* Por Alípio Mário Ribeiro
O vento era inconstante, audacioso, sedutor. Nunca fora regular. Ora frio, ora quente, voraz, calmo, queria estar em todo lugar, fazer qualquer coisa que lhe garantisse a liberdade de soprar pelos quatro cantos do mundo.
Um dia, o vento conheceu a brisa. Suave, pura, virgem, inexperiente. Mas a brisa era muito jovem, e bem mais jovem que o experiente e maduro vento! Ele, astuto e ardiloso, conseguiu seduzir, encantar a brisa com promessas de um mundo de jardins floridos para que ela pudesse passear com seus pés pequenos e frágeis. A brisa viu no vento o seu príncipe encantado! Enfrentou tempestades, furacões para ficar com o vento. E ficou.
Então ela descobriu que aquele vento não tinha a sensibilidade certa para lidar com ela. E então? O que fazer? Quando ela reclamava sobre certas ações do vento, ele a tratava com rispidez e grosseria! Dizia pra ela: “Não está satisfeita? Vá embora!” Ir embora para aonde? Deixara tudo para ficar com o vento! Bem que fora alertada pelos ares e pela atmosfera! “Olha… cuidado com o vento”… Mas agora era tarde! Ela estava à mercê do vento.
O vento nunca estava só. Sempre se fazia acompanhar de pequenos ares oriundos de seu tempo em meio a tempestades! Como isto feria a brisa. Como a brisa queria o vento. Por vezes a brisa chorava flocos de lágrimas geladas que feriam o chão. Quantas vezes o estúpido vento se fez trovão vomitando enormes pedras de granizo na pobre brisa. Mas, nos lugares por onde andava, o vento enaltecia sua brisa. Dizia pelos vales e montanhas, pelas grutas e cidades, pelas florestas e mares o quanto sua brisa era linda e valiosa. Mas, para a brisa, se furtava de tantos elogios. Quantas vezes a brisa soprou músicas melosas e chorosas de “fica comigo… vem, me abraça, meu amado vento…” Quantas e quantas vezes a brisa suplicou ao vento que acariciasse seus feridos e frágeis pés que tanto andaram atrás do conhecimento, que aliviasse seu coração do sofrimento!??
Com o tempo, a brisa foi se fortalecendo! Cada lágrima que caía, molhava página por página dos livros que ela lia! A brisa ultrapassava os limites daquilo que podia! E suas lágrimas não mais apareciam para o vento. A brisa decidiu que queria ser mais que brisa, queria ser mais que ventania, tufão, furacão! Já pensava em deixar o vento…
O vento começou a notar a mudança da brisa. Viu-a se tornando forte como a ventania que varre os vales e carrega a areia mais densa! Mas, continuava brisa. O vento começou a mudar. Um dia, a brisa salvou o vento da morte certa. O vento assoprou pelos canaviais e alambiques do vale da perdição. Embriagado pelo néctar curtido da cana de açúcar, encontrou-se com um vento com quem não se assoprava. Não deu outra. Entraram em briga feroz. O vento pouco podia. Estava anestesiado de tanta folia nos canaviais traiçoeiros. No momento em que seria preso num limbo e deixaria de ser vento, aparece a brisa, valente, forte, decidida! “NÃO!! NÃO FIRA MEU VENTO!!” A brisa se interpôs entre os combatentes. Evitou a morte do vento…
O vento e a brisa estavam sempre distantes. Mesmo sofrida e ferida, a brisa vinha, uma vez por semana, visitar o vento, amar o vento, tentar ser feliz com o vento. Clamou várias vezes: “vem, vento! Deixa tudo e vem ficar comigo…”
Mas o vento acomodou-se em um morro, o morro dos ventos. E por lá ficou muito tempo. Só saiu, quando saíram os ventos que lhe davam sustento. E o vento foi morar com a brisa. A brisa já era outra. Não mais clamava amor ao vento. Mesmo assim, o tolo vento, que continuava a clamar aos quatro cantos o amor pela sua bela brisa, ao chegar a casa, não conseguia por em prática este sentimento…
Bem que o vento tentou mudar. A brisa não era mais brisa. O vento se desesperou, ficou arrogante e soprava forte pelos ares do mundo. Até que, um dia, o vento mudou. Mas não adiantava mais. O vento tentou de tudo para não perder sua brisa. Mirou alto, mas da alta mira, pouco acertou. Vagou pelos cantos, por terras distantes, pelo velho Brasil e pelo Brasil novo. Mas não se despiu de sua arrogância, bebeu chás sagrados e tentou plantar luz, paz e amor. Mas, agora, não era tempo de plantio. Era tempo de colheita. E o vento não colheu bons ares.
A brisa estava determinada a deixar o vento distante de si. O vento tentou, chorou, se humilhou. Mas os pés da brisa estavam fortes, apesar das marcas do sofrimento. Os ombros da brisa estavam firmes, apesar de ter aparado os raios trazidos pelo vento. O vento ficou fraco, encolheu, envolvido pela brisa. A brisa se fez mais forte que o vento…
O vento, outrora senhor dos vales e montanhas sucumbiu, caiu, verteu prantos em dilúvios, clamou perdão ao Senhor do tempo e do firmamento. Tudo o que o vento semeou, estava na hora de colher! Pobre vento… Hoje se sente um pequeno sopro, só quer um pouco de alento. Triste vento… Pensava que a brisa era eterna, dele para sempre! Um vento cheio de dor, tristeza, agonia, vítima dos ares de seu egoísmo e orgulho.
A pesar de tudo e a pesar tudo, a brisa não deixou o vento ao relento. Depois de mais de dez anos, presa ao vento, se libertou, chorosa, lamentosa, mas decidida, forte, firme com seu pensamento. Brisa que enfrenta ventanias, tempestades, que não teme raios ou trovões, que defende os fracos ares, que pune os maus tempos!
O vento vaga pelos labirintos de seu pesar, cheio de suspiros e eternos “ais”. A brisa, a quem tanto quer, que tanto ama, dona de seu coração, ah… pobre vento, ela não existe mais…
*Professor e advogado.
Grato, meu amigo. Muito honrado em ter uma fábula moderna, de minha autoria, na sua página.
ResponderExcluirPortanto, afirmo sem medo que o prefeito Valmir Mariano é o favorito para vencer as eleições municipais de 2016. Tudo depende da forma como irá conduzir o seu governo e os acordos políticos que serão firmados. A disputa pelo Palácio do Morro dos Ventos promete muitas emoções. Façam as suas apostas.
ResponderExcluirFavorito onde? na sua pesquisa?
Excluir"Tantas você fez que ela cansou.Porque você, rapaz, abusou da regra três, onde menos vale mais...depois perdeu a esperança porque o perdão também cansa de perdoar..."
ResponderExcluirBoa Alípio; mas dá a impressão de que meu amigo está um pouco nostálgico. Da Alta Mira, perto do Brasil Novo, sentindo saudades do Morro dos Ventos. Falei (Zelão).
ResponderExcluirEssa crônica do meu amigo Alípio é uma reflexão pessoal, sofrida, que por ser feita por uma pessoa talentosa como ele, pode ter várias conotações. Mas eu sei a carga de dor por trás das letras e imagino as lágrimas que devem ter molhado o teclado. Parabéns pela sua sensibilidade, amigo; e parabéns ao blogger por ter captado seu sentimento e pelo desprendimento de publicá-lo em seu blog. Uma grande atitude e presente para quem gosta de boa leitura. Olinto Campos Vieira
ResponderExcluirComovente fato. Essa cronica mostra uma tamanha dor de cotovelo que esse nobre ser humano está sentindo! Não valorizou a quem poderia ser seu eterno amor. Desprezou, humilhou e agora teve o que mereceu!!!! Aqui se faz aqui se paga.
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