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terça-feira, 19 de dezembro de 2023

O CRIME INVISÍVEL

Muita gente tem comentado sobre os esquemas de corrupção que supostamente acontecem na administração pública de Parauapebas. Bastou o GAECO fazer uma visitinha de cortesia nas casas de alguns agentes públicos para esse debate pegar fogo nas redes sociais.

Porém, há um fator que ultrapassa todas as formas de corrupção que passa desapercebido pela grande maioria do público. Principalmente porque a grande maioria acredita que corrupção é exclusividade dos políticos. Mas o buraco é mais em baixo. 

Quero, antes de qualquer coisa deixar registrado o meu apreço pela imprensa de Parauapebas. Tenho orgulho de ter feito muitas amizades nesse setor, principalmente no rádio e na Tv. Mas, como em todos os setores, temos as maçãs podres e, essas, infelizmente, acabam contaminando quase todo mundo.

Setores da imprensa - principalmente sites de notícias e até perfis de Instagram - recebem uma verdadeira fortuna da prefeitura de forma "legal" (com nota fiscal) e de forma ilegal (caixa 2). E recebem para divulgar os trabalhos da prefeitura? Não. De vez em quando até publicam alguma notinha, um edital, mas o produto mais caro é o silêncio. Ou seja: muitas secretarias pagam para que esses sites ou páginas de redes sociais não falem mal, não divulguem os escândalos e falcatruas que rolam. Pura chantagem do mais baixo nível que embrulha o estômago até de avestruz.

O perfil do Instagram conhecido como Picunhão publicou a foto da nota fiscal de recebimento de uma mensalidade no valor de 51.900,00 pago pela SEMED a um site local. O leitor desavisado pode pensar: "Que absurdo! As crianças sem transporte, sem merenda escolar e a SEMED pagando 50 mil por mês pra um site fazer propaganda! Mas posso te garantir que esse valor é apenas uma pechincha. Isso é apenas a ponta de um barbante que está emaranhado sobre uma montanha de novelos e faz parte de uma rede de corrupção intrincada que tem toda a chance de ficar impune por nunca ser descoberto. 

E como eu sei disso? Já estive lá como agente público e já recebi muitas propostas indecentes e tentativas de extorsão e chantagem. Nunca denunciei simplesmente porque eu teria que ter uma prova cabal e, para obter essa prova, teria que ceder a uma dessas  chantagens e produzir algum registro. Não tive estômago para isso.  Tenho orgulho de dizer que nunca cedi a nenhuma e escorracei os chantagistas e picaretas, ou, simplesmente ignorei os recados. Mas, até hoje pago um alto preço por isso. Que preço? Explico: se um vereador pega indevidamente o carro oficial da câmara e sair pra tomar cachaça, ficar tri-bêbado, atropelar e matar um jovem trabalhador, essa banda da imprensa não dará nenhuma repercussão. No máximo fará uma notinha sem importância. Já eu, ao contrário, se tomar um copo de cerveja e der o azar de cair na blitz da lei seca, podem ter a certeza de que sofrerei um implacável linchamento moral. 

Arrisco a dizer que, essa forma de corrupção praticada por alguns órgãos de imprensa é a mais danosa. Pode até não ser a que mais causa prejuízo ao erário pelo valor praticado. Mas, no fim, representa muito, pois alimenta uma rede que vira uma bola de neve. Se setores da imprensa se cala, deixa de informar com imparcialidade, esconde os "podres" de agentes públicos por dinheiro, está contribuindo diretamente com todo o esquema de corrupção existente no município. E, se essa turma acredita em castigo divino, já deve estar desconfiada que virarão churrasquinho do "chifrudo", pois, provavelmente, por aqui ficarão impunes a não ser que se metam com o Jogo do Tigre.