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quarta-feira, 22 de junho de 2022

O SORRISO DA HIENA

...Continuação do texto QUEM PUXA SACO PUXA CARROÇA.


    Antes de tudo, quero deixar claro que durante os anos que estive em cargo de gestor no serviço público municipal, encontrei muitos servidores comprometidos, competentes e honestos. Felizmente, eles são maioria. Fiz muitas amizades e aprendi muito. Sempre expressei minha admiração e respeito pelos servidores públicos e, defendi-os acima de tudo. Porém, nem tudo são flores. Convivi com algumas espécies que são verdadeiros cancros do serviço público. São minoria, mas fazem muito barulho e estrago, e isso dá a falsa impressão de que são a maioria. 



Ao longo da minha vida pública, aprendi a identificar os diversos tipos de puxas saco. Apesar de se tornarem cada vez mais profissionais a ponto de dificultar a identificação, eles sempre se entregam nos detalhes. Convivi com alguns que me renderiam boas histórias e até penso em escrever um livro de crônicas sobre as diversas características, espécies e artimanhas dessa "fauna selvagem". Aqui quero ilustrar com o exemplo de um exemplar dessa espécie. Para preservar a identidade, vou chamá-la de hiena que é bem propício para as características e personalidade da dita. Para quem não conhece, a hiena, é um animal esquisito que ocorre em regiões da África e Ásia. Possui uma mandíbula poderosa e sua mordida é tão potente que a mordedura equivale a de três rottweiler. Quando mostra os dentes, parece que está sorrindo e chega a ser bonito de se ver. Apesar de conseguir caçar com eficiência, prefere ficar na espreita para comer a carniça deixada por outros animais. 

Pois bem. A minha hiena era uma moça  de beleza mediana. Dotada de um sorriso exótico, mostrava sempre uma arcada dentária que dava gosto de se ver. Com um ar angelical, rosto com traços refinados, magra, cabelos sempre escovados e bem tratados, desfilava pelos corredores da secretaria de educação com a desenvoltura de modelo. E estava sempre por perto, pronta para servir ao chefe em qualquer situação. De tanto desfilar saltitante nos corredores, seu trabalho estava sempre por fazer e sempre dava uma desculpa para não entregar as missões a ela confiada. Mas quando tinha alguma tarefa onde o chefe (eu) estava diretamente envolvido, a moça se esmerava com dedicação e, no dia seguinte, perguntava a todos se o chefe estava satisfeito. Mas não se contentava até conseguir chegar ao chefe e arrancar algum elogio.

Até aí, tudo bem. Que mal tem alguém se dedicar para que tudo saia perfeito? Além de não ter problema, é o recomendável a qualquer bom profissional. Mas meu instinto, minha experiência com essa fauna fez meu cérebro entrar em módulo alerta. Uma luzinha amarela começou a piscar. O grande problema, não era a dedicação. O problema era a excessiva dedicação na tentativa de agradar o chefe, a necessidade excessiva de elogios e o descaso e desleixo nas suas principais atribuições.

Mas não para por aí. A minha hiena sempre dava um jeito de estar posicionada estrategicamente no corredor quando eu chegava ao trabalho. Com aquele sorrisão encantador – não era tão bonita, mas o sorriso compensava seus defeitos - me abraçava de um jeito sensual e sussurrava em meu ouvido elogios de cunho íntimo. E a hiena era casada! Confesso que ficava desconcertado e preocupado com os olhos indiscretos e os comentários maldosos. Quero registrar aqui que aprecio muito um abraço verdadeiro, e minha experiência me permite fazer distinção.

Infelizmente, comprovei que meu instinto não me enganou. A moça não tinha só o sorriso de hiena. Tinha também uma poderosa mordida. Como uma boa puxa saco da espécie mais perigosa, buscava sempre agradar e até tentar seduzir o chefe. Ficava na espreita colhendo informação para repassar a terceiros. 

Quando fiquei afastado da secretaria por quinze dias, consegui ver as imagens dela dando pulos pelos corredores e confraternizando com outras hienas. Quando voltei ao cargo, quem estava a minha espreita dizendo que estava com saudade e querendo me abraçar?

Ganha um livro quem acertar.

 


terça-feira, 21 de junho de 2022

QUEM PUXA SACO PUXA CARROÇA

    

Você conhece algum puxa saco? Certamente, não só conhece, mas convive com algum da espécie. É aquele indivíduo bajulador que vive buscando vantagem ou benefício pessoal. Está sempre rodeando, elogiando falsamente e exageradamente alguém que possa lhe proporcionar alguma vantagem ou fazer-lhe algum favor. Vive de prontidão, aguardando servilmente alguma migalha cair no chão para abocanhar. 

    O puxa saco é um saco sem fundo. Sua especialidade é arrancar cada vez mais benefícios da vítima escolhida. No início, demonstra ser uma pessoa solícita, atenciosa e sem qualquer pretensão. Convencem que apenas gostam de servir por puro altruísmo e admiração pelo outro. Vai conquistando a confiança metodicamente até que se torna uma espécie de protozoário que lança seus filamentos na vítima e só larga quando suga toda sua energia. Geralmente, quando a vítima percebe, já é tarde demais. 

    Existe na natureza, convivendo conosco, milhares de espécies de puxa saco. Alguns, sem nenhuma competência ou habilidade. Outros, com muita competência a ponto de elaborar método próprio para tirar vantagem das pessoas. Mas uma característica comum é que se passam por pessoas boazinhas, cheias de boas intenções e que gostam de ajudar o próximo. Com o numero cada vez maior, o puxa saco passou a ser tolerado e, muitas vezes admirado na sociedade. Muitos até se assumem abertamente como puxa saco e até usam argumentos para validar seu comportamento. Quem nunca ouviu a expressão: "quem não puxa saco puxa carroça". Eu diria que é muito mais digno puxar carroça do que carregar o ego alheio nas costas.

    Não se engane. Quem puxa saco puxa tapete. É um ser completamente desprovido de qualquer senso ético, virtude moral e empatia. Geralmente, tem uma vida infeliz, carregada de frustações e derrota. Como um protozoário, não gosta do corpo hospedeiro. Traduzindo: o puxa saco não gosta de você. No fundo, ele nutre ódio por você, ele deseja ardentemente o que você tem, as suas virtudes, seus amigos, sua família, seu trabalho. O que parece ser admiração, é apenas frustação, inveja e desespero por se achar incompetente por não conseguir imitá-lo. Aprenda a identificar essa espécie e fuja dela enquanto é tempo. 

    Apesar de ser extremamente perigoso, os puxa sacos são cada vez mais numerosos e conseguem se encaixar com facilidade nos seus hospedeiros vítimas. O meio político por exemplo é uma fauna perfeita para que essa espécie se prolifere e tenha muito sucesso. Quanto mais a pessoa é vaidosa, insegura, carente, emocionalmente instável e sem escrúpulos, mais se torna um hospedeiro perfeito para vários puxas saco. Pessoas de caráter duvidoso necessitam de uma legião de puxa saco para alimentar seu ego e sua carência afetiva. Portanto, um precisa do outro e vivem umbilicalmente interligados num perfeito ecossistema. 

Continua...


Aguarde a Parte II - O sorriso da hiena (a espécie mais perigosa de puxa-saco)