Pesquisar este blog

quinta-feira, 13 de abril de 2023

MINHA ESCOLA FOI ATACADA. E AGORA?

Nos últimos dias, a sociedade brasileira ficou chocada com os casos de ataques as escolas. E quando professores e estudantes são atacados e mortos dentro do local que deveria ser um lugar sagrado e confiável para deixar nossas crianças, é natural que sejamos tomados pelo pânico e pela sensação de impotência. E nesse momento, infelizmente, tomados pela emoção, temos tendência em pensar em soluções imediatistas e estapafúrdicas. 

Diante do caos, nossas autoridades, de forma apressada, adotaram medidas que nada contribuirão para evitar novos ataques e proteger nossas crianças e professores. O governador do Pará Helder Barbalho anunciou que colocará policiais nas escolas. A prefeita de Canaã dos Carajás anunciou que além de policiais, colocará concertina (aquelas bolas de arames cortantes que se usa em presídios) nos muros das escolas e detector de metais nas entradas. 

Os pais de alunos, por sua vez, exigem medidas drásticas como segurança armada, detector de metais e, pasmem, até professores armados e crianças trancadas nas salas de aula.

O que as autoridades esqueceram foi o detalhe mais importante: consultar os educadores. Sim, os esquecidos professores. Um conselho de especialistas em educação seria capaz de analisar o cenário, estudar as medidas que fracassaram ou deram certo em outros países e, ai sim, apresentariam um conjunto de propostas concretas e consistentes capazes de frear essa estupidez.

Mas para entender o que está acontecendo, é necessário que continue lendo o texto com muita atenção e analise os dados com frieza.

Mas, afinal, o que está acontecendo com o Brasil?

Em 07 de abril de 2011, (há exatamente 12 anos) no bairro do Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, um ex-aluno de 23 anos invadiu a escola municipal Tasso da Silveira, armado com 2 revólveres, atirou e matou 12 alunos (sendo 10 meninas), feriu 13, e em seguida se matou. Na época, o caso foi tratado pela imprensa como de fato era na ocasião: algo fora do comum no Brasil.

"De acordo com mapeamento da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre casos de ataques em escolas por alunos ou ex-alunos, o primeiro episódio foi registrado em 2002. À época, um adolescente de 17 anos disparou contra duas colegas dentro da sala de aula de uma escola particular de Salvador. O levantamento da Unicamp deixa de fora episódios de violência não planejados, que podem ocorrer, por exemplo, em decorrência de uma briga". (agênciabrasil.ebc.com.br).

Foram listados 22 ocorrências desde 2002. Ao todo, 30 pessoas morreram, sendo 23 estudantes, 05 professores e 02 funcionários das escolas.

Do total de casos, 13 (mais da metade) estão concentrados apenas nos últimos dois anos - 2022 e 2023. Isso demonstra claramente que as ações estão ligadas ao crescente discurso de ódio e ao incentivo para que a população se arme. E você cidadão, sem saber, pode ter contribuído com isso.

Para justificar a minha tese, cito o exemplo dos Estados Unidos. Lá existe o maior numero de ataque em escolas do mundo, e, não por coincidência, é onde existe o maior numero de cidadãos armados e a cultura armamentista é dominante. Quando o ex-presidente Barack Obama tentou restringir o acesso a armas pelos civis, encontrou uma forte barreira no Congresso que, por sua vez, tem o maior numero de congressistas com campanhas financiadas pelos fabricantes de armas. Entendeu a lógica?

Qual seria a solução para evitar mais ataques


Essa é a pergunta de milhões e que a resposta é mais complexa do que você imagina. Mas vamos começar pelo...

...O que não devemos fazer


  • Colocar policiais, guarda municipal ou seguranças armados nas escolas - Além de não resolver o problema ainda pode criar outros. Se fosse assim, nos Estados Unidos não teria mais ataques nas escolas. Lá, uma "agência de pesquisa governamental analisou dezenas de revisão de pesquisas publicadas entre 2000 e 2020 sobre o policiamento escolar e concluiu que a presença de policiais não aumentou a segurança nas escolas e não preveniu ataques violentos". (Fonte: G1 Educação). E ainda teríamos mais um agravante no Brasil: o numero deficitário de policiais no Pará e no Brasil, iria deixar outras áreas descobertas, facilitando o ataque de marginais em outros pontos da comunidade. 
  • Colocar detectores de metais nas portas das escolas - Você já viu como é num aeroporto? Quando o detector de metais apita é um inferno. Revista, abre bolsa, passa novamente... No aeroporto ok, pois além do numero menor do que numa escola, eles possuem toda uma infraestrutura para isso. Agora visualiza na porta da escola! Menino abrindo a mochila, derramando tudo na calçada para encontrar a tesoura, mãe nervosa e com pressa para deixar o filho e voltar para o trabalho, rua interditada pelo numero de alunos aguardando a revista... Ou seja, uma escola pequena iria gastar em média 2 horas para a entrada dos alunos. Agora imagine uma escola pública com mil alunos por turno?

O que podemos fazer?

O perigo está em casa... ou dentro da escola


A solução não é simples, visto que vivemos numa sociedade forjada a partir de conceitos capitalistas/consumista onde grande parte das famílias são reféns dos seus filhos adolescentes. Como eu disse antes, as autoridades tem que ouvir os educadores que vivenciam o dia-a-dia da escola. E começar a investir na educação já seria um bom começo. A educação foi a área que mais sofreu corte de verba nos últimos 4 anos. Somente em 2021, foram quase 5 bilhões de cortes no orçamento do MEC que já não é grande coisa. As escolas públicas aqui de Parauapebas sequer tem projeto anti-incêndio e nunca vi a sociedade se mobilizando para cobrar isso. É uma questão de EDUCAÇÃO.

Porém, emergencialmente, caberia aos governadores e prefeitos, ao invés de colocar policiais nas escolas, usar o serviço de inteligência das polícias e guardas municipais para investigar e monitorar redes sociais de grupos extremistas que propagam violência. E, caso realmente haja a necessidade de colocar policial na escola, que seja à paisana, de forma discreta para ter mais eficiência e se misturar no meio escolar. Imagine a cena de um policial fardado na escola: alunos apreensivos, em pânico e desconcentrados; enquanto os possíveis agressores/assassinos, vendo a presença da polícia, construa um plano B como acontece com frequência nos EUA.

Por outro lado, cabe aos pais a tarefa mais importante dessa missão de proteger nossas crianças: monitorar os filhos. Isso mesmo que falei: monitorar os filhos. Por mais que se propague esse discurso de que a criança e o adolescente tem que ter liberdade, essa liberdade não é irrestrita, pois cabe ao adulto a responsabilidade sobre as ações dessas crianças e adolescentes.

Portanto pais, é sua responsabilidade fiscalizar a mochila do seu filho, e não da escola com detectores de metais. É sua a responsabilidade saber o que seu filho posta nas redes sociais ou quem ele segue antes de virar caso de polícia. É sua responsabilidade ver que tipo de jogo seu filho joga no PlayStation ou no celular. É sua responsabilidade saber com quem ele "tecla" no celular, de qual comunidade ele participa e quem são suas principais influências nas redes sociais.

Veja nas estatísticas, que a maioria dos ataques foram feitos por alunos ou ex-alunos. E nesse caso, não adianta polícia, guarda armada ou muros de presídio nas escolas. 

É inegável que nossa sociedade está adoecida. A escola deixou de ser um lugar interessante e professores deixaram de ser autoridades importantes e influenciadores. Hoje em dia quem influencia nossas crianças são influencers vazios que despejam futilidades e inutilidades nas redes sociais. E são exatamente essas redes sociais que estão formando mentes paranoicas, violentas e cheias de ódio.

O fato é que precisamos reconstruir uma cultura de paz primeiro dentro de casa e depois na escola. Como diz o ditado: a fruta não cai longe do pé. Então, veja o que está ensinando aos seus filhos através dos exemplos e das práticas mais sutis do dia-a-dia. Converse com suas crianças, liguem o sinal de alerta aos menores sinais de distúrbios emocionais. 

Não diga o que a escola tem que fazer, mas pergunte honestamente o que ela está fazendo a respeito. Converse com professores, coordenadores e direção. E acima de tudo: não entre em pânico.

E pelo amor de Deus: pais, compareçam às reuniões bimestrais de pais e mestres da escola do seu filho e pare de inventar desculpas para sua ausência!