Por Jordan Campos - Terapeuta Clínico
Uma visão psicológica sobre o que
realmente aconteceu com o Domingos Montagner --- Muita gente veio me perguntar
sobre o que eu achei da entrevista da Camila Pitanga no fantástico, relatando
como se deu a tragédia com o ator. Pediram-me uma opinião psicológica do fato e
de seu relato. Todos claro, com a grande angústia ou curiosidade de tentar
entender o que aconteceu. Então vamos lá, que o que vou explicar pode ajudar
muita gente:
Na análise corporal e verbal da Camila podemos entender que todo o
discurso dela é íntegro, cinestésico e não aconteceu em nenhum momento nenhum
detalhe que sugerisse dúvida no seu relato. Foram muitas piadas de mau gosto
disparadas contra a atriz, e muitos queriam assistir para encontrar algo que
sugestionasse uma conspiração para fofocar – este o grande mal moderno, mas
falaremos disso em outro texto.
Uma coisa no entanto ficou bem clara. O ator Domingos Montagner passou
por uma crise de PARALISIA TRAUMÁTICA devido a um choque emocional. Vou
explicar: Quando estamos frente a um conflito o nosso cérebro dá apenas duas
opções ativas – ou você enfrenta ou foge do perigo. E para isto libera uma
grande carga de adrenalina que migra dos intestinos e cabeça para os membros. A
intenção é dar força e circulação aumentada para braços e pernas na escolha de
enfrentar ou fugir. No caso do Domingos, enfrentar e fugir estavam convergidos
na mesma opção. Enfrentar a correnteza e o redemoinho da região, e fugir deles
dependiam da carga de adrenalina para fazer braços e pernas baterem, e eram
ali, a mesma coisa. Porém, no relato da Camila, ela deixou claro que ele não
conseguiu fazer nenhuma das duas coisas. Um redemoinho não impede de mexer os
braços ou dar um grito, por exemplo. Ela ainda gesticula na entrevista, com os
braços simulando um nado, como se em seus profundos pavores ela não tenha
entendido por que ele não reagiu desta forma.
Existe o que chamamos de afogamento passivo que é quando a vítima parece
se deixar levar em silêncio pelo afogamento, e sempre isso vai ser motivado
pela paralisia traumática. Pois existem os afogamentos eufóricos, onde a pessoa
se bate toda e reage, e que nem sempre acaba bem. Eu fui vítima de afogamento.
Estava num mar agitado e entrei no que chamam de "barravento" onde
você não consegue se locomover. Fiquei preso alí e lutei muito nadando e
mergulhando sem sucesso. Até que comecei a boiar quando senti cãibras. Tive a
sorte de ter sido salvo por dois salva-vidas em tempo. Então sempre que a
resposta a um afogamento for passiva é paralisia traumática.
O que parece claro é que o ator foi vitimado pela crise de paralisia em
conjunto com a força do redemoinho que aconteceu nas águas e provavelmente
segurou sua pernas. Quando enfrentamos ou fugimos, nosso cérebro mantém as
funções racionais e inteligentes ativas, para que possamos com estratégia sair
do problema. Quando, no entanto acontece a paralisia (o que costumamos chamar
nos animais de fingir de morto), a função racional do cérebro praticamente é
desligada. O cérebro acredita que poupar energia física e mental (já que não se
sabe o que fazer) é o melhor plano. Você já deve ter assistido a alguns vídeos
de caçadas, onde o Leão avança sobre a zebra e ela cai sem ao menos levar uma
mordida. Aquilo é paralisia traumática. O sistema nervoso da zebra faz as
contas rápido e vê que se correr o leão pega, e se enfrentar vai morrer. Então
paralisa as forças para poupar energia no intuito de dar um bote e conseguir
fugir. O que muitas vezes dá certo. No caso do Domingos, o sistema dele, por
alguma causa que falaremos a seguir, travou – e ele ficou em função racional
baixa e sem condições de usar a carga de adrenalina. Como se fosse uma criança
indefesa. Isso até a Camila gritar socorro, que foi quando ele afundou pela
primeira vez. O grito da Camila, sem querer, acionou uma outra função que é a
da desistência pelo pavor. Ele então, que já estava na paralisia, ao escutar o
grito (segundo este raciocínio biológico-comportamental) diminui mais ainda o
tônus muscular (fica com as pernas bambas) e afundou. Era uma esperança até de
ele “acordar” da paralisia e reagir com o grito. Mas as condições físicas e
naturais do rio já deviam estar insuportáveis e ele se foi, de forma terrível.
Isso acontece todos os dias com muitas pessoas, mas não sabemos. Seja
nas águas, nas estradas, em acidentes domésticos, brigas, assaltos. Muitas
pessoas morrem diariamente por paralisia traumática. A Camila coitada, só teve
o recurso de enfrentar. E fez isso até o fim - ela tentou chegar até ele por
duas vezes. Tentou encorajá-lo. Tentou chamar alguém com seu grito.
Entender por que o Domingos paralisou não vai nos levar a uma viagem segura.
Pode até ser por um conflito de infância com água, ou até algo que aconteceu
dentro da barriga da mãe dele, quando ele era um feto que nadava nas águas e
tinha um cordão umbilical preso ao pescoço, por exemplo. Muitas possibilidades.
E a notícia ruim é que não podemos evitar a paralisia traumática, porque o
comando para ela surgir está cravado em nosso inconsciente, que com a ajuda de
nosso cérebro faz as contas do momento. Podemos nos achar os mais fortes e
preparados e sermos traídos pela paralisia em momentos graves.
Toda a tragédia pública nos oferece a reflexão e tomadas de novas normas
e entendimentos para tentarmos evitar futuras. Meu objetivo como terapeuta é
contribuir para um entendimento lógico dentro das nossas limitadas
possibilidades de compreensão do todo que nos cerca, sem me ousar a ter
certezas absolutas em nada. Luz para a família do Domingos e para a Camila
Pitanga.
E a gente fazendo conjecturas do tipo "o poder místico do Rio São Francisco", "a força mágica do Velho Chico" e coisa e tal. Vá lá que as águas têm seus encantos e mistérios, além de esconder correntezas e redemoinhos por sob uma aparente calmaria; mas, enfim, uma explicação à luz da ciência que, conforme o próprio autor, "não pretende ser 'verdade' absoluta" ou "a verdade". O certo é que todos nós temos a nossa hora e a dele chegou, infelizmente de uma maneira que ninguém esperava. E quem espera a hora e a maneira? Vamos viver enquanto temos tempo. (Zelão).
ResponderExcluirLuiz,quando me falou sobre este texto do terapeuta,na hora disse a vc que passei por esta mesma situação alguns anos atrás,quando em viagem com minha família me vi totalmente paralisado ao atravessar uma ponte.Estava dirigindo sobre a ponte do Itacaiunas em Maraba,onde antes passei diversas vezes nas mesmas situações sem nunca ter sentido nada parecido,nem medo de olhar para baixio em ponte tenho.Não vou escrever tudo que passei mas agora entendi o que aconteceu comigo.Graças a Deus sai sem acidente e tive o prazer de alguns anos depois ,em viagem de moto que fiz pelo nordeste do brasil,tomar banho nas águas do Velho Chico. Descanse em paz Domingos.
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