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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

COLUNA DO LEITOR - DIÁRIO DE MOTOCICLETA

Por Antonino Brito


Parte I


Segunda-feira, sete da manha, 15km, 100 km/h. Lá estava eu de novo na estrada, dois anos depois, para uma viagem de mais de 4 mil quilômetros de moto. Só que desta vez era diferente. Casado novamente, fui informar a Maria sobre a viagem e receber seu consentimento. Ela, como mulher "obediente" que é, disse: ”Claro que você pode ir, sei quanto é importante para você estas viagens de moto pelo Brasil. Mas tem uma condição: que eu viaje contigo.“

De uma hora para outra, eu que me intitulava motoqueiro solitário, tinha alguém para dividir a aventura, a moto, a cama e a conta. Topei na hora.

Minha preocupação era a resistência de minha companheira, em aguentar as dores e o desconforto inerentes a viajar de moto, na garupa, com uma mochila nas costas por mais de 600 km dia. Estava decidido a colocá-la em um ônibus - se fosse o caso - assim que não mais resistisse, e esperá-la na cidade que escolhesse para dormir. 

Para uma viagem desta é necessário ter uma destas duas opções:

* primeira opção: bastante dinheiro.

* Segunda opção: determinação, uma boa rede de contatos e desapego ao conforto.

A segunda opção, é onde me encaixo.

As 18 horas cumpri a primeira etapa da viajem - 730 km -, passando por terras indígenas cheguei a Barra do Corda-Ma. As duas horas da tarde de terça almocei com meu amigo Francimar e sua família, na casa de seus tios, que receberam-me com muito carinho e uma carne frita no azeite de coco, - ainda sinto o cheiro e o gosto delicioso. Já estava em Teresina, capital do Piauí.

A expectativa era grande. Cortar o Nordeste de moto, indo do litoral ao sertão, me fazia sonhar acordado, enquanto pilotava. Na entrada do Ceará vi um dos maiores complexos eólicos do país. Visitei Sobral, uma cidade com grande riqueza histórica e cultural. Cheguei a Fortaleza ao entardecer, um belo céu azul acompanhava minha primeira visita a capital Cearense. Como parte do roteiro, assisti um clássico do futebol brasileiro, Flamengo e Ceará, na Arena Castelão, estádio de copa do mundo. Depois de uma virada espetacular, sofremos o empate aos 45 minutos do segundo tempo, 3 X 3, um jogaço. Nos pênaltis, perdemos (Ahh!). Com um largo sorriso no rosto, pensava nos três coelhos matados numa só cajadada: conhecer uma arena de copa do mundo, ver meu Mengão depois de 10 anos e assistir uma disputa de pênaltis valendo taça. Só alegria.

A sexta fora reservada a Praia do Futuro. Suas águas azuis e quentes prenderam-me, das 9 horas da manha as 5 da tarde. Entre um mergulho no mar e um gole de cerveja, conheci um argentino que logo trouxe sua família para dividirmos a mesa. Nas próximas três horas conversamos sobre família, viagens, politica sul-americana, mais precisamente argentina e brasileira, com tradução e participação efetiva de sua bela filha Paula, uma moça de 24 anos recém formada em direito que, além ter uma interessante visão politica, fala fluente o português. Observei que aquele argentino conhecia muito mais da nossa realidade geopolítica do que a muitos brasileiros.

Como bom anfitrião e feliz com as decisões de vida tomadas por meus filhos, falei um pouco destes em nossa conversa. Minha filha Talita, já casada, cursando pedagogia, minha filha Miquesia já matriculada no curso de direito em universidade estadual, meu filho Caio determinado a fazer Educação física e meu mais novo João Felipe, ainda no ensino médio, com tempo para definir seu rumo. Olhando pros lados via o rosto da alegria, da felicidade. O dia na Praia do Futuro terminou com um lindo pôr do sol.

Deixei a costa brasileira rumo a outra importante parte da viagem. Cruzar o sertão nordestino em cima de uma motocicleta, cortando as lindas paisagens entre regiões secas e hostis. Ao longe avistei debaixo de uma tenda à beira da estrada, umas duas dúzias de mulheres e homens dançando. Parei e ouvi um autentico forró pé de serra no sertão cearense. Aproveitei para um breve descanso ao som da sanfona e do triângulo.

Na região do Cariri Cearense, já no sexto dia de viagem, como em todos os outros, as fortes chuvas de janeiro acompanhavam a jornada. Neste sábado não era diferente. Com a roupa encharcada e alma repleta de chão e alegria - parafraseando o grande Milton Nascimento -, e com intuito de recarregar as baterias da fé, decidi ir a Juazeiro do Norte-CE, terra do “Padim Pade Ciço”. Em minhas contas entre distância e velocidade, chegaria às 19 horas.

Um fator que vinha tomando bastante minha atenção era o grande numero de animais mortos por atropelamento às margens da estrada. Do inicio, em terras maranhenses, piauienses e cearenses até aquele momento, as rodovias federais estavam em bom estado de conservação, do ponto de vista de sinalização e trafegabilidade, mas, a grande frequência de animais, principalmente jumentos na pista, era motivo de preocupação constante.

Com a visão prejudicada pelo lusco-fusco do anoitecer, a chuva que caia torrencialmente e o farol dos veículos que vinham em direção contraria, por alguns segundos não enxergava mais que 10 metros à frente. Reduzi a velocidade para 90 km/h, pois sabia dos riscos. Continuei pilotando ate ouvir um desesperador grito da Maria: “Antoniiiino!” Fixei ainda mais o olhar para frente a tempo ver o primeiro jumento que liderava a fila indiana de três, que tomavam completamente meu lado da pista. Por reflexo, por Deus, consegui cruzar a faixa amarela indo parar na contra mão, dois segundos depois da passagem de uma caminhonete na direção contrária. A adrenalina subiu e por alguns longos segundos não trocamos uma só palavra, um só gesto. Reservamos este tempo para agradecer a Deus pela proteção. Continuamos em silencio ate a cidade mais próxima. (...)

Confira amanhã (sexta) o final dessa aventura.

5 comentários:

  1. Fé na vida e pé na estrada - o melhor da aventura é chegar bem(Zelão).

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  2. que inveja,muito bom o relato de suas aventuras,Maria mulher de coragem,esperando o próximo capitulo.

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  3. Parabéns meu amigo. Aproveite bem essa aventura.

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  4. Valeu amigos. Obrigado pelo carinho.

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  5. Que aventura hein... Deu até vontade de viajar assim também, mas ainda falta coragem...rsrsrs

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