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sexta-feira, 27 de outubro de 2017

INTERVENÇÃO MILITAR NO BRASIL JÁ!

Hecilda Veiga - uma guerreira desconhecida


Paulo Fonteles (pai)
Esse título sobre intervenção militar foi proposital. Uma provocação, uma forma de fazer com que os "meninos" que vivem com esse slogan nos lábios leiam. Se bem que a galera com esse perfil não é lá muito chegada a leitura, mas quem sabe?! Como professor, tenho que tentar com insistência. Quem não viveu ou conheceu a história do período da ditadura militar no Brasil corre um grande risco de se tornar fantoche nas mãos de pessoas má intencionadas e até fazer papel de tolos. E vou logo adiantando que não sou contra os militares. Eles exercem um importante papel constitucional em nossa sociedade. Sou contra sim, a barbárie que aconteceu no Brasil entre 1964 a 1984 em nome da defesa da ordem. Em qualquer país civilizado, o poder militar deve estar sob a tutela do poder civil. Esse é o consenso para garantir a soberania e a democracia.

Mas quem é Hecilda Veiga, apresentada no subtítulo?
Paulo Fonteles Filho
É uma professora da Universidade Federal do Pará casada com Paulo Fonteles de Lima e mãe do Paulo Fonteles Filho, que faleceu na manhã do dia 26 de outubro de 2016. Paulinho, como era conhecido, nasceu nos porões da ditadura em 1972 e, depois teve o pai assassinado por pistoleiros em 11 de junho de 1987 na BR 316 em Ananindeua. Paulo Fonteles (pai), advogado e militante político lutava contra os grileiros e defendia os trabalhadores pobres. Resistiu a tortura nos porões da ditadura - junto com sua esposa Hecilda - mas não resistiu a pistolagem do Pará. Os mandantes nunca foram a julgamento.

Paulinho (Paulo Fonteles Filho), a exemplo do pai, também era advogado, foi vereador de Belém e exercia um importante papel político na defesa dos direitos humanos. Poeta, blogueiro, filiado ao PC do B, membro da Comissão da Verdade do Pará (comissão que apura os crimes da época da ditadura), foi traído por um infarto fulminante. Teve uma vida marcada pela tragédia desde o seu nascimento e partiu de forma trágica com apenas 45 anos.

Mas voltando a Hecilda Veiga, que continua viva e com um intenso brilho no olhar, mesmo com tanta tragédia e tanto sofrimento em sua vida.Tive a honra de ser aluno dessa guerreira na disciplina Ciência Política na UFPA. Compartilho seu depoimento para ajudar a nova geração a entender um pouco sobre a ditadura militar e se livrar das idéias e influência dos "mitos" que se colocam como salvadores da pátria e fazem apologia a ditadura e exaltam torturadores.

Hecilda Veiga
"Quando fui presa, minha barriga de cinco meses de gravidez já estava bem visível. Fui levada à delegacia da Polícia Federal, onde, diante da minha recusa em dar informações a respeito de meu marido, Paulo Fontelles, comecei a ouvir, sob socos epontapés: 'Filho dessa raça não deve nascer'. 
Depois, fui levada ao Pelotão de Investigação Criminal (PIC), onde houve 
ameaças de tortura no pau de arara e choques. Dias depois, soube que Paulo
também estava lá. Sofremos a tortura dos 'refletores'. Eles nos mantinham 
acordados a noite inteira com uma luz forte no rosto. Fomos levados para o 
Batalhão de Polícia do Exército do Rio de Janeiro, onde, além de me colocarem na cadeira do dragão, bateram em meu rosto, pescoço, pernas, e fui 
submetida à 'tortura cientifica', numa sala profusamente iluminada. A pessoa 
que interrogava ficava num lugar mais alto, parecido com um púlpito. Da 
cadeira em que sentávamos saíam uns fios, que subiam pelas pernas e eram 
amarrados nos seios. As sensações que aquilo provocava eram indescritíveis: 
calor, frio, asfixia. De lá, fui levada para o Hospital do Exército e, depois, 
de volta à Brasília, onde fui colocada numa cela cheia de baratas. Eu estava 
muito fraca e não conseguia ficar nem em pé nem sentada. Como não tinha 
colchão, deitei-me no chão. As baratas, de todos os tamanhos, começaram a 
me roer. Eu só pude tirar o sutiã e tapar a boca e os ouvidos. Aí, levaram-me 
ao hospital da Guarnição em Brasília, onde fiquei até o nascimento do Paulo. 
Nesse dia, para apressar as coisas, o médico, irritadíssimo, induziu o parto e 
fez o corte sem anestesia. Foi uma experiência muito difícil, mas fiquei firme 
e não chorei. Depois disso, ficavam dizendo que eu era fria,, sem emoção, sem 
sentimentos. Todos queriam ver quem era a fera' que estava ali.

HECILDA FONTELLES VEIGA, ex-militante da Ação Popular (AP), era estudante de Ciências Sociais quando foi presa, em 6 de outubro de 1971, em Brasília (DF). Hoje, vive em Belém (PA), onde é professora do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA)"

4 comentários:

  1. Guerreiros são sempre guerreiros e morrem lutando.
    Mas nesses tempos de golpes escancarados, ditaduras veladas, ressurgimento e fortalecimento do neofascismo e produção forçada de falsos mitos, parece que os covardes estão mais fortes e o mal está se sobrepondo. São os vieses da história.
    No final, o bem triunfará e a história voltará ao seu curso normal.
    Salve Paulos Fonteles! Viva Hecilda guerreira!

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  2. Muito boa a memória. Alguns jovens a lerão sim e serão multiplicadores.

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  3. Respostas
    1. Fiz questão de postar o comentário acima para mostrar que os idiotas até lêem, mas não compreendem nada do que lêem. E são assim é não vão mudar.

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