QUARENTENA PÓS-PODER

COMO DEVE SE COMPORTAR UM EX-AGENTE DO PODER?

                Alguns amigos me interpelam sobre meus textos no Blog e sobre meu posicionamento frente a algumas situações após a minha saída do círculo do “poder”. Muitos esperavam que eu fosse voltar com tudo na minha militância sindical, partidária e até esperavam que eu liderasse algum movimento contra a atual administração. Há até quem esperava que eu fizesse isso enquanto era secretário. Já falei sobre isso aqui, mas não custa repetir. A vida é um círculo cheio de idas e voltas onde alguns param nessas idas e outros evoluem. Cada fase de sua vida deve ser vivida intensamente e com entrega total, sem crises de identidade. Assim, enquanto estava atuando como militante sindical desempenhei bem o meu papel, principalmente como articulador de oposição. (Quem duvida disso pergunte aos mais velhos qual foi o sindicato que mais mobilizou a sociedade em Parauapebas na década de 90 e início da década atual).

                Graças a essa mobilização que fiz junto com valiosos companheiros como Geralda Zélia, Professora Terezinha (in memoria), Professora Raimunda, Esméria, Professora Delma, Graça Vasconcelos, Raimundo Neto, Itamar, Everaldo, Desilene, Marleide, Gomes, entre outros tão importantes, evoluímos para a condição de governo. O PT não chegou ao poder em Parauapebas como acaso do destino. Foram 16 anos de muita luta, muita entrega, determinação e confiança. Naquele tempo se assumir como petista era um ato de muita coragem, pois éramos vistos e tratados como loucos, fanáticos e até terroristas. Devido a nossa atuação como oposição, quando chegamos ao “poder” em 2004, muitos nos acusaram de termos vendidos nossos ideais. Ora, veja que contradição: se assumimos a condição de governo nossa tarefa seria a de governar, de colocar em prática (ou tentar) tudo o que acreditamos, e não fazer oposição a nós mesmos. Não tenho culpa se a nossa oposição era tão despreparada a ponto de esperar que fizéssemos oposição a nós mesmos.

                Parte dessa militância esteve com a missão de governar Parauapebas de 2004 a 2012. Fizemos tudo o que podíamos ter feito? Realizamos o nosso ideal de sociedade perfeita? Governamos como a sociedade esperava? Contribuímos para as mudanças necessárias? Isso já é tema para um outro texto que escreverei em breve. Só adianto que o PT não assumiu o poder sozinho. Para isso ser possível foi preciso um largo arco de aliança e, é claro, os aliados cobraram sua parte nesse “latifúndio”. O PT não foi o agente soberano do governo, portanto, sua vontade não poderia ser imposta. Isso é democracia!

                Mas voltemos ao tema principal. Como devemos nos comportar após termos passado 8 anos no poder? Isso depende de cada um. Depende do comportamento que cada um teve no poder. Lembro que quando o Chico das Cortinas assumiu o poder, o SINTEPP organizou uma greve por reajuste salarial e melhores condições de trabalho. (Eu era chefe da educação rural e fui demitido pelo Coronel Hernani a pedido do Prefeito). Durante a greve, muitos que faziam parte do governo do ex-prefeito Faisal vieram nos oferecer ajuda. Vivíamos na pindaíba mas recusamos essa ajuda, sabe porquê? Porque essas mesmas pessoas nos perseguiam, nos chamavam de baderneiros, demonizavam nossa luta enquanto eram agentes do poder. Agora queriam nos ajudar não porque acreditavam em nossa luta, mas porque queriam usar o nosso movimento politicamente para desestabilizar o governo Cortinas. Portanto, não eram antes e não seriam nossos aliados agora. Por outro lado tivemos exemplos de diretores de escolas e outros agentes do poder que mesmo fazendo parte do governo Faisal, nos ajudava a seu modo, discretamente e que durante o governo Cortinas, já fora do poder tinham respaldo moral para continuar nos ajudando. Durante a gestão do Darci isso aconteceu muito. Vi professores que fugiam de nós em outros governos. Tremiam só de ouvir falar em greve. Agora, no Governo Cidadão viraram “machos”, verdadeiros revolucionários. Um dia perguntei a um desses qual remédio havia tomado para essa mudança radical e repentina de comportamento. Entendeu a lógica?

                Por isso essa questão é relativa. Tivemos agentes do poder que agiram como reizinhos e agora, fora do poder dão uma de João sem braço e querem posar de revolucionário.  A maneira como se deve comportar fora do poder depende muito do seu comportamento enquanto esteve no poder. Em minha opinião, há pessoas que se comportaram tão mal que o melhor que tem a fazer é sumir do mapa, “escafeder”. Outros fizeram o seu papel de agente político e como cidadão que não tem nada a temer, nem a esconder, deve continuar sua vida naturalmente. Porém, uma quarentena é necessária. Afinal, você passou um período sendo vidraça, teve que tomar decisões polêmicas (muitas vezes incompreendidas), teve que se comportar como governo por força e exigência do cargo. Por isso não pega bem sair por aí atirando pedras e bancando o Robespierre.  É claro que como cidadão livre você não é obrigado a ficar amordaçado como alguns do poder atual esperam. Só precisa ser cauteloso e agir com parcimônia. Volte para a militância, mas aos poucos, pisando em ovos.

                Tudo o que falarmos ou escrevermos sobre política vai ser interpretado de várias formas. Alguns vão levar em conta nossa experiência com o poder e tirar proveito disso positivamente. Fui informado que um secretário do Valmir não começa o expediente sem ler o meu Blog. Outros vão nos chamar de cara-de-pau, vão acusar-nos de não ter feito nada enquanto estivemos no poder, blá, blá, blá. Para encerrar deixo três dicas:

1.       Se você passou 08 anos no poder, não precisa abrir mão de ser cidadão e emitir suas opiniões sobre política. Mas tenha cuidado e seja cauteloso. Um dia você poderá estar lá novamente;

2.       Homens inteligentes leem e ouvem com atenção todas as críticas e levam em conta a experiência de quem já trilhou o caminho, mesmo que mal trilhado. Muitas vezes as críticas são mais importantes que os elogios;

3.       Numa democracia sua ideia, sua opinião não são necessariamente as únicas corretas. A sociedade é composta por um corolário de ideais divergentes. Isso é o que é bonito.