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quarta-feira, 17 de julho de 2013

LULA: A Mensagem da Juventude Brasileira



Por Luiz Inácio Lula da Silva



Os jovens, dedos rápidos em seus celulares, tomaram as ruas ao redor do mundo.
Parece mais fácil explicar esses protestos quando ocorrem em países não democráticos, como no Egito e na Tunísia, em 2011, ou em países onde a crise econômica aumentou o número de jovens desempregados para marcas assustadoras, como na Espanha e na Grécia, do que quando eles surgem em países com governos democráticos populares – como o Brasil, onde atualmente gozamos das menores taxas de desemprego da nossa história e de uma expansão sem precedentes dos direitos econômicos e sociais.

Muitos analistas atribuem os recentes protestos a uma rejeição da política. Eu acho que é precisamente o oposto: Eles refletem um esforço para aumentar o alcance da democracia, para incentivar as pessoas a participar mais plenamente.

Eu só posso falar com autoridade sobre o meu país, o Brasil, onde acho que as manifestações são em grande parte o resultado de sucessos sociais, econômicas e políticas. Na última década, o Brasil dobrou o número de estudantes universitários, muitos de famílias pobres. Nós reduzimos drasticamente a pobreza e a desigualdade. Estas são conquistas importantes, mas é completamente natural que os jovens, especialmente aqueles que estão obtendo coisas que seus pais nunca tiveram, desejem mais.

Esses jovens não viveram a repressão da ditadura militar nas décadas de 1960 e 1970. Eles não convivem com a inflação dos anos 1980, quando a primeira coisa que fazíamos quando recebíamos nossos salários era correr para o supermercado e comprar tudo o possível antes de os preços subirem novamente no dia seguinte. Lembram-se muito pouco da década de 1990, quando a estagnação e o desemprego deprimiu nosso país. Eles querem mais.

É compreensível que assim seja. Eles querem que a qualidade dos serviços públicos melhores. Milhões de brasileiros, incluindo os da classe média emergente, compraram seus primeiros carros e começaram a viajar de avião. Agora, o transporte público deve ser eficiente, tornando a vida nas grandes cidades menos difícil.

 As preocupações dos jovens não são apenas materiais. Eles querem maior acesso ao lazer e a atividades culturais. Mas, acima de tudo, eles exigem instituições políticas que mais limpas e mais transparentes, sem as distorções do sistema político e eleitoral anacrônico do Brasil, que recentemente se mostraram incapazes de gerir a reforma. A legitimidade dessas demandas não pode ser negada, mesmo que seja impossível atendê-las rapidamente. É preciso primeiro encontrar recursos, estabelecer metas e definir prazos.

A democracia não é um compromisso de silêncio. Uma sociedade democrática é sempre em fluxo, debater e definir as suas prioridades e desafios, em constante desejo por novas conquistas. Apenas em uma democracia um índio pode ser eleito presidente da Bolívia, e um afro-americano pode ser eleito presidente dos Estados Unidos. Apenas em uma democracia poderia, primeiro, um metalúrgico, e depois, uma mulher serem eleitos presidentes do Brasil.

 A história mostra que, quando os partidos políticos são silenciados e as soluções são procuradas pela força, os resultados são desastrosos: guerras, ditaduras e perseguição das minorias. Sem partidos políticos não pode haver uma verdadeira democracia. Mas as pessoas simplesmente não querem votar a cada quatro anos. Eles querem interação diária com os governos locais e nacionais, e querem participar da definição de políticas públicas, oferecendo opiniões sobre as decisões que os afetam a cada dia.

Em suma, eles querem ser ouvidos. Isso cria um enorme desafio para os líderes políticos. Exige as melhores formas de engajamento, através da mídia social, nos espaços de trabalho e nos campi, reforçando a interação com grupos de trabalhadores e líderes da comunidade, mas também com os chamados setores desorganizados, cujos desejos e necessidades não devem ser menos respeitado por falta de organização.

Tem-se dito, e com razão, que enquanto a sociedade entrou na era digital, a política permaneceu analógica. Se as instituições democráticas utilizassem as novas tecnologias de comunicação como instrumentos de diálogo, e não para mera propaganda, eles iriam respirar ar fresco em suas operações. E seria mais eficaz trazê-los em sintonia com todas as partes da sociedade.

Mesmo o Partido dos Trabalhadores, que ajudei a fundar e que tem contribuído muito para modernizar e democratizar a política no Brasil, precisa de profunda renovação. É preciso recuperar suas ligações diárias com os movimentos sociais e oferecer novas soluções para novos problemas, e fazer as duas coisas sem tratar os jovens de forma paternalista.

A boa notícia é que os jovens não estão conformistas, apáticos ou indiferentes à vida pública. Mesmo aqueles que pensam que odeiam a política estão começando a participar. Quando eu tinha a idade deles, nunca imaginei que me tornaria um militante político. No entanto, acabamos criando um partido político quando descobrimos que o Congresso Nacional praticamente não tinha representantes da classe trabalhadora. Através da política conseguimos restaurar a democracia, consolidar a estabilidade econômica e criar milhões de empregos.

É evidente que ainda há muito a fazer. É uma boa notícia que os nossos jovens querem lutar para garantir que a mudança social continue em um ritmo mais intenso.

A outra boa notícia é que a presidente Dilma Rousseff propôs um plebiscito para realizar as reformas políticas que são tão necessárias. Ela também propôs um compromisso nacional para a educação, saúde e transporte público, em que o governo federal iria fornecer apoio técnico e financeiro substancial para estados e municípios.

Ao conversar com jovens líderes no Brasil e em outros lugares, eu gostaria de dizer-lhes o seguinte: Mesmo quando você está desanimado com tudo e com todos, não desista da política. Participe! Se não encontrar em outros o político que procura, você pode achá-lo em si mesmo.

Fonte: New York Times,via blog do Genoíno   http://migre.me/fvvkK

3 comentários:

  1. Com todo respeito ao Lula, me atrevo a discordar dele em um ponto: a juventude que foi para as ruas infelizmente não era politizada. A negação de partidos políticos e a criminalização geral da política mostra isso. No Brasil não se faz política sem partidos. Os partidos são as instituições que representam nossa democracia. Sem eles não há debates de idéias, não há as necessárias divergências para a poloítica democrática. Dizer que vota na pessoa e não no partido é um erro que só serve a quem quer manipular o voto. A pessoa para se candidatar tem que estar vinculado a um partido, tem que obedecer ao seu programa estatutário. O cara pode ser a favor da reforma agrária mas se se eleger pelo DEM, não poderá sequer discutir esse assunto. Entendeu? A nossa Lei Eleitoral ainda não permite candidaturas sem partido. Infelizmente essa juventude que estava nas ruas, estarão em 2014 correndo atrás do político que esteja disposto a pagar 100,00 pelo seu voto.

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  2. Lula é o cara!!! A trupe dos tucanos e associados se mordem de raiva. Inventa de tudo e não consegue derrubar o homem. Conseguiu interpretar os protestos como ninguém.

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  3. Tenho muto respeito e admiração pelo (ex) presidente LULA e parabenizo-o por mais este feito que é reconhecer o valor e a força da juventude, não condená-los por alguns exageros e, acima de tudo, entender as suas necessidades - que são necessidades (urgentes) do Brasil. Valeu Lula, é por isso que você é respeitado pelo mundo a fora.
    Infelizmente tem gente que pensa o contrário. Por exemplo, se esse discurso tivesse sido proferido por um dito intelectual e para a elite, tinha muita gente aplaudindo. Mas como vem de um cidadão de origem humilde (um intelectual de verdade), aguarde que vem chumbo grosso por aí. Já saiu no jornal do SBT do dia 17.07 um comentário muito malicioso em que no final o comentarista, num sorrisinho entre-dentes, diz: "o Lula é inteligente" - isto, claro, depois das alfinetadas nada discretas. Não duvidem que o Alexandre Garcia não vai perder também esta oportunidade. Mas para quem foi porta-voz dos governos ditatoriais, o que se pode esperar?!
    Tenho o Lula como referência de ser humano e me orgulho de ser brasileiro.

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