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quarta-feira, 23 de março de 2016

SESSÃO DE 22 DE MARÇO - O DIA EM QUE RAUL SEIXAS CHOROU.

De repente Raul Seixas sentiu um forte tremor de terra. Acordou de seu sono profundo meio assustado e perdido. Levou seus dedos cadavéricos à altura da face com a intenção de coçar os olhos, e só então percebeu que não tinha mais o que coçar. Encontrou apenas dois buracos profundos e com as laterais ossudas. Aquele barulho ensurdecedor tinha algo diferente. Uma mistura de frases soltas de uma música bastante conhecida, seguida de gritos estridentes vindo de uma platéia: "uuhhhhhhhhhhhhh! Uuuuuuhhhhhhhhhuuuu!

"Que merda é essa?" - Indagou Raul com o resto de consciência que ainda restava-lhe.

Os gritos continuavam ecoando e invadindo aquele espaço úmido e escuro no cemitério Jardim da Saudade de Salvador-BA. A frase "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo" vibrava em seus tímpanos como um alarme nervoso de 300 decibéis. Raul Seixas achou que fosse um pesadelo ou algum efeito retardado do LSD com cocaína. Mais uma vez levou os dedos aos olhos, apalpou a face e o crânio. Bateu na própria cabeça com a mão em concha e só ouviu barulho de osso contra osso. "Toc, toc, toc". "Não pode ser! Será que estou... morto? 

Só então Raul Seixas caiu na real. Já estava morto e jazia num profundo sono desde o dia 21 de agosto de 1989, sono esse que só deveria ser interrompido quando fosse resgatado por Odin que o levaria para o baile psicodélico interplanetário junto com Elvis Presley, John Lennon, Bob Dylan, Jimi Hendrix e outros gigantes do rock. "Como assim broder? Quer dizer que eu não embarquei num disco voador e parti para outra dimensão???" Aquela gritaria que parecia vir das profundezas do inferno só aumentava. Raul, num esforço hercúleo se virou no seu caixão. Apurou bem os sentidos e sentiu um alívio ao descobrir que não estava no inferno. Por um momento, preferiu estar nos braços de Satã do que ouvir aquele som. 

Percebeu que estava mortinho da silva e o que ouvia era a mais sórdida adulteração, uma heresia imperdoável, uma fraude grotesca de sua música. E a frase ecoada por uma voz feminina seguida de intensa vaia doía em seus ouvidos, ou pelo menos do que restou deles. "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo". Uhhhhhhhhhhhhhh! 

"Socorro Freud, socorro Buda, socorro Jesus!" Raul Seixas tentava gritar mas sua voz não saia. Sentiu uma forte angústia. Queria sair do túmulo e apertar o pescoço daquela moça de bochechas salientes e cabelos negros em franja que proferia tamanha heresia. Mas tudo o que conseguia fazer era se virar dentro daquele esquife apertado. Apurou mais os seus sentidos e viu de onde vinha aquela heresia. Vinha de uma casa que deveria ser uma casa de leis lá nos confins do mundo, numa aldeia chamada Parauapebas. A tal casa de leis havia se transformado numa espécie de "casa da mãe Joana, casa da tramoia ou Pântano Azul". Quem usava sua mais célebre frase em vão era uma vereadora novata que forçava a barra para encontrar uma desculpa para seu ato sórdido e inexplicável de vender sua honra, sua personalidade, sua história para se juntar a um velho corrupto guardião da caixa forte. 

A música "Metamorfose Ambulante" representava até aqui as mais belas transformações do homem. Representava a rebeldia jovem, a mudança verdadeira das pessoas que buscam o constante aperfeiçoamento. Quando Raul Seixas escreveu, o fez com a alma pura, com paixão. Sua música se tornou um hino da juventude irreverente e honesta. Agora estava servindo para justificar safadezas, corrupção e trambiques.

Raul Seixas não conseguia entender o que acontecia. Se concentrou e fez uma ligação com o Cosmos para tentar encontrar uma explicação para tanta banalidade. Foi então que veio em sua mente em forma de um escorpião e uma borboleta a explicação através do "Pântano Azul": (...) "Dezessete representantes da comunidade foram os escolhidos para o Grande Conselho. Dessa vez estava muito bem representado. Todos os sentimentos, todos os interesses, todos os sete pecados capitais se faziam representar ali... No fundo, Mestre Sist sabia que aquele lugar era apropriado para desnudar os mais íntimos e originais sentimentos do ser humano. Toda a personalidade, todos os desejos inconfessáveis, todas as luxúrias e ganâncias do ser humano apareciam de forma cristalina quando ele mergulhava no pântano." (Trecho do conto O Pântano azul do livro O escorpião e a borboleta - Luiz Vieira).


Raul Seixas sentiu-se impotente e angustiado. Foi acordado antes da hora do seu justo e profundo sono com aquela gritaria dos infernos. Pediu ajuda aos deuses do universo para voltar a dormir e esquecer daquele dia. Voltou seu velho e carcomido esqueleto para a posição original e chorou. Chorou copiosamente e com profunda tristeza pensou: "o que estão fazendo com essa geração?"

6 comentários:

  1. É companheiro Luís, quando imaginamos que a corte legislativa de Parauapebas já fez e falou bobagens o suficiente para um século, eis que novas perolas aparecem. Já se declararam c. e andando, já choraram miséria devido a salario baixíssimo que recebem e agora se apropriam de frases celebres para justificar suas ações. Menos mal que a plebe, que possui ingresso gratuito para assistir a grande corte, não se contem em apenas assistir calado e ainda que não tenham coragem de "quebrar os vidros" que os separam, ousam e vaiam num som frenético capaz de ecoar no tumulo dos imortais. para finalizar, refiro parafrasear Ze Geraldo e dizer :
    "Só de sacanagem! Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba” e vou dizer: “Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.”

    Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”. Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!”

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  2. Esses nossos edis....acredito que para ocupar uma função tão nobre e desejada,deveria ser mais valorizada.Em Parauapebas,dentre os atuais,nenhum tem competência e habilidade para exercer outro mandato..que vergonha!Acorda meu povo....

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  3. O sentido ambulante, se aplica a essa pessoa perfeitamente, rodada, sem rumo certo, um aborto político. Kkkk aproveite bem seus últimos dias de dondoca do pântano, pois se não fosse concursada iria estar mais rodada ainda traidora.

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  4. Ela dá cara pra bater enfrenta e vcs nem isso ainda mais quando publicam algo não mostra a cara kkkkkkkk rapaz acho incrível isso bom quem tem boca fala o que quer

    Oh senhor Luiz Vieira em vez di críticas e tudo mais ja que o senhor e tão inteligente. Então entra na política seja um vereador e faça a diferença então mostra o que é certo. Pois o que está fazendo digo logo nada so fofocando. Cuidado quem joga tem um telhado de vidro tbm. Já que somos livres e tudo mais pra falar o que pensamos. Pronto falei.

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  5. Meu caro amigo Luiz Vieira. Parabéns pela crônica, muito bem articulada para uma realidade tão sofrida. Realmente o Raul deve está chorando e muito diante do uso indevido de sua arte de contestar da calhordice. Agora me aparece uma figura que tenta justificar a sua "venda" usando o velho e bom Raul que jamais se deixou enveredar pelos caminhos da facilidade e da corrupção. Quero dizer ao anônimo das 18:13 que expressar realidade está bem longe de ser fofoca, pelo contrário é o dever de informar, e bem, ao cidadão que não vive o dia a dia do legislativo corrupto e vendido. Não consigo compreender que alguém por discordar de algo precise vivenciar d um cargo para provar que não concorda que alguém o use para se beneficiar pessoalmente de maneira duvidosa, no caso, que o Luiz precise se tornar vereador para mostrar que seja diferente. Um grande equivoco do anônimo que deve ser um beneficiário da política da vereadora em questão. Parabéns Luiz Viera.

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  6. Estamos perdendo as nossas referências, mas não podemos perder a crença em nós mesmos. A nossa geração ainda pode ser salva e isso só depende de nós.

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