Por Antonino Brito
Parte I
Segunda-feira, sete da
manha, 15km, 100 km/h. Lá estava eu de novo na estrada, dois anos depois, para
uma viagem de mais de 4 mil
quilômetros de moto. Só que desta
vez era diferente. Casado novamente, fui informar a Maria sobre a viagem e receber seu consentimento. Ela, como mulher "obediente" que é, disse: ”Claro que você pode ir, sei quanto é importante para
você estas viagens de moto pelo Brasil.
Mas tem uma condição: que eu
viaje contigo.“
De uma hora para outra,
eu que me intitulava motoqueiro solitário, tinha alguém para dividir a
aventura, a moto, a cama e a conta. Topei na hora.
Minha preocupação era a
resistência de minha companheira, em aguentar as dores e o desconforto
inerentes a viajar de moto, na garupa, com uma mochila nas costas por mais de
600 km dia. Estava decidido a colocá-la em um ônibus - se fosse o caso - assim que não mais resistisse, e esperá-la
na cidade que escolhesse para dormir.
Para uma viagem desta é
necessário ter uma destas duas opções:
* primeira opção: bastante
dinheiro.
* Segunda opção: determinação,
uma boa rede de contatos e desapego ao conforto.
A segunda opção, é onde
me encaixo.
As 18 horas cumpri a
primeira etapa da viajem - 730 km -, passando por terras indígenas cheguei a Barra
do Corda-Ma. As duas horas da tarde de terça almocei com meu amigo Francimar e
sua família, na casa de seus tios, que receberam-me com muito carinho e uma
carne frita no azeite de coco, - ainda sinto o cheiro e o gosto delicioso. Já
estava em Teresina, capital do Piauí.
A expectativa era
grande. Cortar o Nordeste de moto, indo do litoral ao sertão, me fazia sonhar
acordado, enquanto pilotava. Na entrada do Ceará vi um dos maiores complexos
eólicos do país. Visitei Sobral, uma cidade com grande riqueza histórica e
cultural. Cheguei a Fortaleza ao entardecer, um belo céu azul acompanhava minha
primeira visita a capital Cearense. Como parte do roteiro, assisti um clássico
do futebol brasileiro, Flamengo e Ceará, na Arena Castelão, estádio de copa do
mundo. Depois de uma virada espetacular, sofremos o empate aos 45 minutos do
segundo tempo, 3 X 3, um jogaço. Nos pênaltis, perdemos (Ahh!). Com um largo sorriso no
rosto, pensava nos três coelhos matados numa só cajadada: conhecer uma
arena de copa do mundo, ver meu Mengão depois de 10 anos e assistir uma disputa
de pênaltis valendo taça. Só alegria.
A sexta fora reservada
a Praia do Futuro. Suas águas azuis e quentes prenderam-me, das 9 horas da
manha as 5 da tarde. Entre um mergulho no mar e um gole de cerveja, conheci um
argentino que logo trouxe sua família para dividirmos a mesa. Nas próximas três
horas conversamos sobre família, viagens, politica sul-americana, mais
precisamente argentina e brasileira, com tradução e participação efetiva de sua bela filha Paula, uma moça de 24 anos recém formada em direito que, além ter uma
interessante visão politica, fala fluente o português. Observei que aquele argentino conhecia muito mais da nossa realidade geopolítica do que a muitos brasileiros.
Como bom anfitrião e
feliz com as decisões de vida tomadas por meus filhos, falei um pouco destes em
nossa conversa. Minha filha Talita, já casada, cursando pedagogia, minha filha
Miquesia já matriculada no curso de direito em universidade estadual, meu filho
Caio determinado a fazer Educação física e meu mais novo João Felipe, ainda no
ensino médio, com tempo para definir seu rumo. Olhando pros lados via o rosto
da alegria, da felicidade. O dia na Praia do Futuro terminou com um lindo pôr
do sol.
Deixei a costa brasileira
rumo a outra importante parte da viagem. Cruzar o sertão nordestino em cima de
uma motocicleta, cortando as lindas paisagens entre regiões secas e hostis. Ao
longe avistei debaixo de uma tenda à beira da estrada, umas duas dúzias de
mulheres e homens dançando. Parei e ouvi um autentico forró pé de serra no
sertão cearense. Aproveitei para um breve descanso ao som da sanfona e do triângulo.
Na região do Cariri
Cearense, já no sexto dia de viagem, como em todos os outros, as fortes chuvas
de janeiro acompanhavam a jornada. Neste sábado não era diferente. Com a roupa encharcada
e alma repleta de chão e alegria - parafraseando o grande Milton Nascimento -, e com intuito de recarregar as baterias da fé, decidi ir a Juazeiro do
Norte-CE, terra do “Padim Pade Ciço”. Em minhas contas entre distância e
velocidade, chegaria às 19 horas.
Um fator que vinha
tomando bastante minha atenção era o grande numero de animais mortos por
atropelamento às margens da estrada. Do inicio, em terras maranhenses,
piauienses e cearenses até aquele momento, as rodovias federais estavam em bom
estado de conservação, do ponto de vista de sinalização e trafegabilidade, mas,
a grande frequência de animais, principalmente jumentos na pista, era motivo de
preocupação constante.
Com a visão prejudicada
pelo lusco-fusco do anoitecer, a chuva que caia torrencialmente e o farol dos
veículos que vinham em direção contraria, por alguns segundos não enxergava
mais que 10 metros à frente. Reduzi a velocidade para 90 km/h, pois sabia dos
riscos. Continuei pilotando ate ouvir um desesperador grito da Maria: “Antoniiiino!”
Fixei ainda mais o olhar para frente a tempo ver o primeiro jumento que
liderava a fila indiana de três, que tomavam completamente meu lado da pista.
Por reflexo, por Deus, consegui cruzar a faixa amarela indo parar na contra mão,
dois segundos depois da passagem de uma caminhonete na direção contrária. A
adrenalina subiu e por alguns longos segundos não trocamos uma só palavra, um
só gesto. Reservamos este tempo para agradecer a Deus pela proteção.
Continuamos em silencio ate a cidade mais próxima. (...)
Confira amanhã (sexta) o final dessa aventura.
Fé na vida e pé na estrada - o melhor da aventura é chegar bem(Zelão).
ResponderExcluirque inveja,muito bom o relato de suas aventuras,Maria mulher de coragem,esperando o próximo capitulo.
ResponderExcluirParabéns meu amigo. Aproveite bem essa aventura.
ResponderExcluirValeu amigos. Obrigado pelo carinho.
ResponderExcluirQue aventura hein... Deu até vontade de viajar assim também, mas ainda falta coragem...rsrsrs
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