Nunca um funeral no Brasil foi tão sordidamente utilizado pela velha mídia para fazer política. Os corpos do ex-governador Eduardo Campos e de seus companheiros de infortúnio nem haviam sido encontrados, mas a Rede Globo dedicava horas de sua programação para promover a "santificação" do recém-falecido. Horas depois da tragédia a Folha de São Paulo despachou seus pesquisadores para as ruas, com o nítido objetivo de emplacar Marina Silva o quanto antes.
Mas a falta de respeito às vítimas do acidente estava só começando. As cerimônias fúnebres descambaram para um deplorável ato político, com direito a foguetório de 17 minutos, farta distribuição de bandeiras do PSB, vaias à presidenta Dilma e gritos de guerra em favor de Marina.
Tudo isso com cobertura ao vivo da Globo. Estava em curso uma operação política para transformar em "mártir da luta pela transformação do país" um político tradicional, com qualidades e defeitos como qualquer ser humano feito de carne e osso. Calhordice pura, para fazer de Marina a herdeira da comoção nacional.
Contudo, manipulações grosseiras são sempre vulneráveis à força da realidade. Não demorou para vir à tona o imbróglio do avião utilizado por Campos em sua campanha, e que caiu em Santos matando sete pessoas e deixando um rastro de destruição ao redor do local da queda.
Para início de conversa, por incrível que pareça, a aeronave não tinha seguro. Isso, provavelmente, deixará ao Deus dará, sem receber indenização, tanto os familiares dos mortos como os moradores que tiveram suas casas destruídas. Só o dono de uma academia de ginástica reclama um prejuízo de R$ 1,5 milhões.
Mas a confusão envolvendo o avião vai longe. Pertencente a uma empresa quebrada de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, foi arrendada por três empresários pernambucanos, os quais assumiram o pagamento das parcelas do leasing. Só que essa operação é ilegal, pois a empresa de Ribeirão Preto, um tal Grupo Andrade, encontra-se em processo de recuperação judicial. Nestes casos, quaisquer transações só podem ser feitas com autorização da Justiça, o que não ocorreu.
A legislação eleitoral estabelece que candidatos a cargos eletivos só podem voar em aviões registrados como táxi aéreo.A aeronave de Campos não tinha esse tipo de registro. Também é obrigatória a inclusão do valor relativo às horas de voo na prestação de contas dos candidatos. Igualmente essa providência não foi tomada pelo PSB. Como se sabe, Marina utilizou o mesmo avião incontáveis vezes em deslocamentos pelo país junto com Campos. Já imaginou se o passageiro de um avião nessas condições fosse um petista de expressão ? Com a palavra, a justiça eleitoral.
Esse episódio contribui para jogar luz sobre o legado do ex-governador de Pernambuco. Levantando-se o véu da "canonização", encontramos um político que fez um governo de grandes realizações, contando com muitas verbas federais, em Pernambuco, mas, picado pela mosca azul, aderiu à oposição neoliberal; um político que tinha tudo para aguardar sua vez, em 2018, como candidato da base aliada, mas optou pelo caminho do oportunismo oposicionista de ocasião; um político que aderiu aos ataques moralistas contra o governo, como no caso da CPI da Petrobras, mas foi protagonista do "escândalo" dos precatórios, quando era secretário de Fazenda do governo do seu avô, em Pernambuco, nos anos 90; um político que posava como o "novo", mas adotava a velha prática de nomear parentes.
Na minha visão, se solidarizar com a dor da família de Campos e de seus amigos é se indignar com o uso político do luto para consumo eleitoral, é denunciar o cinismo e a mistificação dos veículos de comunicação na megacobertura da tragédia.
Por outro lado, esse comportamento abjeto da imprensa brasileira está longe de surpreender. Ao contrário, é muito coerente para quem tem no currículo a campanha que levou Vargas ao suicídio; a tentativa de impedir a posse de Jango e o apoio ao golpe de 1964, dentre tantas outras páginas vergonhosas da nossa história.
Obs : Um dia depois que postei este artigo surge a informação de que a Polícia Federal vai investigar o suposto uso de recursos de caixa dois, por parte do PSB, para comprar o avião.
Tenho uma leve impressão de que este circo, logo, vai pegar fogo. Nunca devemos torcer pela desgraça alheia, como coisas do tipo: "quanto pior melhor" (isto a Globo vem fazendo de forma sistemática, tentando passar uma imagem altamente negativa do Brasil nos governos Lula/Dilma, na tentativa de emplacar uma Marina chorona e apática, sobre o cadáver do nada santo Eduardo Campos). Mas logo logo as verdades vêm à tona e povo terá a grande oportunidade de descobrir, em tempo, o que está por trás de todo este sensacionalismo da grande imprensa brasileira.
ResponderExcluirQue não haja tempo para arrependimentos e sim tempo para ser feliz.
Sensatas palavras. Como vaticinei num post sobre seu comentário no face, Marina será a próxima presidente! Ela não está preparada. Receio pelo país, mas torço para que ela faça um bom governo. A morte de Campos mudou o rumo das eleições!
ResponderExcluirAlípio