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segunda-feira, 6 de maio de 2013

DIÁRIO DE UM PEREGRINO

Sain Jean Pied-do-Port: o início da caminhada rumo a Santiago de Compostela


Sain Jean Pied é um pequeno vilarejo francês onde abriga um antigo monastério. É de lá que sai os peregrinos mais atrevidos rumo a Santiago. A maioria prefere sair de Roncesvale para não ter que enfrentar os pirineus franceses e eu mesmo teria feito isso se não fosse a idéia fixa de fazer o percurso do início tradicional. Um lugarzinho com aspécto medieval onde nem carro pode entrar. O taxista me deixou num local  próximo ao portal principal e me desejou buenas sorte. Realmente iria precisar muito.
O lugar só tem uma rua com albergues, restaurantes e lojinhas dos dois lados. Por se tratar de um monastério tudo fecha as 09 horas. Eis um detalhe que não sabia e quase me custou uma noite de fome. Quando consegui me hospedar num albergue -Albergue dos Peregrinos- a senhora me falou que fechava as 21h e 45m. Já eram quase 21 e sai correndo para jantar. Em cada restaurante que entrava alguém fazia sinal indicando que já havia encerrado. Outros falavam fini, fini. Começou bater o desespero pois a fome era muita. Enfim, entrei num recinto e fui logo fazendo sinal de comer com a mão na boca (aquele velho sinal que vocês conhecem). Uma garotinha de uns seis anos sorriu, repetiu o sinal e fez um barulho com a boca, algo parecido com bezerro mamando. Fiquei feliz em ver essa cena que parecia um sinal positivo. Uma francesa simpática me conduziu até um salão e me indicou uma mesa. O ambiente estava cheio e barulhento. O garçom trouxe um cardápio e a única coisa que entendi foi o menu do peregrino. Pedi. A entrada foi uma sopa rala mas bem saborosa. Como prato principal veio um prato de macarrão com uma coxa de algo parecido com frango. Comi rapidamente pois já se aproximava das 21 e 45. Dormir ao relento com aquele frio congelante não fazia parte de minha aventura. Quando fui saindo a senhora me abordou e me entregou um pedaço de bolo embrulhado. Entendi algo como "faz parte do menu". Gracias. Agradeci e sai correndo.
A pousada é muito simples e aconchegante. Cada quarto tem 04 beliches e são mistos. Há uma  sala onde temos que deixar as botas e uma área com banheiros também mistos. Observei que iria dividir o quarto com pessoas idosas e de início achei bom. Pensei: assim não vai ter barulho característicos dos mais jovens que gostam de ficar conversando.
Deitei na parte de baixo de um dos beliches para tentar dormir. Estava muito ansioso, pois no dia seguinte começaria a grande caminhada. Um senhor próximo roncava e fazia um barulho absurdo. Lembrei de minha mulher que me diz que de vez em quando eu ronco. Será que faço toda aquela barulheira? Impossível. Não ia conseguir dormir. Peguei o livro que havia comprado no aeroporto de S. Paulo e fui para ante sala ler um pouco sob a luz de minha lanterna, pois não se podia acender luzes. Lá pela meia noite voltei para o quarto para tentar dormir. O roncador continuava firme e forte. Pensei em tomar um comprimido para dormir que a médica havia me passsado para dormir no avião. Desisti. Tinha que estar bem lúcido para vivenciar aquele momento. Consegui apenas dar pequenos cochilos e de hora em hora olhava o relógio na esperança de já ter amanhecido o dia. 
Enfim, 06 horas da manhã. Levantei, tomei o café do peregrino. Um café bem pobrezinho com pão, manteiga, geléia de frutas e café com leite. Passei numa quitanda e comprei uma maçã, um sanduiche, uma barra de chocolate e água. Tudo pronto para começar a grande aventura.  


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