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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

A PENEIRA DO MEDO

No dia 20 de fevereiro eu estava participando de um seminário organizado pela Associação da Imprensa de Parauapebas (AICOP) e a palestra que mais me chamou a atenção foi a do Juiz Líbio Moura. Com sua conhecida habilidade e oratória objetiva, discorreu sobre a ética no jornalismo para uma platéia atenta e curiosa. 

Num determinado momento de sua explanação, o dr. Líbio disse a seguinte frase: "Muito me incomoda a peneira feita pelo medo nos órgãos de informação". E destacou que a imprensa não pode ter medo de divulgar, de denunciar a violência seja qual for. Nota-se um certo silêncio de alguns órgãos da imprensa local quando se trata de ações de criminosos poderosos. Aí foi inevitável a ligação com a ação do GAECO que culminou com a prisão de uma advogada e três policiais. Durante as perguntas da platéia o dr. Líbio citou um texto desse blog publicado no dia 18 de fevereiro com o título OPERAÇÃO DO GAECO DEIXA PARAUAPEBAS NUM CLIMA DE MISTÉRIO E MEDO onde faço uma abordagem sobre a  realidade pós prisões dos suspeitos de crimes de pistolagem. E ressaltou que a sociedade não pode viver com medo, pois isso reforça o espírito de impunidade e violência. "Quem manda aqui somos nós e não os pistoleiros", ressaltou o juiz. 

É notório que o juiz Líbio Moura tem sido muito corajoso ao enfrentar alguns processos contra poderosos em Parauapebas. Recentemente, afastou de forma inédita quatro vereadores e, praticamente induziu um a renunciar. Isso é coragem e, entendemos que todos os membros do Judiciário deveriam ter essa qualidade como uma condição natural. É certo que o medo paralisa uma cidade e deixa seu povo como refém nas mãos dos malfeitores. De certa forma, o medo nos torna cúmplice de quem vive às margens da lei. Porém, por outro lado, ressalto que o medo é um sentimento natural do ser humano e, muitas vezes é um instinto de defesa e instrumento de sobrevivência produzido pelo nosso cérebro.

Medo e covardia


Se o medo é uma defesa natural, um instinto de sobrevivência, por outro lado, a covardia é um sentimento ruim que nos paralisa e nos torna vítimas fáceis da violência. No meu livro "O escorpião e a borboleta" trato desse tema na página 107 com o título "Sob o signo do medo e da covardia". Sem querer fazer propagando, vale a pena conferir. 

O dr. Líbio Moura está coberto de razão. Não podemos deixar imperar a lei do silêncio, a lei do "bico calado". Todavia, há de se fazer algumas considerações. É notório que nossa cidade é muito violenta e, somente bem recente é que a população passou a experimentar a sensação de que os criminosos não tem tanta costa larga e blindagem assim. Infelizmente, a lentidão da justiça nos deixa com essa sensação de insegurança. É verdade que uma advogada, um capitão e dois cabos da polícia militar foram presos. Mas, no caso de eles serem realmente culpados, no caso de existir aqui em Parauapebas um grupo de extermínio a serviço dos poderosos, que segurança teremos? Foram presos apenas quatro. Mas e os outros que estão soltos e convivendo conosco, gozando de nossa confiança? Esse grupo, - se existir - apenas daria um tempo para voltar a atuar e acertar as contas com aqueles que divulgaram notícias, que falaram demais, que atrapalharam seus planos. Que garantia teremos dos órgãos de segurança e da justiça? Nesse contexto, eu, você e até o dr. Líbio Moura corremos risco de morte.

Um exemplo claro desse clima de medo foi apresentado no debate no seminário da imprensa: nas redes sociais quase ninguém falou nada das prisões dos militares, ao contrário do que aconteceu na época das prisões dos vereadores, empresários e secretários onde foram exaustivamente hostilizados. Dessa vez, bastou alguém postar uma foto dos presos embarcando de avião e outro fazer um comentário sobre o meio de transporte, para aparecer as ameaças veladas.

Por isso reafirmo: o medo nos paralisa e nos torna reféns. Temos que enfrentar o perigo de frente, mas com cautela. Para quem tem medo mas não é covarde, sugiro uma leitura no texto do livro citado aqui. Lá você vai encontrar valiosas dicas de sobrevivência que podem salvar sua vida. E olhe que quem está falando é um sobrevivente! Quem não puder comprar o livro é só falar que eu mando o texto por e-mail.


6 comentários:

  1. Luiz em qual livraria seu livro está exposto para venda?

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    1. Também na banca de revista da Cidade Nova ( atrás do CDC ) e na Makro.

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  3. Seu texto é muito bom e real... temos medo sim. Moramos em uma cidade sem leis cumpridas. As pessoas nao respeitam a lei, nao so os bandidos. As pesoas nao respeitam o sinal vermelho, a placa de proibido estacionar, a placa de pare, o limite de som, a cobrança de agua, a área de preservação permanente.... e quando alguem fala algo, praticamente é ameaçado de morte pelo "pacato cidadão".... quer um exemplo? uma igreja (filial de outra maior ainda) sendo construida no Cidade Jardim (igreja que tem nome de um bairro do Rio de Janeiro por sinal)sem alvará da Prefeitura (normal em Parauapebas desde quando o ser humano aprendeu a andar) e um fiscal da SEMURB foi la notificar sobre a ausencia de alvará (nossa!!! que fiscal sacana ne?) e ai o pastor (mestre de obras nas horas vagas.... ou o inverso, sei la), quando o fiscal tava saindo ameaçou que se ele aparecesse de novo era porque tava doido pra visitar o Senhor!!!.... como fazer a coisa certa em Parauapebas se as pessoas ja sao propensas a fazer o ilegal?????

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    1. Som automotivo aqui no peba é um inferno, parece que os donos não tem medo da lei.
      Quanto a igreja sem alvará, basta o pastor dizer que apoia o atual prefeito nas próximas eleições que fica tudo bem.

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  4. O medo é uma guarnição. Vejo que devemos ter medo até certo ponto. No que tange a classe de jornalistas, pra essas bandas de cá onde ainda impera o velho oeste, o medo é muitas vezes um aliado a nos manter vivos. Já dizia o ativista Luther King, para ter inimigos não precisa declarar guerra, basta dizer o que pensa. Imagina dizer a verdade de certas coisas que acontecem no celeiro da política parauapebense.

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