aí foi que não deu para conciliar com a educação mesmo. 

O caso é que nunca me desliguei da educação, nunca esqueci minhas origens. Sempre que alguém perguntava minha profissão ou sempre que preenchi uma ficha de hotel, respondi e escrevi com orgulho: PROFESSOR. Uma vez professor, sempre professor! Não via a hora de terminar a minha missão na prefeitura para poder mergulhar de cabeça no meu universo escolar. Meus amigos apostavam que nunca mais eu pisaria numa escola para trabalhar. Achavam que eu não me adaptaria mais a essa realidade. Apostaram e perderam.

Quando me apresentei na Escola Irmã Dulce para reassumir minha função senti toda a energia e vibração de quem está voltando para casa. Encontrei um ambiente não muito favorável como por exemplo: escola interditada por ameaça de desabamento, ano letivo com calendário atrasado, novo espaço sem as mínimas condições para a aprendizagem, e outras adversidades a mais. Em compensação encontrei gente com brilho nos olhos; encontrei alunos dedicados e com vontade de vencer desafios; encontrei professores que continuam sonhando em transformar a realidade por meio da educação; encontrei uma Diretora preocupada com os problemas da escola e solidária com sua equipe e coordenadores receptivos e acolhedores. Achei o máximo. Me senti novamente dentro do meu oceano.

Mal comecei a trabalhar percebi que estava desatualizado. Muitas coisas mudaram de lá para cá em todos os aspectos. E como mudaram! Por coincidência me informei sobre um congresso que aconteceria em Belém de 18 a 22 de setembro. Não pensei duas vezes. Me inscrevi e fui participar por conta própria, sem nenhum investimento que não fosse pessoal. Participei de palestras com grandes educadores como Eugênio Sales, Cipriano Luckesi, Vasco Moretto, Marcos Meier e outras autoridades de renome internacional. A Escola Evolução foi representada por 6 educadores enquanto toda a rede municipal foi representada por 3 educadoras.

A qualidade do congresso foi fenomenal. Todos os professores da rede pública tinham que obrigatoriamente participar de um evento desse porte pelo menos uma vez por ano. Isso seria um necessário momento de reflexão para que cada um pudesse repensar sua prática e se alimentar de novos conhecimentos. Só assim poderíamos transformar sonhos em realidades com mais objetividade. A educação só teria a ganhar com isso.

Além da qualidade do congresso, do nível dos palestrantes, das ideias revolucionárias, das práticas renovadas em sala de aula, o que me chamou a atenção foi uma equipe de professores de Santa Inês-MA. Era a maior caravana do congresso e estavam todas uniformizadas e identificadas com o crachá. Me interessei por aquela caravana empolgada e decidi puxar conversa. Descobri que trabalhavam todas na mesma escola e por conta própria decidiram participar do evento. Até o uniforme que usavam foi custeado do próprio bolso. Nesses 3 dias a escola ficou fechada. A escola perdeu com isso? A comunidade perdeu? Acho que não. Com certeza essas professoras voltarão muito mais entusiasmadas e com novas ideias. A educação como um todo ganhará. 

Com esse exemplo quero demonstrar que a educação precisa de gestos de ousadia e até de rebeldia. Fico imaginando como foi difícil aquela equipe inteira tomar a decisão de fechar a escola para fazer formação e, custeado do próprio bolso. É claro que essa deveria ser a iniciativa das autoridades com visão. Mas elas não esperaram pelas autoridades e nem ficaram se lamentando. Foram lá e fizeram acontecer.

Estou voltando para esse universo educacional muito mais estimulado, mais preparado. O congresso foi um momento de reflexão, de formação, de atualização e de estímulo. Redescobri que sou professor mais do que nunca e a minha prática pode sim mudar a realidade. Sou consciente que essa realidade só mudará a partir do meu envolvimento verdadeiro, minha prática apaixonado.

Você quer ensinar alguma coisa? Então se envolva com os seus alunos, acredite neles, desenvolva relações de confiança com o grupo. Ninguém ensina nada sem o exemplo e ninguém aprende nada se não houver confiança e respeito.

4 comentários:

  1. Ótimo texto, amigo Luiz. Realista e utópico ao mesmo tempo. Bonita decisão do corpo discente de Santa Inês, mas vergonhoso para o Estado do MA, para o município. Aonde iremos chegar tomando decisão como esta? Claro que os professores ganharam, a educação ganhou com a atitude destas professoras; meu medo (e temos experiência nisto) é isto se tornar uma rotina! Ou seja, sempre que quisermos investir na qualidade de ensino teremos de fazê-lo às nossas expensas? Toda vez que quis me qualificar como professor, o fiz por minha conta, e ainda encontrei dificuldades para ser liberado para isto. A falta de vergonha do Jatene sem educação é patente e latente! O pior IDEB do Brasil é o resultado desta (des)educação que vive o Pará hoje. Não acredito em trabalho por amor. Professor precisa é de estímulo, de grana. Os poucos que se aventuram a fazer uma faculdade voltada para a educação o fazem por falta de outra opção mais barata! Felizmente, alguns poucos que trabalham "por amor", o fazem bem. Mas vamos à luta. Ficar parados esperando o desgoverno é que não podemos! Abraços... Alípio

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  2. É verdade. Enquanto uma escola da rede privada se faz representar com seis educadores, o município manda três. E se brincar, ainda se coloca em cheque esta representação municipal. Parabéns a estas bravas educadoras de Santa Inês-MA.
    Outro dia conversei com uma professora que trabalha no período da manhã e estava se preparando para ir participar da formação à tarde - era uma quinta-feira. Não era por causa do calor, mas ela não se mostrava nem um pouco animada. Também não lhe tirei a razão, pois, se não havia ânimo, é porque com certeza também não haveria nenhum atrativo; e assim acontece o faz-de-conta. Infelizmente esta minha amiga (ainda) não tem outra profissão.
    Mas eu também acredito na educação como possibilidade de mudança. Espero que um dia os governantes também acreditem e pratiquem esta crença.

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  3. Bem vindo de volta meu eterno professor Luiz Vieira. Confio no seu trabalho como educador. Desde os tempos do magistério do Euclidão que me tornei sua fã e venho acompanhando sua trajetória. Só te peço que não abandone a política, pois fará muita falta. Apesar de todos os tropeços, as pessoas de bem ainda tem que acreditar que o Pebas e o Brasil tem jeito e não desistir nunca. A prova está aí no seu relato quando você mostra professores que ainda acreditam na mudança e investem em formação. A prova está no brilho nos olhos que você cita.
    Grande abraço meu Professor.

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  4. Estela Noemy, parabéns, professor, conheço o seu acompanhei sua tragétoria ainda na faculdade,e tenho muito orgulho do seu trabalho como educador e sei jamais deixaria de professor.

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