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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Lula, FHC e a tentação dos pequenos favores.


Texto indicado pelo leitor José O. (Zelão) Vieira Reis


Diz a lenda que Assis Chateaubriand, magnata da imprensa entre os anos 1940 e 1960, costumava responder aos pedidos de aumento salarial de seus empregados com uma pergunta retórica: “Mas você não é repórter? Precisa de dinheiro pra quê?”

Era no tempo do rei - ou quase isso. Na concepção do dono dos Diários Associados, o salário de um jornalista era um detalhe entre outros rendimentos indiretos provenientes do ofício.
Em outras palavras, o repórter não precisava ter dinheiro para ter acesso a restaurantes, festas, presentes: bastava se relacionar com as pessoas certas - as interessadas em manter um bom relacionamento com quem poderia escrever sobre elas.

Desde que comecei a trabalhar como jornalista já recebi ofertas de viagem, convites para shows, jantares, ingresso para assistir corrida de automóveis e até de passeio de helicóptero. Aceitar seria divertido, mas significaria colocar sob suspeita qualquer notícia relacionada à generosidade das empresas.
Fico imaginando a vida de quem, em vez de espaços na imprensa, tem a prerrogativa de propor projetos de lei. Ou de sancioná-los.

No exercício do poder, políticos costumam dizer que, ao fim do mandato, é estranho acostumar-se novamente a abrir (literalmente) as próprias portas. Por extensão, deve ser estranho voltar a abrir a carteira após anos circulando entre agrados de anfitriões e convidados – há sempre, imaginamos, alguém disposto a acertar a fatura. Digamos, a reforma de um sítio. Ou um apartamento. Ou a pensão dos filhos.

Na estranha história da reforma de um sítio frequentado pela família Lula, paga supostamente por empreiteiras investigadas na Lava Jato, não é o valor da obra ou das encomendas entregues no local os elementos de suspeição. É o fato de um ex-presidente, influente no governo da sucessora e com razoáveis pretensões eleitorais, ter supostamente aceitado o agrado de empresários interessados em manter o bom relacionamento institucional em troca de favores pessoais.

Não importa o quanto esses agrados pareçam picuinhas. Quando se trata de figuras públicas, tenham ou não mandato é justificada a atenção da imprensa e das autoridades sobre a proximidade entre eles e as empresas interessadas em operar por meio de agrados ou atalhos.

Tão estranho quanta essa proximidade para além da margem de segurança é usar simpatias e antipatias partidárias para espernear ou cravar quem (não) inventou a roda. Em uma disputa tão acirrada entre partidos, é bom lembrar os versos de uma velha música: “tudo aquilo contra o que sempre lutam é exatamente tudo aquilo que eles são”.

Confortável, até então, no camarote de onde assistia à dissolução do patrimônio petista - o discurso de que, apesar dos erros e das prisões de aliados, tudo foi feito em nome de um bem maior, jamais em troca de benefícios pessoais - Fernando Henrique Cardoso será cobrado, a partir de agora, a explicar por que diabos uma empresa privada repassaria, durante anos, recursos para a conta de Mirian Dutra, ex-amante de quem reconheceu o filho, no exterior.

FHC, que até ontem subia no pedestal para pedir a renúncia de adversários, jura que os recursos eram dele. A transferência era feita, segundo noticiou a colunista Mônica Bergamo, por meio da assinatura de um contrato fictício de trabalho entre dezembro de 2002 e dezembro de 2006. O acordo, afirmou a jornalista, foi intermediado por um lobista.

À Folha o ex-presidente admitiu manter contas no exterior e ter mandado dinheiro para o filho da jornalista, que foi presenteado recentemente com um apartamento de € 200 mil em Barcelona, na Espanha.

O que faz da vida dele, por óbvio, é questão de foro íntimo. Mas, se pau que bate em Chico também bate em Francisco, as perguntas de sempre, válidas para qualquer homem público, sobre correlação entre despesas, patrimônio e favores desempenhados por terceiros podem e devem ser feitas. Em situação parecida, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) foi alvo de uma devassa por tentar justificar a origem de recursos para pagar a pensão de uma amante – a suspeita é que o acerto era cortesia de uma empreiteira.

Confira daqui a pouco: A PENEIRA DO MEDO.

Um comentário:

  1. O chato disso tudo é que a Globo, quando cita o caso, Santifica o FHC e condena a Mirian Dutra, como se ela fosse a vilã e ele o mocinho. E olhem que a moça era uma global de nível internacional! Já pensou se fosse uma pé de chinelo - uma putinha qualquer? Já estaria na fogueira fazendo companhia a Joana D'arc.

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