Como prometi ontem, eis aqui uma pequena resenha da música de Chico Buarque "Geni e o Zepelim".
Composta e cantada por Chico Buarque de Holanda em 1978, a música fez parte da Ópera do Malandro em 1979. Na peça teatral Geni era um travesti constantemente hostilizado pela população, até surgir a ameaça de ataque do Zepelim. Eis que o poderoso comandante do Zepelim gigante se encantou exatamente por Geni e propôs livrar a cidade do ataque em troca de uma noite com "ela". Geni resistiu, pois preferia dar para os bichos do que ceder aos caprichos do comandante. Mas após muita insistência e clamor dos poderosos da cidade resolveu ceder. Virou estrela e celebridade, mas só por uma noite.
Bastou passar a ameaça, tudo voltou ao normal. O comandante saciado subiu no seu Zepelim dourado e partiu. Geni voltou a ser a mesma prostituta hostilizada por todos e tratada com mais desprezo.
Muitos usam essa música para diversos fins. Geni pode ser o travesti, a prostituta, o operário discriminado, a cidade, um representante do poder ou até mesmo um partido político envolvido em alguma negociata. O refrão: "Joga pedra na Geni, joga bosta na Geni..." constantemente é usado para protestar contra uma situação desagradável.
Alguns historiadores acham que Chico Buarque fez essa música como crítica à submissão do Brasil ao imperialismo Norte Americano durante a ditadura militar. A Geni seria o Brasil. O Zepelim gigante com seus canhões seria a Marinha Americana que teria ameaçado invadir e bombardear o país caso os militares não dessem o golpe e tomassem o poder.
Ao leitor cabe a livre interpretação dessa brilhante obra do gênio Chico Buarque.
Geni e o Zepelim (Chico Buarque)
De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geleia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: "Mudei de ideia!"
Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniquidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir
Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni!
Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
(E isso era segredo dela)
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai, Geni!
Vai com ele, vai, Geni!
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni!
Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!
Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!
E neguim se deleitando com um tal de lepo-lepo. É brincadeira!
ResponderExcluirE agora José?
ResponderExcluirO que fazer com a Geni?
Kkkkk. Essa foi boa. A Geni caiu como uma luva. Já imagino certos dirigentes do PT deitados com o comandante do Zepelin (no caso Valmir). Pense na cena. Só que nós petistas não aceitaremos ser vendidos. Eles é que se entreguem feito genis. Avante militância. Abaixo mercenários.
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