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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Uma noite de agonia

No dia 02 de novembro, dia de finados em pleno sábado tive uma experiência diferente de tudo o que já vivi. Meu pai, um teimoso jovem de quase 86 anos resolveu fazer estripulia e caiu de uma altura de 3 metros. A primeira providência foi chamar a ambulância. Até aqui sempre ouvi falar mal desse serviço, porém, para minha sorte fui atendido pelo Corpo de Bombeiros e em menos de 10 minutos já estavam no local fazendo a remoção do meu pai. Quero aqui parabenizar e agradecer em público os componentes do Corpo de Bombeiros que prestaram um serviço exemplar. Sei que muitos não tiveram a sorte que eu tive, pois o fato aconteceu pela manhã onde geralmente há poucas ocorrências. Caso fosse num horário de pique, talvez meu pai teria sofrido um pouco mais pela falta de estrutura desse serviço em nosso município.

Como era emergência, naturalmente meu pai foi conduzido ao Hospital Municipal. Foi lá que passei por uma experiência inusitada. Nunca havia conhecido de perto o serviço de emergência, principalmente em horário de pico como nos finais de semana. Já conhecia em teoria através de relatos de servidores, mas não é a mesma coisa. Confesso que me arrependi por não ter feito isso enquanto fui Secretário de Administração. Uma coisa é você conhecer na teoria, a outra é você passar uma noite na emergência, vendo tudo acontecer ao vivo. Se tivesse feito isso antes, talvez eu teria comprado algumas brigas e arranjado alguns inimigos.

Como falei, meu pai deu entrada na emergência por volta das 08 horas da manhã. Foi bem atendido a medida do possível e ficou sendo medicado na própria emergência. Segundo um funcionário, após o atendimento de emergência ele deveria ir para a enfermaria receber os cuidados devidos, mas por falta de vagas, ficaria ali mesmo na emergência. Foi durante a madrugada de sábado para domingo que testemunhei a verdadeira loucura que é o setor de emergência daquele hospital.

A todo instante chegava gente com todo tipo de emergência. Gente baleada, acidentada de moto, espancada, com coma alcoólico, etc. As pessoas que conseguiam dar entrada na emergência eram atendidas ali mesmo de forma improvisada no corredor, deitadas em macas ou sentadas em cadeiras, pois não haviam mais camas. Do lado de fora muitos aguardavam agonizantes para serem atendidos. Um verdadeiro inferno dantesco.

Nesse clima infernal quero chamar a atenção para o atendimento dos servidores. Mesmo num constante clima de tensão, não vi nem um servidor perder a calma e demonstrar desânimo. Todos trabalhavam com dedicação e davam o melhor de si para amenizar o sofrimento dos pacientes. Fiquei impressionado com o espírito de doação daquelas pessoas que trabalhavam naquele plantão. Muitos estavam ali desde a manhã de sábado. Dava para perceber no semblante o cansaço e o esgotamento físico, mas ninguém entregava os pontos. O Hospital Municipal está decadente, está doente, está pedindo socorro. Felizmente temos os servidores dedicados que ainda salvam a pátria.

Quero homenagear aqui esses bravos guerreiros que são os servidores públicos que trabalham no Hospital Municipal. Por um lado fico com a consciência tranquila por ter contribuído com a valorização dessa classe enquanto Secretário de Administração. Um exemplo dessa contribuição foi a regulamentação da insalubridade, pois da forma como estava, só priorizava os médicos e enfermeiros, deixando uma gama de servidores sem esse direito; por outro lado, sinto que deveria ter feito mais. Deveria ter comprado essa briga para melhorar a saúde do nosso município. Deveria ter me rebelado contra a sangria do orçamento que escorreu para a OSCIP Bem Viver sem nenhum retorno para o povo de Parauapebas.

Faço questão de ressaltar que não atribuo a culpa do caos que está a saúde pública ao governo atual. Esse problema já vem desde a primeira gestão municipal e foi se agravando ao longo dos anos. Na primeira gestão do Darci melhorou significativamente, porém declinou no segundo mandato. Ao meu ver o declínio começou com a obra do novo hospital. Houve falta de planejamento, descontrole administrativo e o prefeito demorou para fazer as mudanças necessárias. Quando resolveu fazer, mexeu nas peças erradas e agravou ainda mais o problema. Até o contrato da OSCIP que pareceu ser uma medida acertada para desburocratizar e modernizar a prestação de serviço, virou um atoleiro. A Bem Viver demonstrou desde o início que trouxe mais problemas que soluções. 

É preciso que tenhamos coragem para quebrar esse ciclo maldito que é a saúde de Parauapebas. Com um orçamento milionário como o nosso não podemos aceitar que entre governo e saia governo e a situação só piore. O nosso povo não merece isso. 

7 comentários:

  1. Muito corajosa e sincera sua abordagem. Parabéns pela autocrítica, mas você não podia fazer muita coisa. Era apenas uma ovelha no meio de uma alcateia. Trabalhei com você e vi o quanto se esforçava para mudar as coisas. Acho que você é o único que tem coragem de expor essa ferida. Parabéns.

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  2. Gostei do texto, só não concordo com o que você fala dos funcionários. Com algumas exceções, os funcionários são despreparados e agem com grosseria e insensibilidade. Alguns médicos desprezam os pacientes para priorizar as clínicas particulares. Um absurdo.

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  3. Não se deve esquecer que dizem por aí que o caso OSCIP Bem Viver tem o senhor Hernanes Margalho como patrono-mór dessa "Organização Social" que só promoveu o caos em nosso município. Hj esse "estoico" senhor, outrora o poderoso sec da Sefaz, dá expediente na Procuradoria do Município como simples procurador. Exemplo de "Bem Viver", óbvio!

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  4. Como arrependimento não mata e a vida é bela, ainda há tempo. Vamos à luta? Enquanto seu lobo não vem...
    Saúde ao seu Terêncio - ô menino traquino!!!

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  5. Jose Luiz o tempo que voce ficou na administracao tenho certeza que poderia ter feito muito mais, mas voce tinha que fazer seu pe de meia nao e mesmo. Da mesma forma quem esta na administracao no momento nao vai fazer muito pois tambem tem que fazer o pe de meia.

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  6. Apesar de saber que ninguém faz nada sozinho quando se trata de política e que aos engajados falta, na maioria das vezes, apoio, muito importante é a autocrítica encontrada no seu relato, pois se cada político ou secretário vivesse a realidade que se encontra a gestão, não somente da cidade de Parauapebas, mas do Pará e do Brasil em um todo; perceberia o caos generalizado e haveria respeito aos direitos da população, sendo assim, mais sensível e mais empenhado em convalescer as áreas que o povo brasileiro clama para que haja atento.

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  7. Por mais demagoga que seja a proposta os políticos deveriam mesmo ser obrigados a utilizar a saúde pública, acho que somente assim melhoraria.

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