O Brasil sofreu um golpe militar em 1964
e implantou, durante 21 anos, a pior ditadura da América Latina, onde os seus
algozes agiram livre e impunemente; torturaram, mataram e fizeram desaparecer
centenas (quiçá milhares) de cidadãos brasileiros; ditadura esta em que a
própria Presidenta Dilma foi vítima.
Desde que o PT ascendeu ao poder através
de Lula (2002), a burguesia vem, dia e noite, articulando um novo golpe, só
porque não aceita o fato de o povo ter se tornado gente e poder desfrutar os
mesmos direitos. Agora, insatisfeita com a inquestionável vitória da Presidenta
Dilma Roussef e a conseqüente derrota do seu brinquedinho, esta mesma
burguesia, aproveitando-se de loucos como o decadente cantor Lobão e alguns
filhos de papai, declara abertamente o desejo de uma intervenção militar – um
novo golpe - para impedir a posse da Presidenta Dilma e encerrar assim um
período de trinta anos ininterruptos de democracia e doze de crescimento e
avanços sociais. Mas o povo brasileiro é soberano e já deu o troco a estes
golpistas.
O texto a seguir é uma bela crônica do
que foi a ditadura militar brasileira e o que pensa hoje a geração formada por
Veja/Globo e Cia.
J. Orlando Vieira Reis (Zelão).
A intervenção militar e o amor de Lígia
Por Gilberto
Amendola – Via Yahoo.
Lígia ouviu quando o neto chegou em casa. Conhecia muito bem
aquele jeito estabanado de bater a porta, fazer alarde, tocar trombetas e anunciar
a própria presença como se fosse algo extraordinário.
Se ainda pudesse falar, Lígia aconselharia o menino, diria que
entrar e sair dos lugares em silêncio sempre foi um talento importante, uma
questão de inteligência e sobrevivência.
Mas Bruno era de outra geração, muito mais ruidosa, muito mais
“pra fora” do que “pra dentro”.
Estranho.
Embora também não enxergasse direito, Lígia era capaz de apostar
que o neto estava enrolado em uma bandeira brasileira. Que orgulho! Finalmente,
Bruno estaria despertando para uma consciência política, herança do avô e, sem
falsa modéstia, dela própria.
Qual é a causa dos meninos de hoje? - perguntou-se Lígia.
E neste deleite de pensar no neto como uma continuação natural da
sua própria alma, fechou os olhos e voltou no tempo. Voltou para um tempo em
que a memória ainda é um filme em preto e branco.
Voltou para o dia em que conheceu Pedro.
Foi numa passeata da Rua Maria Antônia, no centro de São
Paulo. Lígia, tímida, carregava um cartaz simples, sem muita frescura, dizendo
o básico: “abaixo a ditadura”.
Os policiais acompanhavam a manifestação de perto, meio que
cercado, meio que intimidando os estudantes. Era um jogo de xadrez em que os
dois lados estavam sedentos por chutar o tabuleiro.
E foi Pedro quem deu o primeiro chute.
Como uma maratonista olímpico, Pedro cruzou a barreira dos milicos
e, sorrateiramente, deu um “pedala” no capacete de “um polícia”. Os estudantes
foram ao delírio, aplausos e gritos de aprovação. Pedro tinha um troféu: o
capacete do agente repressor.
A ação maluca de Pedro fez com um corre-corre caótico começasse
naquela rua. Bombas de efeito moral, pedras e pedaços de pau cruzaram o céu
daquela tarde quente. A cavalaria avançava sem dó - mas era engraçado ver os
cavalos escorregando nas bolinhas de gude que a molecada atirava na via.
A polícia queria o menino com o capacete branco. Era uma questão
de honra. Mas Pedro corria demais. Um atleta nato. E foi nesta corrida que o
destino operou um “atropelamento”.
Pedro tropeçou em Lígia e seu cartaz.
Atordoada, Lígia ajudou Pedro a se recompor. Tudo muito rápido,
tudo muito instintivo. Lígia sentiu o bafo quente dos homens da lei, mas
aproveitou a aglomeração para puxar o garoto de capacete pelo braço e escapar
com ele para dentro do bar do Zé.
Ficaram escondidos no banheiro. O dono do bar era amigo. Ali, eles
estavam em segurança. Ali, puderam se olhar, se reconhecer e, quase que
imediatamente, se apaixonar. A rua pegando fogo, o País em ebulição, o mundo
virado no capeta e, vejam só, aquele casal encontrando uma brecha, um espaço de
beleza e paz. Transaram. E nunca uma transa de banheiro foi tão intensa e
bonita.
Lígia acordou do sonho com o neto enfiando um copo de leite frio
em sua cara.
- Toma - disse seco.
Ela agradeceu com a cabeça, mas Bruno já estava entretido com o
seu iPhone 6.
Lígia voltou para dentro dela e continuou assistindo o filme da
própria vida.
Ela e Pedro não se largaram mais. No cotidiano universitário, nas
festas animadas e, principalmente na luta contra a ditadura.
Primeiro, eles militaram no movimento estudantil, organizavam
centros acadêmicos, shows de música brasileira e manifestações.
Não concordavam em tudo. Tinham formas diferentes de enxergar o
futuro do País. A revolução começaria pelo campo ou pela cidade? Luta armada ou
convencimento político? Maoismo? Cuba? Partidão? Beatles ou Rolling Stones? Ele
tinha vaiado "Sabiá" no Festival. Ela achou “Sabiá” a música mais linda do mundo.
Eles ainda não haviam decidido pela luta armada quando um agente
da polícia bateu na porta do apartamento em que moravam…
O som que Lígia ouvia agora não era do policial batendo na porta,
mas seu neto gritando no celular.
- Você viu que a passeata bombou! Saiu em tudo o que é televisão.
Cara, a gente tá foda. Vamos botar pra quebrar.
Lígia se distraiu mas sabia que precisava voltar para suas
próprias memórias.
Ela e Pedro tinham “caído”. Sem muita conversa, foram levados para
uma delegacia - mais especificamente para um porão escuro e úmido. Tapas na
cara e chutes na barriga foram apenas um aperitivo macabro.
Quando Lígia acordou de um desmaio, Pedro já estava pendurado de
cabeça pra baixo, com as mãos e os pés amarrados.
Lígia foi obrigada a assistir o namorado tomando uma sequência
inacreditável de choques elétricos na língua e no pau. Pedro não gritava. Os
olhos encarnavam o medo, mas ele não gritava, não entregava os companheiros,
não dava um pio.
Foi quando seis agentes, SEIS, cercaram Lígia. Um dos homens
contou para Pedro o que ele e seus amigos iriam fazer com ela, fazer ali, no
chão, com força e ódio. Sincronizadamente, os seis homens abriram os zíperes de
suas calças…
Só agora Pedro gritou. Pedro chorou. Pedro pediu pelo amor de
Deus.
Não adiantou.
Não adiantou.
De novo, o pensamento de Lígia foi interrompido pelo neto ao
telefone:
- Sim, mano, vamos lutar por uma intervenção militar imediata. A
gente não pode mais aguentar essa situação. No tempo dos militares não tinha
tanta bagunça, tanta corrupção… Minha turma da facu ta fechada, ta convencida
que a única solução pro nosso País é a volta da ditadura. Aqui não é Cuba,
mano!!!
E Lígia sentiu uma dor muito parecida com aquela que havia sentido
nos porões da delegacia. De certa forma, a dor que estava sentindo agora era
ainda pior.
Ela resmungou. Chamou a atenção do neto que contrariado desligou o
telefone:
- O que foi vó?
Lígia continuou resmungando até que o neto se aproximou - ficando
cara a cara com ela.
- O que foi vó?
Tremendo, Lígia jogou o leite na cara do netinho.
E com uma força que deve ter tirado sabe-se lá de onde, gritou:
"BABACA".
devia o bosonaro e sipatisante da ditadura militar deverio esta preso e responsável pela tortura morte de pessoa lutadora pela liberdade ditadura nunca maqis
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