Pesquisar este blog

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

BRUMADINHO - QUANTO VALE UMA VIDA?

SILÊNCIO


Temos 26 letras e com elas já escrevemos todas as cartas de amor e todas as declarações de guerra. Com elas falamos as palavras mais suaves e também dissemos as mais ásperas. E todas essas letras e palavras são insuficientes para dizer da dor... da morte... Da tragédia que está abaixo e além da lama.

Temos 10 algarismos, do zero ao nove, e com eles fizemos todos as contas astronômicas e todos os cálculos microscópicos. Com eles construímos quantidades de fortunas pessoais, percentuais de lucros empresariais... ao lado dos números nacionais e mundiai de pobreza, fome, miséria humanas. E todos esses algarismos e números não são bastante para subtrair a morte, diminuir a dor...

Temos 7 notas musicais e com elas compusemos todas as sinfonias mais celestiais e todas as músicas-grude mais "infernais". Com essas notas musicais embalamos todas as cantigas de ninar a vida que nasce e também escrevemos em partituras todos os réquiens de chorar a vida que se (es)vai. E todas essas notas são poucas, muito poucas, para reproduzir o universo sonante e silencioso dos ais de dor de corações e almas que se partem ante a morte que vive em corpos sem vida...

Temos inúmeros modos e maneiras, jeitos e "jeitinhos", atos e atitudes, ritos e rituais para nos expressarmos ante o imponderável da tragédia, da morte, da agonia da dor, da perplexidade da perda. Mas tudo -- letras e palavras, algarismos e números, jeitos e maneiras, ritos e rituais --, tudo é nada ante a hora derradeira, o momento último, o instante extremo, o suspiro final.

Silêncio
silênci
silênc
silên
silê
sil
si
s
ssssssss! Corpos dormem... 

Deixem o silêncio gritar...

EDMILSON SANCHES
edmilsonsanches@uol.com.br

2 comentários: