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segunda-feira, 15 de outubro de 2018

APAIXONEI-ME POR UMA PROSTITUTA! E AGORA?!

No começo tudo era um sonho. Ela foi chegando de mansinho, foi me cercando de carinho, cuidados e promessas de uma vida farta.

Sua voz rouca, seus lábios de mel, suas mãos de veludo, seu corpo juvenil... Tudo era um convite irrecusável para um mergulho sem volta no lago do amor.

Quando meus olhos cruzaram com os seus, senti o coração palpitar precipitadamente, um torpor dominou meu rosto, uma vertigem fez o mundo girar e tive a sensação que meus pés perderam o contato com o chão. Agarrei-me a ela como a única tábua de salvação num oceano infindo. Aquele olhar profundo, feito duas bolas de puro mistério, invadiu minha alma pura e sem pedir licença, se apossou do meu coração sem frescura.

De um lado meus instintos racionais me pediam para fugir da armadilha; por outro lado, meus sentimentos pediam para me entregar sem medo. Foi uma luta hercúlea, onde a emoção venceu a razão. Quando menos percebi, já estava completamente envolvido, dominado, subjugado, como uma aranha presa em sua própria teia, que não luta, não resiste, apenas assiste como dominado por um poderoso ópio.

No começo tudo era um sonho. Ah, que sonho! Aos poucos, tudo foi se transformando num pesadelo.

Aquela ilusão de que eu era único, especial, importante, insubstituível foi caindo por terra. Percebi que eu era apenas mais um nessa engrenagem que seria usado, mastigado e cuspido sem piedade. 

Suas carícias agora eram arranhões que deixavam cicatrizes eternas; seus olhos que antes sugeriam mistério, agora exprimiam desilusão, desesperança e medo. Suas formas sensuais foram se transformando num corpo disforme, infame e medonho. Será que não fora sempre assim e eu não percebi por estar cego pelo amor? - Pensei confuso.

Tentei fugir da armadilha. Tarde demais. Já estava completamente dominado, dependente, subjugado, viciado, fragilizado. 

Pior do que suportar as dores desse amor insano, é suportar a opressão e o domínio do seu cafetão. Um verdadeiro carrasco frio, dominador, cruel e violento. Não bastasse ela, que suga toda minha energia, ele me arranca toda a dignidade, toda a possibilidade de humanidade. Dita ordens, cada uma mais absurda que a outra, impõe novas e arbitrárias resoluções, vocifera, esbraveja e humilha. Como uma porca gorda que já não anda, uma velha faca cega que há muito não corta, o cafetão vai roubando minha energia, minha saúde e, exigindo cada vez mais sacrifício para manter o seu poder.

Me debato, me arrebato, grito, esperneio... tudo em vão. Já atravessei a linha do caminho sem volta. Estou completamente dominado por essa prostituta e seu poderoso cafetão. Agora só me resta esperar o momento onde não servirei mais aos seus propósitos, e finalmente, serei cuspido. Pelo menos, restará a ilusão do "enfim livre". 

Mas afinal, quem é essa prostituta? Quem é esse cafetão? Ela se chama EDUCAÇÃO e ele se chama ESTADO.


PS. Com esse texto não estou denegrindo a educação nem desmerecendo as prostitutas. Sou professor da rede pública há 32 anos e sou completamente apaixonado por minha missão de educar. Apenas ofereço uma crítica à forma como os governantes tratam a educação e os professores.

Parabéns a todos os educadores que, apesar das adversidades, insistem nessa nobre missão. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Sua tia não é fascista, ela está sendo manipulada

 Você se pergunta como um candidato com tão poucas qualidades e com tantos defeitos pode conseguir o apoio quase que incondicional de grande parte da população?

 Você já tentou argumentar racionalmente com os eleitores deles, mas parece que eles estão absolutamente decididos e te tratam imediatamente como inimigo no mais leve aceno de contrariedade?

 Até sua tia, que sempre foi fofa com você, agora ataca seus posts sobre política no facebook?

 Pois bem, vou contar uma história.

 O principal nome dessa história é um sujeito chamado Steve Bannon. Bannon tinha uma visão de extrema direita nacionalista. Ele tinha um site no qual expressava seus pontos de vista que flertavam com o machismo, com a homofobia, com a xenofobia, etc. Porém, o site tinha pouca visibilidade e seu sonho era que suas ideias se espalhassem com mais força no mundo.

 Para isso, Bannon contratou uma empresa chamada Cambridge Analytica. Essa empresa conseguiu dados do facebook de milhões de contas de perfis por todo mundo. Todo tipo de dado acumulado pelo facebook: curtidas, comentários, mensagens privadas. De posse desses dados e utilizando algoritmos, essa empresa poderia traçar perfis psicológicos detalhados dos indivíduos.

 Tais perfis seriam então utilizados para verificar quais indivíduos estariam mais predispostos a receber as mensagens: aqueles com disposição de acreditar em teorias conspiratórias sobre o governo, por exemplo, ou que apresentavam algum sentimento de contrariedade difuso ao cenário político atual.

  A estratégia seria fazer com que esse indivíduo suscetível a essas mensagens mudasse seu comportamento, se radicalizasse. Como as pessoas passaram a receber as notícias e a perceber o mundo principalmente através das redes sociais, não é difícil manipular essas informações. Se você pode controlar as informações a que uma pessoa tem acesso, você pode controlar a maneira com que ela percebe o mundo e, com isso, pode influenciar a maneira como se comporta e age.

 Posts no facebook podem te fazer mais feliz ou triste, com raiva ou com medo. E os algoritmos sabem identificar as mudanças no seu comportamento pela análise dos padrões das suas postagens, curtidas, comentários.

 Assim, indivíduos com perfis de direita e seu tradicional discurso “não gosto de impostos” foram radicalizados para perfis paranóicos em relação ao governo e a determinados grupos sociais. A manipulação poderia ser feita, por exemplo, através do medo: “o governo quer tirar suas armas”. Esse tipo de mensagem estimula um sentimento de impotência e de não ser capaz de se defender. Estimula também um sentimento de “somos nós contra eles”, o que fecha a pessoa para argumentos racionais.

 Sites e blogs foram fabricados com notícias falsas para bombardear diretamente as pessoas influenciáveis a esse tipo de mensagem. Além disso, foi explorado também um sentimento anti-establishment, anti-mídia tradicional e anti “tudo isso que está aí”. Quando as pessoas recebiam várias notícias de forma direta, e não viam essas notícias repercutirem na grande mídia, chegavam à conclusão de que a grande mídia mente e esconde a verdade que eles tem.

 Se antes a mídia tradicional podia manipular a população, a manipulação teria que ser feita abertamente, aos olhos de todos. Agora, todos temos telas privadas que nos mandam mensagens diretamente. Ninguém sabe que tipo de informação a pessoa do lado está recebendo ou quais mensagens estão construindo sua percepção de realidade.

 Com esse poder nas mãos, Bannon conseguiu popularizar a alt right (movimento de extrema direita americana) entre os jovens, que resultou nos protestos  “unite de right” no ano passado em Charlottesville, Virgínia que tiveram a participação de supremacistas brancos. Bannon trabalhou na campanha presidencial de Donald Trump e foi estrategista de seu governo. A Cambridge Analytica trabalhou também no referendo do Brexit, que foi vencido principalmente por argumentos originados de fakenews.

 Quando a manipulação veio à tona, Mark Zuckerberg foi chamado ao senado americano para depor. Pra quem entendeu o que houve, ficou claro que a democracia da nação mais importante do mundo havia sido hackeada. Mas os congressistas pouco entendimento tinham de mídia social; e quem estaria disposto a admitir que a democracia pode ser hackeada através da manipulação dos indivíduos? 

 Zuckerberg estava apenas pensando em estabelecer um modelo de negócios lucrativo com a venda de anúncios direcionados. A coleta de dados e a avaliação de perfil psicológico das pessoas tinham a intenção “inocente” de fazer as pessoas clicarem em anúncios pagos. Era apenas um modelo de negócios. Mas esse mesmo instrumento pode ser usado com finalidade política.

 Ele se deu conta disso e sabia que as eleições brasileiras podiam estar em risco também. Somos uma das maiores democracias do mundo. O facebook tomou medidas ativas para evitar que as campanhas de desinformação e manipulações ocorressem em sua rede social. Muitas contas fake e páginas que compartilhavam informações falsas foram retiradas do facebook no período que antecede as eleições.

 Mas não contavam com a capilarização e a popularização dos grupos de whatsapp. Whatsapp é um aplicativo de mensagens diretas entre indivíduos; por isso, não pode ser monitorado externamente. Não há como regular as fakenews, portanto. Fazer um perfil fake no whatsapp também é bem mais fácil que em outras redes sociais e mais difícil de ser detectado.

 Lembram do Steve Bannon, que sonhou com o retorno de uma extrema direita nacionalista forte mundialmente? Que tinha ideias que são classificadas como anti minorias, racistas e homofóbicas? E que usou um sentimento difuso anti “tudo que está aí”, e um medo de os homens se sentirem indefesos para conquistar adeptos?

 Pois bem, ele se encontrou em agosto com Eduardo Bolsonaro. Bolsonaro disse que o Bannon apoiaria a campanha do seu pai com suporte e “dicas de internet”, essas coisas. Bannon é agora um “consultor eventual” da campanha. Era o candidato ideal pra ele, por compartilhava suas ideias, no cenário ideal: um país passando por uma grave crise econômica com a população desiludida com a sua classe política. 

 Logo depois de manifestações de mulheres nas ruas de todo o Brasil e do mundo contra Bolsonaro, o apoio do candidato subiu, entre o público feminino, de 18 para 24 por cento. Um aumento de 6 pontos depois de grande parte das mulheres se unir para demonstrar sua insatisfação com o candidato.

 Isso acontece porque, de um lado, a grande mídia simplesmente ignorou as manifestações e, por outro, houve um ataque preciso às manifestações através dos grupos de whatsapp pró-Bolsonaro. Vídeos foram editados com cenas de outras manifestações, com mulheres mostrando os seios ou quebrando imagens sacras, mas utilizadas dessa vez para desmoralizar o movimento #elenão entre as mais conservadoras.

 Além disso, Eduardo Bolsonaro veio a público logo após a manifestação e declarou: “As mulheres de direita são mais bonitas que as de esquerda. Elas não mostram os peitos e nem defecam nas ruas. As mulheres de direita têm mais higiene.” Essa declaração pode parece pueril ou simplesmente estúpida mas é feita sob medida para estimular um sentimento de repulsa para com o “outro lado”.

Isso não é nenhuma novidade. A máquina de propaganda do nazismo alemão associava os judeus a ratos. O discurso era que os judeus estavam infestando as cidades alemãs como os ratos. Esse é um discurso que associa o sentimento de repulsa e nojo a uma determinada população, o que faz com que o indivíduo queira se identificar com o lado “limpo” da história. Daí os 6 por cento das mulheres que passaram a se identificar com o Bolsonaro.

 Agora é possível compreender porque é tão difícil usar argumentos racionais para dialogar com um eleitor do Bolsonaro? Agora você se dá conta do nível de manipulação emocional a que seus amigos e familiares estão expostos? Então a pergunta é: “o que fazer?”

 Não adiante confrontá-los e acusá-los de massa de manobra. Isso só vai fazer com que eles se fechem e classifiquem você como um inimigo “do outro lado”. Ser chamado de manipulado pode ser interpretado como ser chamado de burro, o que só vai gerar uma troca de insultos improdutiva.

 Tenha empatia. Essas pessoas não são tolas ou malvadas; elas estão tendo suas emoções manipuladas e estão submetidas a uma percepção da realidade bastante diferente da sua.

Tente trazê-las aos poucos para a razão. Não ofereça seus argumentos racionais logo de cara, eles não vão funcionar com essas pessoas. A única maneira de mudar seu pensamento é fazer com que tais pessoas percebam sozinhas que não há argumentos que fundamentem suas crenças e as notícias veiculadas de maneira falsa.

 Isso só pode ser feito com uma grande dose de paciência e de escuta. Peça para que a pessoa defenda racionalmente suas decisões políticas. Esteja aberto para ouvi-la, mas continue sempre perguntando mais e mais, até ela perceber que chegou num ponto em que não tem argumentos para responder.

 Pergunte, por exemplo: “Por que você decidiu por esse candidato? Por que você acha que ele vai mudar as coisas? Você acha que ele está preparado? Você conhece as propostas dele? Conhece o histórico dele como político? Quais realizações ele fez antes que você aprova?”

 Em muitos casos, a pessoa tentará mudar o discurso para falar mal de um outro partido ou do movimento feminista. Tal estratégia é esperada porque eles foram programados para achar que isso representa “o outro lado”, os inimigos a combater.

Nesse caso, o caminho continua o mesmo: tentar trazer a pessoa para sua própria razão: “Por que você acha que esse partido é tão ruim assim? Sua vida melhorou ou piorou quando esse partido estava no poder? Como você conhece o movimento feminista? Você já participou de alguma reunião feminista ou conhece alguém envolvido nessa luta?”

 Se perceber que a pessoa não está pronta para debater, simplesmente retire-se da discussão. Não agrida ou nem ofenda, comportamento que radicalizaria o pensamento de “somos nós contra eles”. Tenha em mente que os discursos que essa pessoa acredita foram incutidos nela de maneira que houvesse uma verdadeira identificação emocional, se tornando uma espécie de segunda identidade. Não é de uma hora pra outra que se muda algo assim.

 Duas das mais importantes democracias do mundo já foram hackeadas utilizando tais técnicas de manipulação. O alvo atual é o nosso país, com uma das mais importantes democracias do mundo. Não vamos deixar que essas forças nos joguem uns contra os outros, rasgando nosso tecido social de uma maneira irrecuperável.

  P.S.: Por favor, pesquise extensamente sobre todo e qualquer assunto que expus aqui, e sobre o qual você esteja em dúvida. Não sou de nenhum partido. Sou filósofo e,  como filósofo, me interesso pela verdade, pela ética e pelo verdadeiro debate de ideias.


Texto de Rafael Azzi

domingo, 7 de outubro de 2018

O OVO DA SERPENTE

No início, era só uma pequena possibilidade, uma distração de alguns desavisados. 
A serpente está morta e bem lacrada no seu túmulo negro, restando somente uma triste lembrança - pensávamos. Mas desprezamos o seu ovo que repousava com segurança no velho pântano de lama negra. Abandonado desde os tempos de horror, jazia latente, pronto para eclodir, bastando para isso uma grande dose de veneno.
O veneno foi surgindo aos poucos, sem que déssemos a devida importância. No início, apenas alguns tolos, desprovidos de conhecimento, de consciência ou mesmo de vergonha. Aqui, acolá, outros foram se juntando e ampliando esse cortejo fétido disfarçado de marcha redentora. "O mito, o salvador da pátria, Deus, pátria, família..." - elementos de sedução espalhados pela chuva despretensiosa de fim de tarde disfarçavam o cheiro de putrefação que pairava no ar, confundindo com o cheiro de primavera. Agora já não era somente os desprovidos de idéias, pobres inocentes. Sem nenhum pudor, foi se juntando a madame, o doutor, o ateu, o reverendo e o pastor. Quem defendia a vida, de repente passou a defender a morte; quem pregava a paz agora balbucia frases desconexas de rancor; quem propalava a esperança, agora ataca com fúria seus semelhantes; quem oferecia uma flor, um livro, agora deseja um fuzil. 
Numa espécie de transe frenético, um torpor, uma histeria coletiva, a procissão vai seguindo como onda, arrastando outros desavisados. Marcham como zumbis, repetem frases vazias como mantras, confiam cegamente no líder vazio e falastrão que vocifera enquanto expele bílis pela boca e sangra sob a lâmina fria do seu próprio pensamento.
Aos poucos, uma nuvem negra foi surgindo no horizonte, tornando-se uma ameaça real. O que era uma possibilidade ridícula, foi se transformando em pesadelo real. O ovo está pronto para eclodir. Foi chocado pela intolerância, pelo preconceito, pelo ódio, pela ganância e por todo tipo de mal.
Eis que surge a cabeça da serpente, que nem saiu do ovo e já ameaça devorar o séquito de seguidores que lhes deu a vida para depois vomitar impiedosamente. Um grito abafado, um clamor ecoa no horizonte da razão: e agora, quem será capaz de cortar a cabeça da serpente antes que se torne um dragão?

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

OS BUMBOS DO ANTIPETISMO

Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:

Entre sexta-feira e ontem, quando o Datafolha fez sua última pesquisa, Jair Bolsonaro cresceu quatro pontos, passando de 28% para 32%, apesar das manifestações nacionais que as mulheres fizeram contra ele no sábado. 

O petista Fernando Haddad encolheu de 22% para 21%, e se não se recuperar, irá para o segundo turno enfraquecido. 

O que deu impulso a Bolsonaro foi o troar do antipetismo, no discurso de Alckmin e concorrentes, através das manobras do STF para calar Lula e da jogada de Moro ao liberar a delação de Palocci. 

A guerra do segundo turno está se antecipando e será pesada, talvez suja mesmo.

Quem nunca ouviu alguém dizer que deixará o Brasil se Bolsonaro virar presidente? 

Pois trate de conferir o passaporte. Na simulação de segundo turno do Datafolha, o capitão cresceu de 39% para 44% e Haddad caiu de 45% para 42%. 

O instituto, com rigor metodológico, fala em empate técnico, mas o que temos aí é mesmo um quadro em que Bolsonaro derrota o petista. 

E pode ganhar mesmo, por mais espantoso que seja escrever isso, admitindo que uma maioria eleitoral ressentida e egoísta pode impor ao Brasil a opção pelo autoritarismo, pelo capitalismo mais arcaico e pela regressão nos costumes.

Ciro Gomes continua aparecendo como quem tem mais chances de derrotar o ex-capitão no segundo turno (45% a 39%), mas, no adiantar da hora, só um crescimento sobrenatural poderia levá-lo a ultrapassar o petista. 

A mesma pesquisa diz que 84% dos eleitores de Bolsonaro e 82% dos eleitores do petista declaram que não mudarão o voto. 

Isso finca os dois no segundo turno, mas hoje o petista chegaria fragilizado. 

A erupção do antipetismo barrou Haddad e fez sua rejeição subir de 32% para 41%. 

A de Bolsonaro, sob os ecos do #elenão, caiu de 46% para 45%.

O antipetista já era um ser amargurado muito antes de o PT, achando que podia fazer o que os outros sempre fizeram, cometer os erros que lhe foram cobrados com rigor nunca antes aplicado a outros partidos que, para governar, também transigiram com a corrupção e com o fisiologismo. 

O antipetista, que votava no PSDB, soltou fogos quando estourou o mensalão, mas tucanos e pefelistas não ousaram tentar o impeachment de Lula. 

O antipetista vibrou depois com a condenação e prisão de estrelas como Genoíno e Dirceu no julgamento da AP-470. 

No segundo governo Lula, a ascensão dos pobres, os aviões cheios, os jovens pobres nas universidades, o sucesso internacional do Brasil e de Lula, tudo aquilo era intolerável, e o PT ainda elegeu Dilma. 

Mas em 2014, com o petrolão e a Lava Jato, pensou o antipetista, aquilo teria fim. Dilma se reelegeu. 

O PSDB juntou-se com o MDB para derrubar Dilma, mas o governo de Temer aprofundou a recessão e desnudou a corrupção emedebista. 

Os antipetistas trocaram então o PSDB por Bolsonaro. Ele não encarna exatamente uma extrema-direita, como a europeia, ou como Trump. Ele incorporou o espírito do antipetismo, acrescido de preconceito e de moralismo.

Nos últimos dias o candidato tucano Geraldo Alckmin adubou o antipetismo com suas peças de campanha: “votou Bolsonaro, elegeu o PT”, diz suas marchinhas. Todo seu discurso é sobre o “risco de o PT voltar”. 

Apontando o perigo oposto, o da vitória de Bolsonaro, Ciro também bate no PT. 

E a mídia repete o filme, publicando a delação de Palocci liberada por Moro.

Nesta hora tão sombria, vem de um lúcido representante da alta burguesia industrial, o empresário Ricardo Semler, sóbrias e sensatas advertências à sua classe, em artigo publicado ontem na Folha de S. Paulo: 

“Colegas de elite, acordem. Não se vota com bílis. O PT errou sem parar nos 12 anos, mas talvez queria e possa mostrar, num segundo ciclo, que ainda é melhor do que o Centrão megacorrupto ou uma ditadura autoritária. Foi assim que a Europa inteira se tornou civilizada. Precisamos de tempo, como nação, para espantar a ignorância e aprendermos a ser estáveis. Não vamos deixar o pavor instruir nossas escolhas”.