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sábado, 22 de julho de 2017

OSTRA FELIZ NÃO FAZ PÉROLA...

O local mais seguro para um navio é o porto onde ele está fundeado. Mas não é para portos que se constroem navios.
O lugar mais seguro para um automóvel é a garagem, onde ele fica guardado. Porém, não é para as garagens que se fabricam carros.
O melhor lugar para um bebê que se gera ou para uma criança que nasce é o ventre da mãe ou os braços do pai. Entretanto, não é para ficar vitalícia e umbilicalmente no ventre da mãe nem permanentemente debaixo das vistas do pai que se geram filhos.
Apesar de ali estarem seguros, não é para portos, mas sim para os mares, que navios são construídos. É para a probabilidade da tempestade, é para a possibilidade da bonança, é para a certeza da viagem que navios são feitos e são lançados à água e singram mares já ou nunca dantes navegados.
Navios são feitos porque os mares, e não os portos, existem.
Também é para roer distâncias, encurtar tempos, transportar pessoas e coisas em velocidade, mas sobretudo com segurança, que se fazem carros. Eles são para as ruas e estradas, pois das vielas e becos cuidam nossos pés.
É porque (ainda) existem espaços para trafegar, e não garagens para guardar, que se industrializam carros.
É para a vida, para o mundo, para a certeza das buscas e incerteza do encontro, que se geram filhos. Sobre eles, pais, no máximo, têm autoridade, não propriedade.
É urgente e preciso organizar as pessoas para que elas organizem, para melhor, nossa cidade, estado, o país, o mundo. Abrir não o leque que espalhe um arzinho de conforto, mas um fole, que resfolegue, que crie, espalhe e trabalhe também o desconforto, donde poderão sobrevir respostas e realidades.
O desconforto, o incômodo podem ser criativos e deles pode sair muita coisa boa.
É do desconforto, da irritação da ostra que nasce a preciosidade da pérola. (Grãos de areia e pequenos seres invasores chegam ao interior da ostra, que se irrita com isso e, para se proteger do "ataque", produz uma substância calcária -- o nácar -- que vai cobrindo o corpo agressor em camadas. Três anos depois, a pérola está formada.)
Não é um elogio às dificuldades nem à infelicidade. Nada disso. Mas, se ocorrer, quando ocorrer, faça da situação difícil algo bom. E aprenda com a Mãe natureza:
Ostra feliz não produz pérolas.

EDMILSON SANCHES
edmilsonsanches@uol.com.br
www.edmilsonsanches.com

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