PREFEITO COM CHEIRO DE POVO OU COM CHEIRO DE GADO?

Lembro-me de um certo prefeito a quem lhe faltava muitas atribuições para ser um Prefeito Excelente. Mas uma coisa ele tinha de sobra: o carisma com o povo. Esse Prefeito não fugia de nenhuma manifestação popular e sabia manter a calma, a paciência e até o bom humor -coisa rara. Recebia em seu gabinete pessoas cuspindo ódio e jurando que lhe quebraria a cara quando se encontrasse frente a frente. Por um mistério que ninguém sabia explicar, tais indivíduos valentes e indignados saiam após a audiência com o Prefeito sorrindo e fazendo juras de amor. Alguns adversários apelidaram o tal prefeito de "encantador de serpentes". Dizia-se que quando ele botava os olhos  no indivíduo e passava a mão esquerda sobre o rosto dando-lhe leves palmadas, o interlocutor ficava hipnotizado.

Quando esse dito prefeito participava de alguma assembléia popular, não tinha pressa, não pedia para sair antes e nem dava a desculpa de que tinha um voo marcado. Falava, falava, e falava com prazer. Sabia falar a língua do povo e era muito bem entendido. Por várias vezes vi a coordenação do evento informar que o tempo estava se esgotando e ele respondia bem humorado: já? Agora que começamos a discutir os interesses da comunidade! Para que pressa?

É bem verdade que no último período do seu mandato o Prefeito já estava cansado e não tinha mais aquele pique, aquela empolgação. Andava desestimulado e até fugia do povo que sentia sua falta e reclamava de sua ausência.

Essas lembranças me vieram a cabeça quando enviei um correspondente desse Blog para acompanhar a comitiva do Prefeito Valmir no encontro da Palmares II na última quarta feira, dia 21 de agosto. Esse me relatou minuciosamente cada passo, cada gesto do prefeito, além de conferir fotografias e vídeo. Primeiro quero ressaltar o que vi por parte do movimento que interditou a estrada desde o dia 19 de agosto. Trata-se de uma comunidade muito bem organizada e articulada que tem um elevado espírito de cidadania e democracia. Longe de ser aquele povo alienado que trata prefeito como se fosse um deus, que bajula autoridades e fica intimidado pelo simples fato de ser gente simples, de ser povo. Vi o senso de soberania popular, de mobilização e de respeito. Por mais que muitos torçam o nariz para o Movimento Sem Terra, por mais que muitos fiquem indignados com suas ações como interditar estradas impedindo o direito de ir e vir, mas uma coisa ninguém pode negar: eles sabem lutar pelo que acreditam. Prova disso é o rápido desenvolvimento das duas vilas denominadas Palmares I e Palmares II. Para os mais novos relembro que aquela área e suas adjacências há uns 20 anos atrás era apenas um trecho de juquira abandonada pertencente a um latifundiário que nem conhecia Parauapebas.

Por outro lado, vi um Prefeito acuado, assustado, típico de quem não tem costume com o povo. Uma autoridade acostumada a ser bajulada, a ser tratada como pop star, que não gosta de ser contrariada, de repente se vê diante de um povo simples, com cheiro de agricultor e que não dá a mínima para as falsas convenções sociais. O primeiro susto do prefeito foi quando ele teve que passar com seu carro por um estreito desvio na estrada entre chamas de fogo. Ele esperava que com a sua chegada os manifestantes iriam abrir espaço e apagar o fogo. Não. Ele teve que passar pelo mesmo atalho permitido aos demais.

Vi um Valmir com uma cara carrancuda, com as mãos trêmulas e que a todo instante olhava os papéis com o discurso preparado por seu assessor de comunicação. Nitidamente estava desesperado sem saber o que iria falar. Pensei: pobre Prefeito! Se soubesse que governar era tão difícil assim teria preferido ficar no conforto de sua empresa onde ele mandava e os empregados obedeciam.

Tenho muito respeito e até gosto do seu Valmir. Já fizemos política juntos, já fizemos articulações na época em que planejávamos impedir o segundo mandato da Bel. Sei que é uma pessoa bem intencionada e que quer o bem para Parauapebas. Mas a tarefa de governar Parauapebas exige muito mais do que isso. Exige um Prefeito com cheiro de povo, que se identifique e se comprometa com as causas sociais desse povo, que saiba falar a língua do povo. Precisamos de um Prefeito capaz de organizar um bom time de secretários e assessores, que comande de perto esse time e cobre atitudes. Não de um Prefeito que se encanta com almofadinhas que fala bonito e vai logo lhe entregando a prefeitura com carta branca para os desmandos. Parauapebas precisa de um Prefeito arrojado que saiba separar o público do PRIVADO e que não se deixe ser seduzido com as armadilhas "bonitas" do poder. Aqui o sistema é bruto.

Veja no próximo capítulo: lições da mobilização da comunidade da Palmares II