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quinta-feira, 2 de março de 2017

UM CIDADÃO CHAMADO EUGILSON

Sempre que posso vou à feira aos sábados. Além de comprar produtos frescos vindo da roça, gosto da atmosfera, do cheiro de frutas misturado com ervas, do burburinho, e, principalmente de observar as pessoas. Circulo de banca em banca olhando, apalpando, cheirando, conversando... Presto atenção no comportamento das pessoas envolvidas no processo. Tenho essa mania de observar, de estudar gente, e estou ficando bom nisso. 

Vejo gente honesta que tem orgulho de estar ali do lado de dentro da banca vendendo seus produtos. Dá para notar na expressão, no sorriso, no tom de voz que trata-se de um batalhador que não tem vergonha de ir à luta. Logo na entrada cruzo com um homem oferecendo amostra de biscoitos de polvilho. "Chega aí freguês. Estou aqui por que você veio", e enche minha mão de biscoitos. Provo sem pudor. Uma delícia daquelas que faz croc, croc na boca. "Chega mais, aqui o camarão tá fresquinho", grita um senhor com sotaque paraense. No setor de aves, observo uma garotinha de uns doze anos ajudando a mãe. Fico assustado com sua destreza com a faca no pescoço da galinha que esperneia indefesa enquanto o sangue escorre. 

Mas vejo também gente infeliz, com uma aura negra em volta da cabeça. Gente  demonstrando desprezo pelo trabalho, vergonha por estar ali. Gente trapaceando no peso e no troco. Felizmente, essa gente é minoria. No geral, volto da feira com as sacolas e a alma cheia. Cheia de boas vibrações, de riquezas sensoriais, de bons exemplos de vida, de histórias de superação e sucesso.

Nessas minhas andanças pelos corredores da feira do produtor, descobri um ser humano que faço questão de destacar aqui. Todos que me conhecem sabem como incentivo a prática da leitura por onde passo. Acredito que isso fará toda a diferença na construção de uma sociedade mais civilizada e humana. Trata-se do senhor Eugilson Rodrigues, feirante de 33 anos que trabalha na feira vendendo frutas junto com sua mãe de 65 anos, mãe de oito filhos. "Sou sempre um feirante da roça", se auto define.

Sábado (18) estava na feira. Numa banca, enquanto escolhia mamão, o vendedor me perguntou: "você é o Luiz Vieira?" Respondi: muita gente me pergunta isso. Espero que esse tal Luiz Vieira seja gente boa, pois constantemente sou confundido com ele, - brinquei. Ele, meio intrigado continuou me olhando. Paguei a conta e disse: muito prazer. Sou o Luiz Vieira. De onde você me conhece? Ele deu um sorriso e respondeu: "sou fã do seu blog. Leio todo dia. Gosto do jeito que você escreve, tipo assim... Você fala de um jeito... Exemplo: você fala da feira sem falar diretamente em feira. Como se chama?" Emendei: metáforas. Ele disse: "sim. Isso aí. Você escreve por metáforas". 

Agradeci pelo prestígio e senti-me honrado por ser reconhecido numa feira. Mas fiquei mais feliz por ver um feirante humilde se comportar como um crítico literário. Voltei a feira no sábado seguinte e presenteei-o com um exemplar do meu livro "O escorpião e a borboleta". 

Num rápido bate papo, descobri que além de feirante, o Eugilson está se formando em Pedagogia e Teologia. É o tipo de gente que faz a diferença, que corre atrás, que não se acomoda. Tomo-o e ofereço-lhes como um grande exemplo. Independente da classe social, do trabalho, da cor, ou de qualquer situação, todos podem buscar uma formação, uma nova fonte de conhecimento, uma nova oportunidade. E digo com toda a convicção do mundo: a leitura é a porta principal para nossa transformação. Quem lê é MAIS.

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