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terça-feira, 27 de junho de 2023

IDEOLOGIA PRA QUÊ?

Outro dia, a caminho da academia, ouvia o programa matinal sertanejo de uma rádio local. O locutor, com voz alterada, anunciava o preço da arroba do boi gordo na região. Fiquei analisando sua indignação, sua revolta pelo fato de o preço do boi estar caindo. E ele, alterado, fazia comentários completamente desproporcionais, colocando a culpa no governo, nos eleitores do candidato tal.

Sua indignação era real, mas não era legítima. Na minha mania de ficar analisando as pessoas pela sua fala (geralmente as pessoas falam o que pensam, o que acreditam, mesmo quando contam piadas), vi que se tratava de um exemplo genuíno de uma vítima da ideologia dominante.

O dito locutor da rádio é claramente um pobre. Digo pobre de dinheiro, mas pela sua vivência e experiência (ou falta dela), se tornou pobre também de cultura e de espírito. O normal seria ele ficar feliz com a queda do preço da arroba do boi gordo, pois isso representa queda no preço da carne no açougue e, consequentemente, ele que ganha uma “miséria” como trabalhador assalariado, poderá comprar mais carne e melhorar sua alimentação. Seria até legítimo para um grande criador de boi, para um latifundiário sem visão de macro economia ter essa preocupação. Mas para um cidadão que não tem sequer uma cabeça de galinha, isso soa estranho e vai na contramão da lógica.

O locutor citado era apenas uma vítima da falta de conhecimento. Vítima da ideologia que emprenhou sua mente desde a infância com ideias paralelas a realidade, se tornou um alienado. E a ideologia dominante tem exatamente esse papel: fazer você comprar e assumir as ideias que favorecem a quem tem o poder econômico e, às vezes, o poder político. Isso leva o locutor a pensar como rico e não se reconhecer como um trabalhador assalariado. A ideologia dominante faz com que o pobre lute contra sua própria classe, contra seus próprios interesses. É isso que garante que o pobre seja a favor da reforma trabalhista que lhe tire direitos; isso garante que o pobre legitime a precarização do trabalho e acredite que é um empreendedor por ter uma moto e passar o dia entregando marmita sem nenhuma garantia de direito; alienado, sem quaisquer perspectivas, acredita ser quem não é, e vira um objeto útil a causa dos exploradores, dos milionários e joga sempre contra a sua classe. São seres úteis a manutenção do sistema que perpetua a miséria, a desigualdade e favorece a uma pequena elite.