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quarta-feira, 12 de abril de 2017

A PAIXÃO DE CRISTO NOS DIAS ATUAIS

De que lado você ficaria?


Outro dia estava numa reunião religiosa e durante o momento da reflexão, alguém perguntou: "e se Jesus voltasse hoje como humano e vivesse novamente em nosso meio, reconheceríamos como filho de Deus? Seguiríamos ou condenaríamos?" Apesar de parecer fácil, essa pergunta é muito difícil e polêmica. Aproveito o momento onde os cristãos comemoram a Semana Santa e a Páscoa para fazer essa pergunta a vocês. Eu confesso que fiquei com dúvidas.

Para ajudar nessa reflexão, faço alguns questionamentos. Esqueça um pouco o Jesus filho de Deus, Homem Santo, enviado à terra pelo próprio Deus. Esqueça um por um momento o que você conhece através dos quatro evangelhos. Tente voltar ao tempo e imagine-se vivendo em Jerusalém ou na Galileia. Procure conhecer a história daquele povo, a relação de poder, suas leis, seus hábitos e costumes. Você ficará surpreso ao descobrir que a realidade daquele povo no tempo de Jesus era muito parecida com a nossa realidade atual. E se você observar o poder romano, suas artimanhas, seus julgamentos, a relação de opressão com o povo, e, principalmente, sua estrutura jurídica, ficará ainda mais surpreso. Não é à toa que a nossa justiça e nossas leis são baseadas no modelo romano. Herdamos até os termos em latim exaustivamente utilizado nos tribunais.

Comparando a realidade em que Jesus viveu no seu tempo com a nossa, comparando os preconceitos existentes com os nossos, comparando o nível de alienação e submissão daquele povo, arrisco-me a desconfiar que hoje, o poder institucionalizado crucificaria Jesus novamente e o povão estaria lá aplaudindo e vibrando.

Está achando que isso é exagero, uma heresia? Então acompanhe meu raciocínio:


  • Para começo de conversa, Jesus era pobre, defendia os pobres e andava com pobres. Só esse fato em si já seria motivo para ele ser recriminado na atual sociedade. Se tirarmos a máscara da hipocrisia, perceberemos que a sociedade não suporta pobres que se mete a querer ter algum destaque. E esse sentimento é tão forte que o próprio pobre sofre uma lavagem cerebral para pensar que não tem direito a ter acesso a certas oportunidades. Olhe o que uma socialite escreveu em sua coluna num importante jornal: "Ir a Nova York já teve sua graça, mas, agora, o porteiro do prédio também pode ir, então qual a graça?" (Danuza Leão - 2012).  Constantemente, observo pobres fazendo piadas contra pobres e criticando os programas sociais que tiram o povo da miséria. Esse é o poder invisível da lavagem cerebral que atinge principalmente as classes de menos acesso ao conhecimento. Então, desconfio que se um ser humano aparecesse aqui hoje, tipo esquisitão barbudo de chinelos, ensinando que os pobres serão os bem aventurados, que tem direitos a uma vida digna, que deve ter o acesso à universidade facilitado, que não deve aceitar ser explorado, seria perseguido, acusado de subversivo, louco, fanático... Quem sabe, chamaríamos de comunista e mandaríamos ir para Cuba?!
  • Em segundo lugar, Jesus andava com pecadores, com prostitutas, cobradores de impostos e tudo quanto era gente não recomendada. Já imaginou essa situação vivenciada hoje? Que julgamento faríamos? Imagine um líder religioso atualmente fazendo o que Jesus fez em sua época? Você conhece algum líder religioso atualmente que condena o preconceito contra gays, prostitutas, que defende e protege os excluídos e foi recriminado por isso? Por outro lado, vejo milhões de jovens e famílias "cristãs" defendendo com unhas e dentes líderes religiosos e políticos que pregam abertamente a intolerância, que apoiam ideias machistas, a misoginia e a discriminação racial. Vejo gente de "bem" defendendo a pena de morte e repetindo que "bandido bom é bandido morto", enquanto Jesus defendeu até uma prostituta condenada ao apedrejamento por adultério (crime grave na época).
  • Jesus não morreu de morte natural nem de acidente. Ele foi um prisioneiro político. O que incomodou a elite romana não foi sua pregação religiosa, mas sua prática, seu posicionamento firme contra a exploração dos humildes, contra a hipocrisia do poder. Ele não ficou em cima do muro. Jesus teve lado e defendeu até as últimas consequências a justiça social, a igualdade e a fraternidade. Ele disse: "Eu vim para que as ovelhas tenham vida, e para que a tenham em abundância" (João, 10, 10). E isso irritou os poderosos que viam-O como uma ameaça aos propósitos de poder do Império Romano. E hoje? O que fazemos com nossos líderes que ousam a pregar uma sociedade justa e igualitária? O que fazemos com quem ousa a desafiar e enfrentar os poderosos? O que pensamos de alguém que aparece defendendo as mesmas idéias que Cristo defendeu?
  • Ler a Bíblia hoje e compreender que Jesus foi injustiçado é fácil. Ir para a igreja e reviver com emoção a Paixão de Cristo é bonito e emocionante. Mas pare e compare o julgamento de Cristo com os julgamentos que fazemos hoje. Jesus foi preso, julgado e condenado à morte por um tribunal legítimo. Seus algozes seguiram todo o rito do processo e, aparentemente, aos rigores da lei, foi um julgamento justo e houve até o sagrado direito a defesa. Para os entendidos no direito, foi seguido todo o rito processual. No entanto, sabemos que seu julgamento foi uma farsa, um teatro montado para dar legitimidade a uma acusação falsa. Atualmente, nossos tribunais continuam julgando e condenando inocentes. E o povão o que fala? "Ah, se está preso é porque deve". "Se não devesse nada, não teria sido condenado, afinal, juízes estudaram e sabem o que estão fazendo". "Tá na cara que é culpado. Não temos prova, mas temos convicção". E você, o que diria? 
  • Tanto Pilatos como Herodes até tentaram livrar a barra de Jesus. Pilatos chegou a declarar: "Eu não acho neste homem culpa alguma. Mas eles insistiram fortemente: Ele revoluciona o povo ensinando por toda a Judeia, a começar da Galileia até aqui" (Lucas, 23, 4-5). Veja que o próprio povo manipulado pelas autoridades romanas pediu a morte de Jesus. Preferiram soltar Barrabás. E hoje, será que não estamos fazendo o mesmo? Analisem nossa história recente. Sem querer fazer nenhuma comparação, quando Tiradentes foi condenado à forca, o povão foi para a praça aplaudir a morte de quem eles chamavam de facínora traidor da pátria, para depois de um século transformá-lo em herói nacional, o mártir da inconfidência. Isso lhe diz alguma coisa? Por que o povo sempre fica do lado dos poderosos e contra os líderes que lutam pela libertação desse povo? Por que o povo tem a tendência de endeusar juízes e achar que os doutores estão sempre corretos? Foi exatamente assim com Cristo.
  • E para terminar, imagine Jesus vivendo aqui na Terra hoje e invadindo uma igreja e quebrando as maquininhas de cartão de crédito e dizendo: "Não está porventura escrito: a minha casa será chamada casa de oração para todas as nações, mas vós fizeste dela um covil de ladrões"(Marcos, 17). Acho que ele seria expulso a pontapés e seria acusado de estar possuído pelo demônio. 
Pense nisso. Reveja os seus conceitos, seus preconceitos,  seus prejulgamentos e viva intensamente a verdadeira Paixão de Cristo.

Um comentário:

  1. Infelismente vivemos em uma sociedade hipócrita. Vivemos uma pregação de conceitos e justiça social que não há praticamos. "Faça o que eu digo e não o que eu faço ", e assim o barco vai seguindo. Todos pregando uma ideologia fajuta, apenas uma isca para ter o poder da alienação, o controle social e um status no meio social, enquanto na sua prática, na sua casa é tudo totalmente o contrário

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