Pesquisar este blog

sexta-feira, 1 de junho de 2018

GREVE DOS CAMINHONEIROS - O QUE GANHAMOS E O QUE PERDEMOS?

Greve? Que greve?


Em primeiro lugar, temos que esclarecer que essa não foi uma greve. Legalmente, uma greve tem que obrigatoriamente ser aprovada em assembléia da categoria de acordo com o estatuto estabelecido de cada uma. No caso da mobilização dos caminhoneiros, não houve assembléia e, nem sequer um movimento unificado. Houve uma união consensual das várias entidades que representam os caminhoneiros Brasil a fora.

Também não foi um locaute como muitos queriam acreditar. Só recordando, locaute é quando uma greve é mobilizada exclusivamente pela classe patronal. Porém, nesse caso, não podemos negar que a parada só foi possível graças a intervenção dos empresários do setor de transporte de cargas que viram no movimento uma oportunidade de lucrar com a queda do preço do diesel. Um exemplo mais forte disso foi a participação efetiva de Emílio Dalçoquio, maior proprietário de carretas do Brasil. Uma figura polêmica, com perfil fascista e truculento, usou as redes sociais para espalhar mensagens imbecis com uma visão distorcida e conservadora da realidade.

Os interesses por trás da greve


Inocentemente, muitos acreditaram que o objetivo da greve era mudar o Brasil. Uma enxurrada de mensagens superficiais e desprovidas de sentido cuidaram de espalhar esse mito. Muitos brasileiros apoiaram o movimento mesmo sem levantar um dedo. Moveram os dedos apenas nos celulares com um apoio virtual que em nada contribuiu. Muitos até mudaram seu perfil com o slogan "somos todos caminhoneiros".

Esse movimento que começou de forma legítima, com a indignação dos trabalhadores da estrada contra os constantes e abusivos aumentos dos combustíveis, logo foi absorvido pela classe empresarial e por setores conservadores da sociedade que agregaram suas pautas e inflamaram o movimento. Os setores organizados da sociedade, as entidades classistas mais politizadas, os sindicatos e os partidos políticos mais avançados olharam o movimento com desconfiança, vendo a pauta conservadora.

No fundo, no fim da paralisação, descobriu-se que só quem foi beneficiado foi a classe empresarial que vai faturar milhões com a redução de $0,46 no litro de diesel. Ou alguém acredita que eles vão repassar essa diferença para os consumidores? 

Intervenção militar já


Essa paralisação serviu para mostrar o pior lado do brasileiro. Uma geração que não conheceu o que foi o período da ditadura militar (nem viveu e nem estudou História do Brasil), engrossou o movimento com faixas pedindo a intervenção militar. Ironicamente, os militares atenderam ao pedido dos manifestantes. O Temer mandou o exército e a Força Nacional desobstruir as rodovias, e eles fizeram no melhor estilo: chegaram jogando gaz lacrimogênio, spray de pimenta e atirando nos manifestantes com balas de borracha. Essa foi só uma amostra, um pequeno aperitivo do que é uma intervenção militar.

Gostaria de lembrar que militar não tem como finalidade e principio a administração de um país. Por sua natureza, cabe aos militares somente manter a ordem e a integridade, e, na maioria das vezes com repressão. No caso de uma intervenção, os manifestantes seriam os primeiros a levar porrada, a experimentar o pau de arara. Ledo engano achar que os militares iriam prender os corruptos e estabelecer a ordem no país. Hoje, quem vai para a cadeia é preto, pobre e lideranças de esquerda que tentam imprimir mudança ao sistema. Com uma intervenção militar, essa realidade seria amplificada, com a diferença que a liberdade de expressão seria suprimida. A imprensa seria censurada, o habeas corpus seria abolido e você, que costuma reclamar dos políticos, seria perseguido.

Pedir intervenção militar é ingenuidade, falta de conhecimento ou desonestidade. 

Resultado da paralisação


Com essa paralisação, tivemos alguns impactos na economia brasileira que atingem diretamente a população em geral. Vejamos alguns:


  1. Temer jogou a conta do desconto do diesel nas costas do povo brasileiro. O dinheiro do desconto, como foi anunciado pelo planalto sairá do tesouro nacional (o tesouro é uma forma carinhosa que o Temer usa para se referir a nós, o povo), do fundo da educação, saúde, da moradia popular e da reserva);
  2. A gasolina ficou mais cara e terá outros aumentos para cobrir o rombo da Petrobrás. A corrida do povo aos postos contribuiu para esse aumento.
  3. Os empresários do setor de transporte lucrarão milhões com a redução do diesel e não passarão esse desconto para os fretes e, consequentemente para as mercadorias.
  4. Após os 3 meses de trégua do aumento do diesel, voltará a subir exponencialmente para reduzir o prejuízo dos investidores internacionais.
  5. A Petrobrás teve um prejuízo bilionário na bolsa de valores (cerca de 120 bilhões de reais), o que levou ao pedido de demissão do presidente Pedro Parente pressionado pelos acionistas internacionais. Porém, a estatal não mudará sua política de aumento vinculado a variação do dólar, sangrando ainda mais e sacrificando a população.
  6. O gás de cozinha subiu escandalosamente e continuará tendo aumento abusivo, atingindo em cheio os mais pobres que já recorrem aos velhos fogareiros ou fogões à lenha.
  7. Com a subida de preço dos alimentos, os empresários estão aproveitando para aumentar a margem de lucro e, mesmo com o restabelecimento dos serviços, os preços não recuarão aos índices anteriores.

Um comentário:

  1. Ótima análise capitão. Infelizmente, as consequências que você apresenta são reais. E essa é só mais uma consequência do golpe de 2016 quando o golpista Temer tomou o poder com o apoio do povo.

    ResponderExcluir