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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O GUARDIÃO DA CAIXA FORTE E O SEGREDO DA MALA PRETA

Esse texto é uma parte do conto "O pântano azul" que está no livro "O escorpião e a borboleta". Achei bem adequado para o momento político que Parauapebas atravessa. Divirtam-se com a leitura e comentem a vontade.

          
              Ao longo dos anos, Mestre Sist cuidou para aperfeiçoar o pântano azul e atrair sempre mais almas para o seu projeto. Era importante manter o mistério e fortalecer os princípios regimentais que transparecesses normalidade na casa.

            Além do Grande Conselho, havia o guardião da caixa forte que tinha o poder de organizar a aldeia e prover o desenvolvimento e o bem estar dos aldeões. Esse guardião também era escolhido de forma direta num pleito disputadíssimo, e o cargo era muito cobiçado por todos, pois além do poder de gerenciar a caixa forte, era laureado com poderes supremos que lhe conferiam prestígio e riquezas incalculáveis. Bastaria se submeter, após ser escolhido, aos ditames do mestre e ter esperteza o suficiente para se livrar das armadilhas do Dr. Torga. Se conseguisse, o céu seria o limite.

            Cabia ao Grande Conselho o controle e a fiscalização do guardião da caixa forte. Era tudo bem estruturado para conferir poder aos conselheiros e não deixar o guardião pensar que era deus. Assim, qualquer medida, qualquer decisão do guardião, teria que ser chancelada pelo Grande Conselho. Se por um lado, o guardião da caixa forte tinha poderes privilegiados, por outro lado, esses poderes dependiam dos conselheiros. Essa foi uma forma inteligente que Mestre Sist criou para manter o equilíbrio e, ao mesmo tempo, acirrar as disputas entre os poderes. Afinal, nesse jogo, vale a criatividade para trapacear, para dominar e para subjugar os mais fracos.

            Com o poder de controle que o Grande Conselho exercia sobre o guardião, foi enfraquecendo a sua influência, de maneira que algumas figuras ilustres caíram em desgraça no exercício da função. Foi então que há tempos atrás, um guardião teve a brilhante ideia de explorar a cobiça e a ganância dos conselheiros. Passou a fazer acordos, a oferecer privilégios e criar cargos para contemplar os conselheiros e seus parentes. Sabendo que as mentes dos componentes do pântano estavam corrompidas, usou e abusou desse expediente exaustivamente, até que nem um componente soubesse mais viver sem esses favores extras. Além disso, usou de artimanhas para dividir o grupo e provocar disputas entre eles.

            Esse guardião que teve a grande ideia de seduzir os conselheiros com privilégios extras fez escola no pântano azul e influenciou toda uma geração, de tal forma, que até os dias atuais esse modelo é seguido e aperfeiçoado pelos seus sucessores. Agora, todo guardião que tem o privilégio de assumir a caixa do tesouro, cuida para seduzir principalmente àqueles que foram seus adversários na disputa. Assim, terá garantida toda a tranquilidade para usufruir do tesouro sem nenhum aborrecimento. Por sua vez, os conselheiros tratam de juntarem-se em grupos para fortalecerem-se e arrancar mais benefícios do guardião. Tudo dentro da mais perfeita ordem e em nome da moral, dos bons costumes e, até dos princípios religiosos, mesmo que as crianças morram à míngua, mesmo que famílias inteiras de aldeões padeçam, mesmo que o reinado apodreça e vire ruínas. O importante é manter o sistema em perfeita harmonia.

            Um certo guardião do tesouro que presidiu a aldeia num período crítico, inventou uma arma secreta para acalmar os conselheiros do pântano que apresentavam comportamento rebelde. Com o livre arbítrio que o Mestre Sist dava de vez em quando para testar a astúcia dos postulantes, vez por outra, alguma pessoa bem intencionada conseguia passar pelo teste e entrar no pântano azul. Diziam que iriam mudar e transformar o pântano e mostrar que ainda havia almas boas naquele lugar, capazes de mergulharem no pântano e saírem puras.

            Para evitar problemas de desequilíbrio, e, para continuar reinando soberano gozando de todos os privilégios do cargo de guardião do tesouro, seus antecessores usavam de violência, intimidação, e até assassinato contra os conselheiros e aliados que não dançassem conforme a música. Isso custava muito caro e criava muita desordem e complicação, chegando até a perda da função de uns. Foi então que esse iluminado guardião teve a brilhante ideia de lançar mão de sua arma secreta: tratava-se de uma mala preta que era levada por um emissário e aberta exclusivamente na presença do conselheiro rebelde que estava criando problemas.

            Até hoje, ninguém de fora descobriu o misterioso conteúdo dessa mala preta, e o segredo é passado somente de guardião para guardião. Todos os guardiões do tesouro lançam mão desse recurso, uns mais e outros menos. Basta um conselheiro se rebelar, ou ameaçar ruir a estrutura, logo aparece o emissor com a tal poderosa mala preta. Dizem que o sujeito fica transtornado e entra num transe total. Alguns cheiram o conteúdo, outros fecham os olhos e oram em agradecimento, outros choram diante da visão. Depois da visita do emissário da mala preta, os rebeldes ficam mansos como cordeiros e mudam radicalmente o comportamento: se antes odiavam o guardião, agora passam a amá-lo.

            Uma característica mais comum de quem recebe a visita do emissário da mala preta, é a mudança de vida. Como num passe de mágica, o sujeito, além de ficar dócil como um carneirinho, muda radicalmente sua situação financeira. Dizem que é o poder da mala secreta que abre a visão para a prosperidade. Se antes, o jetom recebido pelo seu “suado” trabalho não dava nem para as necessidades básicas, agora, sofre a mutação e se transforma em riqueza incalculável. É o verdadeiro milagre da multiplicação.

            Cada guardião que entra, cria sua própria mala preta e vai aperfeiçoando para driblar a vigilância do Dr. Torga. Apesar de ninguém saber o conteúdo da mala, ela é proibida e mantida sob o mais absoluto segredo. Alguns curiosos chegaram perto, mas só descobriram objetos sem sentido que cobriam o verdadeiro conteúdo. Algumas vezes chegaram a ver carambolas, laranjas, e até roupas velhas. Outras vezes, no lugar da mala preta, o emissário levava caixa de papelão ou sacola de supermercado.

            Com esse moderno sistema de acalmar os rebeldes, os guardiões quase não precisam mais lançar mão de recursos violentos. A mala preta é mais eficiente e mais barata, além de deixar o sujeito em estado de letargia, criando uma dependência perpétua. Uma vez tendo recebido a mala preta, nunca mais o conselheiro seria  o mesmo. Aquele espírito de rebeldia era transformado em subserviência, e mesmo que o conselheiro fosse rico, vivia como um mendigo, sempre rastejando sem a mínima dignidade.

Mestre Sist admirava com orgulho a sua criação. “Pobres coitados! Quando vão evoluir a ponto de descobrir que o pântano é composto por partículas extraídas de suas próprias fraquezas? Quando vão se darem conta de que a ambição, o orgulho, a vaidade, o vício, a perversidade, e outras deformidades humanas são matérias indispensáveis para a continuidade do pântano azul?”, divagava o Mestre.


Um dia, quem sabe, uma alma pura mergulhará no pântano e sairá limpa e incólume. Quando isso acontecer, será tão forte que contaminará outros membros e abalará a estrutura do pântano azul. Enquanto isso, Mestre Sist vai brincando e fazendo novas experiências com os que penetraram nesse universo misterioso de luz azulada tão atraente e tão complexo. Cada novo ser que entra no pântano recebe a picada do escorpião e o beijo da borboleta, e a contradição passa a ser condição natural em sua vida. Por um lado, sente que o veneno está destruindo suas entranhas, corroendo sua alma, e, por outro lado, se entrega perdidamente ao jogo da luz.  Perde suas asas, mas não abandona o pântano azul.

4 comentários:

  1. Mestre sist é cruel, mas o povo não perdoa, mesmo que isto lhe custe quatro anos de atraso.

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  2. Eu espero que o povo não se venda. Porque os bandidos ( maioria dos vereadores) estão embolsando só pra comprar votos.

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  3. Kkkkkk. Esse blog é demais. Essa mala preta é aquela que amansou os vereadores da oposição. Uns cheiram o conteúdo, outros oram p agradecer. Já sei até quem é. E as carambolas do Maridé? Demais. Só ainda não sei quem é o homem da mala preta. Será que é quem eu tô pensando?

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  4. Acreditem se quiserem mas naquela sessão que ia ser votado o documento pedindo afastamento do prefeito, quando o Miquinhas fugiu após uma grave acidente e uma cirurgia que levou três pontos, quando o Euzébio garantiu ao PT que votaria com a oposição mas já estava com a passagem de avião no bolso e viajou junto com quem? Com quem? Com o Bruno que agora é líder de governo. Mas acreditem se quiserem naquele dia a mala preta estava LITERALMENTE na câmara.. e comprou gente, gente que aguardava uma secretaria que ainda não tinha saído e agora saiu mas com um grande buraco. kkkkkkkkkk

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