De quem é a culpa?
Por José Orlando Vieira Reis
Qual é o órgão responsável pelo transporte coletivo/alternativo que faz a linha Parauapebas-Marabá? Aliás, existe algum órgão responsável? (Responsabilidade: palavra bonita, porém obsoleta – pelo menos por estas terras). Na rodoviária, o cidadão ou a cidadã chega ao guichê para comprar a sua passagem, o guichê está fechado; aparece alguém para informar que a passagem será tirada dentro da van. “Tem vaga, motorista?” “Só em Curionópolis”. Curionópolis é relativamente perto de Parauapebas, trecho em que qualquer passageiro suporta viajar em pé, sem se cansar. Por isto virou também válvula de escape para motorista pilantra e enganador. Chegando em Curionópolis desce um ou dois passageiros. Quem está próximo ocupa as vagas e os demais ficam chupando o dedo e olhando um para a cara do outro. E a vaga, seu motorista? A esta altura todos já pagaram as passagens e não tem mais volta, afinal todos querem chegar. Conto isto porque na condição de passageiro já vi mais de uma vez e recentemente caí neste conto do vigário (digo, do vigarista).
“Tem vaga aí motorista?” Pergunto. “Em Curionópolis”. Responde. Tudo bem, eu estava bem dormido, a van não estava superlotada e ficar um pouco em pé faria bem à minha coluna – sim, porque sou colunático. E aí começo a observar o movimento ao meu redor. Sobre o capô estava desconfortavelmente sentada uma senhora idosa e quase obesa, fazia cara de feliz por ter recebido um afago do motorista; mas naquela posição, de costas para a estrada, que ninguém gosta! – nem merece, não é tia? Ao fundo, bem ao fundo, um senhor idoso apoiado de maneira nada aconchegante. Ele não deveria estar em pé, porque do seu lado estavam sentadas pessoas bem mais jovens – e quem se importa? Mais à frente um casal de jovens enamorados que pelo movimento da menina parece que a coisa ia pegar fogo. Do meu lado, também de pé, uma moça friorenta – coitada!
Sem contar a senhora quase obesa e sem esquecer o casalzinho quentura e a minha vizinha friorenta, éramos apenas cinco passageiros em pé. Antes de chegar em Curionópolis, (de novo Curionópolis!), o cobrador veio cobrar as passagens. Quem estava sentado, tudo certo; reclamar de quê, ora porra! Chegou a minha vez. Vamos lá. O que é que invento desta vez? É que sou meio metido a cidadão, sabe como é né? Perguntei ao cobrador: “quantas pessoas vão descer em Curionópolis?” “Só depois que tirar todas as passagens. Ohhh!!! Tá certo. Passou de volta e disse: “duas pessoas”. Aí fudeu-se. “E os outros? O motorista disse que teria poltronas em Curionópolis.” “Garanta a sua vaga”. Respondeu. Do ponto de vista dele estava certo; é a lei do vale tudo. Mas do meu ponto de vista estava errado. E o senhor de idade? E o casalzinho da menina fogo no rabo? E a minha vizinha quase congelando? Ah, e a senhora quase obesa? Bem, pela ordem: O senhor de idade - porque já é preferencial; o casalzinho - porque a menina já não se aguentava mais; a minha vizinha pinguim – porque eu é que não aguentava mais vê-la quase congelando e, finalmente, euzinho – ah coitado! Pronto, chegamos. Curionópolis. Desceram justamente dois passageiros. Aliás, eram quatro, porque havia duas crianças de colo. Adivinhem quem ocupou as poltronas? Bingo! O casalzinho foguento. Que alívio! A mocinha foi logo dando o tom da prosa. E daí?! Jovem é jovem, quem se importa? Vai-te catar!
O cobrador até que era solidário. Veio me dizer que em Eldorado o casalzinho ia descer – puts! Desceram. O cobrador olhou para mim. O senhor de idade sentou. A minha vizinha enfeite de geladeira não se aguentava mais e eu perguntei: “você quer sentar?” Ela não disse que sim, ela disse: “eu vou”, e foi-se; e eu faço o quê? Simplesmente disse: “vai”. Pense na cara de felicidade! Lembra que eu disse que estava bem dormido? Pois é. Cheguei ao meu destino do jeito que saí – em pé. Mas como se diz por aí: “o importante é chegar bem” – e chegamos.
Fiquei pensando: “o que é que eu faço com o caçete da minha cidadania?” Reclamar de quem e para quê? Bem, de Marabá para Parauapebas pelo menos o motorista vigarista não pode dizer que vai haver vagas em Sororó – a Curionópolis de Marabá. Mas eu deveria, enganado como fui e sendo um cidadão, fazer uma queixa formal do motorista para o órgão competente responsável por este serviço. E existe este órgão? Se existir, com certeza não existem pessoas competentes, se não este descaso não aconteceria. De qualquer maneira, chegamos bem, apesar da pressa do motorista. Agora é contar com a sorte na volta.
PS: Apenas um incidente: deixei de fazer a minha leitura costumeira de viagem; daí a sensação de que o trecho estava mais longo. Apenas detalhes.
E a cidadania foi pra lata de lixo. Viva!
Jacundá, 29.12.12. Zelão.
Muito bom o texto, mas infelizmente aqui no peba ainda falta muito mais que isso, por exemplo, vc já pegou taxi? a maioria deles nao roda com taxímetro ligado, quando vc chega ao seu destino o motorista te anuncia o preço com a maior cara de pau.
ResponderExcluiroutra coisa, vc já pediu nota fiscal em farmacia? já viu a cara que eles fazem? parece coisa de turista.
e os mototaxi que cobram 5 reais como corrida minima, é ou nao é extorsão?
enfim, toda vez que reclamo com alguem sobre esses absurdos ouço sempre a mesma resposta: volta pra sua terra então!
Tá certo, só quero corrigir a data do ano que digitei errado: é 2015 e não 12.
ResponderExcluirZelão.
falta de cidadania é comum no Pará... e quem reclama ainda é chamado de forasteiros..........
ResponderExcluirBelo texto meu amigo Zelão.Um problema sério tratado com a devida preocupação, mas de uma leitura muito agradável.
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