Igreja Municipal da Prosperidade
"Ai de vós, que sois como os sepulcros que não aparecem, e sobre os quais os homens caminham sem o saber" (Lucas. 11, v. 44)
Uma nova igreja está sendo fundada em Parauapebas. Trata-se da Igreja Municipal da Prosperidade. Pelo menos é o que parece estar se transformando a nossa Câmara dos vereadores. Cada dia mais a tribuna está parecida com um púlpito usado para pregações e homilias. Nunca vi o nome de Deus ser tão maltratado e usado de forma indevida como acontece ali.
Política e religião é uma mistura explosiva. Uma coisa é o político ter fé, proferir palavras de agradecimento a Deus. Outra coisa é usar o espaço na câmara para pregações que não condizem com suas práticas. Como vovó já dizia: "quando vejo um ser justificando demasiadamente seus atos em Deus, já sei que está tentando esconder a podridão. Sua alma está negra como o breu, e sua consciência está mais suja que privada de botequim".
Nas sessões da câmara, é mais ou menos isso que estamos vendo. Alguns vereadores transformaram seus discursos em verdadeiras pregações carregadas de hipocrisia e sensacionalismo. Usam e abusam do nome de Deus, tentando justificar o injustificável. Quando há uma crise então, a coisa fica insuportável. Ao invés de discursos políticos na tribuna, assistimos pregações com muitas lamúrias e falsidade. Não sei se é falta de preparo, falta do que falar ou se trata mesmo de uma forma de dissimular culpas. Acho que vovó tinha razão.
Quando se usa o nome de Deus exageradamente em questões políticas é o mesmo que transformá-lo em um mero cabo eleitoral, um objeto. A casa de leis não é igreja e seu principal foco deve ser política e não religião. Está escrito no Livro Sagrado que Deus deu livre arbítrio ao homem. E esse livre arbítrio é total e irrestrito, para o bem ou para o mal. Não se trata de um blefe. Quer dizer que Deus deu inteligência e oportunidades a todos os seus filhos, e eles tem a liberdade de usar para construir ou destruir. No final, tudo será medido e julgado.
Pelas pregações que ouvimos nas sessões da câmara, dá a entender que esse livre arbítrio é só de brincadeirinha, e que Deus vem interferindo diretamente na política de Parauapebas e usando seus filhos como cobaias. Se não fizer a lição direitinho Deus vai mandar o GAECO e castigar os infiéis. Outra coisa que fica subentendido nas entrelinhas dos discursos é que o sujeito pode roubar, mentir, receber mensalão, trapacear, mas se fizer muita oração, pagar o dízimo e ser generoso nas ofertas, ficará de fora dos castigos de Deus.
Seria bom que essas pessoas levassem Deus mais a sério. Seria de bom grado se tais políticos arrependessem de verdade e confessassem seus pecados diante de Deus e dos homens. Só assim, teríamos a garantia de que não iriam voltar a cometer tais pecados. Seria de bom tom que nossos edis pregadores fizessem política de verdade, transformassem seus mandatos em instrumento de justiça e igualdade. Assim, estariam dando testemunhos verdadeiros de fé. Acho que Deus ficaria muito mais feliz.