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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

DISCURSO DE POSSE DE LUIZ VIEIRA NA ACADEMIA PARAUAPEBENSE DE LETRAS EM 12 DE DEZEMBRO DE 2015.

A pedido de alguns amigos, eis ai o meu discurso de posse na Academia Parauapebense de Letras no dia do meu aniversário. Foi uma festa linda!


Senhores e senhoras, boa noite.

Em nome do confrade Paulo Poeta quero cumprimentar todos os imortais dessa confraria. Em nome do meu pai Terêncio Americano Vieira, cumprimento todos os presentes.

Quero iniciar meu discurso com o mais nobre sentimento humano que é a gratidão. Em primeiro lugar, agradeço a Deus por ter me conduzido até aqui com segurança e discernimento; agradeço a minha família, o meu porto seguro, minha fortaleza; a meus filhos Lua e Leonardo que são a razão maior da minha existência; agradeço aos meus amigos que me dão força diariamente, que confiam em mim e me apoiam nas batalhas travadas no dia-a-dia; agradeço em especial a minha mãe Maria Reis Vieira – a dona Cota - (in memoriam) que me iniciou no mundo das letras ainda aos quatro anos de idade. Essa mulher guerreira que foi minha primeira professora, que no seu colo segurava minha mão para desenhar as primeiras letras, imprimiu para sempre em minha  vida sua personalidade forte e persistente. Enfim, agradeço a todos os que acreditam e compartilham dos meus sonhos, aos companheiros de jornada, de vitórias e infortúnios.  Cada conquista, cada tropeço, cada porta aberta ou fechada foram e serão importantes para nosso fortalecimento na jornada da vida.

Hoje é uma noite especial para meus amigos, para Parauapebas, e, especialmente para mim. Meus amigos testemunham minha posse como imortal na mais importante instituição de difusão da cultura e da literatura, que é a Academia de Letras. É um momento importante para Parauapebas, pois um município tão jovem, já tem a honra e o privilégio de contar com uma Academia que foi fruto dos sonhos de um grupo de desbravadores que ousou a ultrapassar a barreira do possível.  Nesse momento histórico onde a academia com pouco mais de um ano de idade realiza sua primeira cerimônia de um membro efetivo, eleito pelos confrades que apreciaram criticamente a obra O escorpião e a borboleta, Parauapebas dá um salto gigantesco para o futuro. A Academia torna-se mais visível, não pela minha presença, mas porque ousa a se mostrar para a sociedade e dizer a que veio. Que esse ato seja um incentivo para outros escritores da nossa rica e fértil seara literária, que ousarão lançar suas obras e pleitear uma cadeira nessa confraria.

Mas o que é uma Academia de Letras e qual a importância para um município?  A Academia de Letras é a maior referência no mundo cultural e intelectual de uma cidade, de um estado, de uma nação.  Simboliza a alma, a identidade, o anseio de liberdade, a busca inesgotável na fonte do conhecimento e a evolução da espécie humana. Como disse o poeta, cantor e compositor Raimundo Fagner na sua bela canção Guerreiro Menino, “E sem o seu trabalho, o homem não tem honra...”,  eu diria que sem a cultura literária o povo não tem alma, não tem vida, torna-se apenas zumbis desfigurados. Assim, a Academia como difusora, como incentivadora, como propagadora das palavras escritas torna-se a legítima guardiã da alma da cidade.

A Academia de Letras como instituição iniciou na França no século XVII. Esse termo remonta a Academia de Platão na antiguidade grega onde o filósofo fundou sua escola nos jardins pertencentes ao herói grego Akademus – daí o nome Academia. Ali, buscava-se pela dialética socrática o saber pelo questionamento e pelo debate, ao contrário do saber mecânico baseado na repetição.  Essa tradição milenar rompeu barreiras e atravessou gerações até chegar aos nossos dias. Atualmente, as Academias de Letras espalhadas pelo mundo inteiro mantêm a tradição, a modernidade e, principalmente a capacidade de adaptação e evolução.  Nas Academias de Letras borbulha em toda a sua pujança o humanismo, revelando aspectos do sentido da vida, de significação do mundo.

Podemos afirmar com segurança que temos em nossas mãos a responsabilidade de sermos os guardiões, difusores, propagadores e incentivadores da palavra escrita, seja através da poesia, de contos, crônicas ou mesmo através de palavras soltas, mas que ganham significado de acordo com o solo que abriga. Nós que ousamos a escrever, somos a luz que irrompe a escuridão, somos o conforto dos desamparados, somos a fonte de quem tem sede, somos a segurança dos que buscam um porto, somos a civilização contra a barbárie. Mas também podemos ser a espada cortante, a bofetada, o desconcerto, o motivo da ira, a tempestade. Assim como o filósofo Sócrates incomodou os poderosos de Atenas com suas verdades desconcertantes, o escritor continua incomodando os tiranos que preferem uma sociedade apática e sem questionamentos às verdades prontas e acabadas.  Mesmo incomodando, mesmo sendo incompreendidos, mesmo sendo ignorados e por muitas vezes perseguidos, continuaremos falando, continuaremos escrevendo nossos versos, nossas angústias, nosso pensamento. “Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão. (Lucas 19, 40). Assim, continuaremos nossa missão profética de contribuir para um mundo melhor, com mais humanidade, mais tolerância e mais amor.

Somos imortais sim! Imortalizamos a partir do momento em que registramos nossos pensamentos através da escrita. Como registrado por João, Cap. 1, “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus”. O Verbo escrito se torna a própria vida, a nossa essência.  Essa escrita no papel, publicada e difundida torna-se uma espécie de testamento, de um tijolo na construção do universo, de uma semente na eternidade. Já somos parte do universo! Somos os guardiões dessa tradição milenar e temos a responsabilidade de transmitir essa herança eterna às futuras gerações. Assim, não morreremos jamais, porque já estamos na história, independente do que venha acontecer com nossa matéria.

Sigamos o exemplo de Jesus, que mesmo não tendo publicado nem uma palavra, mesmo não tendo usado tinta e papel, deixou seus ensinamentos cravados no coração da humanidade. Há apenas um registro de Jesus escrevendo, e ele fez na areia com o próprio dedo no episódio da mulher adúltera (João 8, 1-11). Assim também, nós, membros da Academia Parauapebense de Letras, usaremos a tinta, o papel ou até mesmo o dedo para propagar nossos conhecimentos, mesmo que isso venha a incomodar os que se arvoram donos da verdade. Porém, temos que ter o cuidado com a nossa escrita. Devemos antes de escrever qualquer coisa, despirmos da vaidade, do sentimento de vingança, da negatividade. Que essa opalanta(*) seja o nosso manto da humildade e da sinceridade. Sabemos que as sementes lançadas através da nossa escrita nem sempre cairão em terrenos férteis. Aliás, quase sempre cairão em terrenos pedregosos e espinhosos. Mas não desistiremos jamais. Alguma semente haverá de florir mesmo no deserto árido.

Hoje tomo posse como membro efetivo eleito pelos meus pares onde ocuparei a cadeira numero 10. Assumo com muita responsabilidade, humildade e desprendimento e não pouparei esforços na missão de honrar e contribuir para elevar o nome da confraria no mais alto patamar. Escolho como patrono o escritor conterrâneo Jorge Amado que é um exemplo e um orgulho para a literatura brasileira e mundial. Jorge Amado que nasceu numa fazenda no município de Itabuna-BA no dia 10 de agosto de 1912 e aos 14 anos já começou a participar da vida literária em Salvador, sendo um dos fundadores da Academia dos Rebeldes. Trabalhou como repórter no diário da Bahia entre 1927 e 1929, época em que escreveu a Revista Literária “A Luva”.

Estreou na literatura em 1930 com a publicação da novela “Lenita”. Bacharelou-se em ciências jurídicas e sociais na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro em 1935, mas nunca exerceu a profissão de advogado, priorizando sua paixão pelas letras.

Devido ao exílio durante o regime getulista, Jorge Amado viajou pelo mundo e viveu na Argentina, no Uruguai e depois em Paris. Voltou para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial e trabalhou em vários jornais. Em 1945 foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro, por São Paulo, tendo participado da Assembleia Constituinte de 1946.

Em abril de 1961 Jorge Amado foi eleito para a cadeira número 23 da Academia Brasileira de Letras. Um humanista, um gênio, um articulador militante da cultura, um espírito revolucionário rebelde, Jorge Amado representa a essência do povo brasileiro. Suas principais obras foram: Mar Morto, Capitães de Areia, Terras Sem-Fim, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Tenda dos milagres, além de contos, poesias, biografias, peças de teatro, histórias infantis e até um guia de viagem. Sua esposa e também escritora Zélia Gattai foi sua eterna companheira até a sua morte em 06 de agosto de 2001 próximo de completar 89 anos. A seu pedido, foi cremado, e as cinzas, colocadas ao pé de uma mangueira em sua casa.

Visitei a Casa de Jorge Amado que foi transformada em fundação, que fica no Pelourinho, em Salvador e ao respirar aquela atmosfera, ao tocar nos objetos de uso pessoal, ao sentir o cheiro de livros velhos, tive a certeza de que queria ser escritor. Assim, ouso a me inspirar nesse ícone, nesse gigante da literatura brasileira e mundial para dar os meus primeiros passos como escritor.

Finalizo agradecendo aos confrades que abriram as portas da Academia para eu iniciar minha carreira de imortal. Tenho o mais profundo respeito por cada um de vocês. Agradeço a todos os presentes que servem de testemunhas para esse meu momento ímpar e a todos os amigos pela força, pelas dicas, pelas críticas, pelos empurrões e, acima de tudo, por acreditarem em mim e em meu trabalho.


Muito obrigado!

*Opalanta - capa utilizada pelos membros da Academia exclusivamente nas cerimônias.

2 comentários:

  1. Muito bom o discurso, feliz escolha do Patrono e boas informações sobre o mesmo. Parabéns e bem vindo ao mundo dos imortais. Que venham outras imortalidades literárias e informativas. E parabéns pelo aniversário.

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  2. parabéns Luis você merece todo mérito,felicidades e que venha muitos mais livros,estamos na expectativa.

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