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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O PÂNTANO AZUL - PARTE III

O Grande Conselho do Pântano Azul


Mestre Sist estava eufórico. Tudo havia transcorrido na maior regularidade e o resultado da eleição para a escolha do Grande Conselho do Pântano Azul não poderia ter sido melhor. Ele manipulava tudo e a todos, mas de forma inteligente para parecer que tudo era um jogo aberto e democrático onde venceriam os melhores, os mais preparados. Porém, apesar de manipular, Mestre Sist dava corda e deixava a disputa transcorrer livre em certos momentos para testar o potencial dos participantes. Assim, sempre corria o risco do resultado não sair de acordo com seus desejos. Em algumas ocasiões isso lhe custou a escolha de um Conselho totalmente diferente do planejado, causando desequilíbrio ao Pântano. Mas bastou fazer alguns ajustes na eleição seguinte que tudo voltou ao normal.

O dia da escolha foi perfeito. O povo já comemorava antecipadamente o resultado como se fosse a coisa mais importante e sagrada da vida. Era engraçado de se ver a reação da população daquele lugar nos confins da terra: alguns choravam desesperadamente, outros sorriam histericamente; muitos soltavam fogos de artifício e desfilavam em carros abertos pelas ruas da cidade, outros reagiam violentamente ao resultado e até rompiam velhas amizades; algumas igrejas faziam vigílias de orações e conclamavam os fiéis para participarem do processo; líderes religiosos perdiam o senso de religiosidade e mergulhavam de cabeça na escolha; as pessoas importantes da cidade, líderes comunitários, empresários e trabalhadores se envolviam tanto que esqueciam os problemas do cotidiano. De uma forma ou de outra, todos se envolviam, até mesmo os que diziam que não davam a mínima às coisas do Pântano Azul por serem "sujas e inescrupulosas". Uma certa histeria coletiva tomava conta da cidade após o anúncio do resultado da escolha.

Mestre Sist estava feliz e radiante com o resultado. Dessa vez confiou nos seus instintos e deixou o processo correr solto, sem muito controle, pois sabia que a cidade estava num estágio tão avançado que naturalmente selecionaria as cabeças mais representativas para o seu projeto de Pântano. "A alma humana já está corrompida. Os sentimentos são pérfidos e os interesses são cada vez mais asquerosos. Dessa vez teremos representantes à altura do Pântano", divagava o Mestre sorridente.

Dezessete representantes da comunidade foram os escolhidos para o Grande Conselho. Dessa vez estava muito bem representado. Todos os sentimentos, todos os interesses, todos os sete pecados capitais se faziam representar ali. Para garantir a continuidade do sentimento e da filosofia do Pântano, cuidava para que alguns membros anteriores permanecessem. Assim, não haveria ruptura do sistema e os mais experientes influenciariam os novatos. Mestre Sist sempre deixava que eles escolhessem entre si um pequeno grupo para comandar. Ficava só observando os critérios que os conselheiros inventavam e as estratégias que usavam para comandar o Pântano. Sentia prazer em ver como aquele grupo era tão evoluído a ponto de trapacear e enganar os próprios pares para sentar na "Grande Bancada".

Como já foi citado anteriormente, Mestre Sist deixava que algumas "almas boas" fossem escolhidas para o Grande Conselho. Ele queria testar o poder e a evolução do Pântano Azul. Tudo era parte de um grande jogo, onde ninguém sabia quem seriam os vencedores e os derrotados. Uma vez dentro, todos os artifícios seriam usados para macular e corromper essas "boas almas". O grande desafio seria passar pelo Pântano sem se manchar, sem enlouquecer ou sem perder a vida. Por isso, era comum ouvir frases entre os conselheiros, do tipo: "aqui o sistema é bruto"; "se você não se enquadrar será engolido pelo Pântano"; "aqui não tem santo"; "aqui quem é mais tolo desenha uma vaquinha na parede e tira leite dela"; "nesse Conselho os mais sabidos dão rasteira no vento"; "ou você se enquadra ou morre"; "o povo tá pouco se lixando para você. Então aproveite o tempo que lhe resta aqui e faça sua vida..."

No fundo, Mestre Sist sabia que aquele lugar era apropriado para desnudar os mais íntimos e originais sentimentos do ser humano. Toda a personalidade, todos os desejos inconfessáveis, todas as luxúrias e ganâncias do ser humano apareciam de forma cristalina quando ele mergulhava no Pântano. Alguns comentavam: "fulano era gente boa e se transformou após entrar no Pântano"; aquela era uma mulher virtuosa e mudou do azeite para o óleo contaminado após penetrar no Pântano"; Ciclano era um religioso fervoroso e hoje é um ser depravado e ladrão..." Mestre Sist apenas sorria disfarçadamente  e pensava: "não! Vocês é que não conheciam seus semelhantes. O Pântano Azul não contamina ninguém. Apenas tem o poder de revelar a verdadeira identidade do ser humano".

Assim o Mestre Sist continuava observando o desenrolar dos fatos naquele Grande Conselho composto por dezessete membros. Tinha esperança de encontrar uma boa alma verdadeira que o desafiasse. Quem seria o indivíduo que mergulharia no Pântano Azul e sairia incólume para iniciar um outro ciclo? Até aqui, só um Ser conseguiu essa façanha. 

Mestre Sist aproveita a ocasião para desejar a todos um Feliz Natal e um Novo Ano cheio de saúde e paciência para enfrentar os desafios que o Pântano Azul continuará proporcionando. 

A saga do Pântano continua no próximo ano em data a ser definida após o recesso.

2 comentários:

  1. Olá mestre Sist? Parabéns por tamanha façanha, espero que encontre um ótimo administrador para cuidar de seu Pântano Azul. Pois hoje infelizmente a maioria das pessoas sao sem confiança e egoístas. Boa sorte mestre Sist.

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  2. Legal!!vamos continuar sonhando e acreditando que nossos governantes criem vergonha de nao trabalhar,fazendo pelo menos o mínimo por seus eleitores. Veja como Parauapebas está, uma cidade em situação deplorável e se continuar assim sem governo praticamente, quem sofrerá as consequências? O povo com certeza. Vamos acordar gente e da um basta nesse governo Valmir.

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