* Por Joyce Bezerra da Silva
Publico esse texto com alegria. Uma análise sensata, inteligente e apurada sobre a triste realidade do nosso Estado. A autora consegue abordar com clareza e leveza um tema complexo que precisa ser compreendido e debatido por todos. Boa leitura! (Luiz Vieira).
Assistindo nesse domingo (19/02) a reportagem do Fantástico à respeito do Município de Ananideua, constatei
algo que todo mundo já sabe: que os Estados do Pará e Maranhão só aparecem em
destaque no cenário Nacional, na maioria das vezes, quando se trata das mazelas
ali existentes.
Estados
esses riquíssimos e que servem apenas como plataforma política de suas elites
intelectuais, que há séculos manipulam o povo, em sua maioria sem instrução,
com aquela boa, velha e infalível política do pão e circo, ensinada pelo
Império Romano no primeiro século.
A
Constituição Federal de 1988 assegura em seu artigo 196 “que saúde é direito de
todos e dever do Estado”. E o que o Estado está fazendo diante do caos que está
instaurado nos nossos entes Federados? É revoltante que em pleno século 21, a
população da zona metropolitana de Belém viva em índices baixíssimos de dignidade
humana, tamanha a riqueza existente no Estado do Pará.
Para
se ter ideia, o Pará é um dos Estados decisivos no equilíbrio da balança
comercial brasileira, ficando no primeiro trimestre de 2016 com uma saldo de
U$3,9 bilhões de dólares, garantindo o 4º lugar no ranking nacional.
Entretanto, assim como no Maranhão seus indicadores sociais (IDH) estão muito
abaixo da média nacional, tendo piorado para situação de pobreza para extrema
pobreza ao longo dos anos. Onde apenas 4,06% da população tem formação no ensino
superior e o número de pesquisadores cadastrados junto ao CNPQ (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) é o menor do País.
Chegou
a hora desse Estado tão rico, que ocupa o 13º lugar no ranking do PIB
nacional, deixar de ser apenas um almoxarifado de matéria-prima e investir em
políticas públicas sérias que priorizem a educação como instrumento de mudança
desse cenário assustador. Isto porque, até a maioria da mão-de-obra qualificada
nos grandes projetos de mineração e indústria que ali existem, segundo dados do
IBGE, vêm de outros Estados, sendo que as populações amazônicas continuam sendo
excluídas por falta de instrução e capacitação.
Somado
a isso, o Estado vem sendo penalizado há vinte anos com a famigerada Lei Kandir,
que desonerou a tributação dos impostos de suas exportações de produtos básicos
e semielaborados, sendo que o montante de perdas acumuladas de 1997 a 2014 é de
cerca de R$44,168 bilhões de reais, que poderiam ser investidos em saúde,
educação e segurança, e que nunca foi regulamentado a forma de compensação
desses “incentivos fiscais” por lei complementar pelo Congresso Nacional, uma
clara e evidente omissão legislativa de vinte anos.
Atenção
bancada Paraense no Congresso Nacional! Se unam em prol do seu Estado, defendam
a Federação da qual vocês representam e foram eleitos para isso!
Ademais,
ainda há a incógnita do novo marco regulatório da Mineração, que sua tramitação
segue parada desde 2013 no Congresso, causando grave insegurança nos
investidores internacionais e prejuízos aos Estados e cidades mineradoras, como
em Parauapebas, que segundo dados da FIEPA é o maior município exportador do
Pará, que somente no primeiro semestre de 2016 exportou U$1,9 bilhões de
dólares.
Vale
ressaltar que, a proposta atual do novo Marco Regulatório da Mineração (PL
5807/2013), defendia primordialmente os interesses das mineradoras, onde até a
revisão do projeto de Lei para o relator foi feito por um advogado que prestava
serviço a um escritório que tem como cliente as maiores mineradoras do País,
que por sua vez, “doaram” cerca de R$2 milhões na campanha do parlamentar em
sua candidatura à Deputado Federal em 2014, ficando evidente um grave conflito
de interesses.
Diante
disso, vivemos um futuro incerto neste País, que chego a perder a esperança de
um futuro melhor para as novas gerações, pois temos um sistema que nunca mudou
desde o Brasil Colônia, o “escambo” entre colonizador e os colonizados. Hoje,
os nossos colonizadores são os representantes do povo, a classe política, que
deveriam defender os nossos interesses, o interesse da nação, mais que só
buscam seus próprios benefícios escusos, aí está a operação lava-jato para
comprovar tudo isso!
Infelizmente
o Norte e Nordeste continuam servindo apenas como exportadores de matéria-prima,
mão-de-obra barata e de plataformas político-partidárias de um sistema de
governo assistencialista que concentra muito dinheiro nas mãos de poucos, e em contrapartida, a sua maioria, segue padecendo em busca de
um futuro em que a dignidade humana possa prevalecer, sem que para isso, haja
investimentos em políticas públicas que priorizem a educação como mola
propulsora de mudança dessa realidade, até porque não é interessante para
classe de empresários e políticos que dominam a nação que um dia isso possa
acontecer de fato.
Diante
disto, ainda é possível ter esperança de um futuro melhor nessa conjuntura
política em que se desdobra os rumos do nosso País, onde praticamente todas as
ideologias político-partidárias estão seriamente comprometidas com os
escândalos de corrupção? Fica a reflexão feita pelo professor Rui Barbosa em
1914, mais que soa tão atual: "De tanto ver triunfar as nulidades, de
tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver
agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da
virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".
*
Advogada, Servidora Pública, apaixonada por História e Ciência Política.
Parabéns Joyce.
ResponderExcluirÉ que o sistema colonialista ainda prevalece e os "nossos" políticos são totalmente subservientes. Como o povo é mantido no analfabetismo funcional (milimetricamente planejado) e político, continua elegendo Barbalhos, policiais comandantes de grupos de extermínio, Coutinhos, Jatenes e outras monstruosidades do gênero.
ResponderExcluirMas como nada é para sempre, embora demore, vai passar; um dia inauguraremos uma nova fase da história (vu doutora? Vamos fazer a nossa parte, porque esta história é nossa).