Por Antonino Brito
Algum dia cada um de nós sentirá a necessidade de caminhar um pouco, caminhar sozinho,
caminhar no quintal, caminhar na sala, caminhar para refletir sobre uma séria
decisão a ser tomada, para achar uma solução de um problema familiar, para
criar coragem de assumir um grande amor do passado, para superar a dor de uma
grande perda, caminhar um pouco para saborear uma grande vitória conquistada ou
simplesmente caminhar um pouco por ai.
Assim em 23 de dezembro de 2013, às 6
horas da manhã, coloquei duas calças, dois shorts, quatro camisas e um par de
tênis numa mochila, amarrei na garupa da moto e saí para caminhar um pouco.
Quando cheguei de volta em casa já era 2014, mais precisamente 03 de janeiro de
2014, às 16 horas, e tinha andado quatro mil cento e noventa e cinco km, passado por 49 cidades, cruzado 4 Estados além do Distrito Federal
(DF), nossa Capital Brasília.
No segundo dia de caminhada recebi uma
mensagem no celular que dizia “escreve sobre sua viagem”. Confesso que não
levei em consideração pois não era uma viagem de explorador ou aventureiro, e
não saí com pensamento de falar a ninguém sobre minha caminhada exceto a
familiares. Mas após conversar com meu avô, decidi compartilhar com amigos
partes da experiência.
Algumas perguntas ficavam cobrando
respostas em minha cabeça, e eu sabia onde buscá-las. Fui então à casa de meu
avô materno Adão, um homem de 87 anos, daqueles que se você passar um dia
conversando com ele, aprenderá coisas que levará para o resto de sua vida. Se
passar algumas horas conversando com ele, aprendera o valor do respeito para
com outros e a paciência com os seus. Se passar meia hora ao seu lado, dará
muitas gargalhadas com as anedotas que conta.
Estávamos conversando na varanda, tios,
primos e avós quando perguntei a meu avô se podia conversar em particular
comigo, pois haviam algumas perguntas a lhe fazer. De imediato disse sim e
pedindo desculpas aos outros, pegamos duas cadeiras e sentamos no quintal entre
as plantações, ao final da tarde de 25 de dezembro.
Antes de começar as perguntas ele disse: “Tunim,
Eu tô feliz que você me chamou em particular, queria mesmo conversar contigo a
sós”.
Nos minutos seguintes fez um breve relato
de sua história de vida, inclusive do tempo que meu pai Antônio Brito pediu a
mão de sua filha mais velha em casamento, uma linda moça de 16 anos de idade de
nome Francelina. Nesse momento vi os olhos de meu avô brilharem, e chorando
ouvi quando ele falou: “Quais são as perguntas mesmo?”
Vô Adão, podem parecer simples, mas para
mim são muito importantes suas respostas.
1- O
QUE É A VIDA?
2- O
QUE O HOMEM NÃO PODE DEIXAR DE FAZER?
3- O
QUE O HOMEM NÃO PODE FAZER?
4- O
QUE É RELIGIÃO, NO SEU PONTO DE VISTA?
5- O
QUE É DEUS PARA O SENHOR?
Ele respondeu uma por uma separadamente
e quando dava maiores explicações, ouvimos uma voz suave que dizia: o jantar
está pronto. Era a voz de minha vó, a qual vô Adão respondeu, já vamos Maria. E
virando para mim, concluiu o raciocínio e disse: vamos, sua vó não deve ficar
esperando.
Na manhã seguinte bem cedo peguei a estrada, o próximo trecho era de 630
km incluindo 150 km de estrada de chão ate chegar a Barra do Garças/MT, que faz
divisa com Goiás, onde passei a noite, sem deixar de observar a bela orla onde
bares e restaurantes apresentam diversos pratos regionais.
A chegada a Goiânia foi um momento
importante pois durante toda manhã e começo da tarde, o clima mudou
radicalmente diversas vezes indo de sol escaldante a chuvas de ventos fortes
que balançaram minha companheira de viagem, reduzi a velocidade e curti cada
quilometro até ser recebido com o abraço e beijo de minha Mae, minha heroína, a
cesta de frutas e abraços apertados de minhas irmãs e a bandeja de batatas
fritas e frios preparados por meus sobrinhos. EU ESTAVA EM CASA.
No oitavo dia de viagem, a caminhada
mais longa, 830 km a ser percorrido antes do anoitecer, pois por segurança não
viajei a noite, exceto nesse dia que sai 4h, ainda escuro, rumo a Brasília onde
cheguei as 6:30, visitei a torre de TV (ponto turístico) e o estádio Mané
Garrincha. Parei em frente a Catedral e fiz um agradecimento a DEUS. Sentei na
abóboda da praça dos três poderes e por alguns minutos me vi ali, jogando milho
aos pombos cercado pelo Palácio do Planalto, Palácio da Justiça e Congresso Nacional.
As 9h apertei a fivela do capacete e deixei pra trás o Planalto Central.
A próxima parada seria Gurupi, no
Tocantins, e entrei na cidade completando a tarefa diária de 830 km as 17h,
feliz, mas com as popas (pra não chamar de nádegas) pedindo um bom descanso num
colchão macio.
Quero abrir um parêntese para agradecer
meus tios que me receberam com muito carinho e atenção, tanto no Mato Grosso
quanto no Tocantins, e fazer também agradecimento a uma pessoa especial que possibilitou
as condições de fazer esta caminhada, meus avós gostaram do presente que você
mandou, obrigado.
Dia primeiro de janeiro estava com meus
tios, tias e avós comemorando os 89 anos de meu avô paterno Abdão, homem de
pulso firme, retrato fiel de homens forjados a ferro e fogo pelos sertões do
Brasil. Criou 13 filhos e perto dele ou não, todos vivem de seus trabalhos,
norteados no que aprenderam com a participação também importante de sua esposa,
minha avó Conceição.
Numa conversa ao pé da rede entre outros
ensinamentos, vô Abdão disse: “meu filho, nunca solte sua língua toda”. Ao
ouvir compreendi a sutileza do ensinamento. Despedi-me de
todos e emocionado amarrei a mochila rumo a Palmas/TO, última parada antes do
retorno.
Na capital Tocantinense tinha uma missão
especial, visitar dona Elza, mulher de grande valor que conheço há mais de 20
anos e sei de sua luta para criar e educar sozinha seus filhos. Depois da janta
da noite anterior e o bom café da manhã, me despedi pedindo
a Deus dias felizes a todos.
Me dei um presente de viagem indo até
taquaruçu descer de rapel a Cachoeira do Roncador, 80 metros de adrenalina e
prazer, mesmo tendo que subir um por um dos 143 degraus da escadaria.
Fiz a última caminhada de mais de 400 km
indo dormir em Araguaína, de onde saí dia 03-01-2014 passando por Marabá, para
abraçar um amigo, rumo a minha querida Parauapebas a quem chamo agora de Terra
de Ferro.
Sobre as respostas de meu avô, peço que
façam as perguntas a seus avós, tenho certeza que suas respostas serão tão
importantes para vocês como as do vô Adão foram pra mim, e espero a bênção de
Deus para compreender todas as respostas e com elas viver assim como meu avô,
do suor derramado no rosto, enquanto plantava a vida.
Dedico esta caminhada a meus filhos.
Tálita, Caio, João Felipe e Miquésia e “in
memoriam” a meus irmãos (Hélio, Osmar e Eide) e a meu amigo Altamiro Borba.
Continuar
Caminhando...
Parauapebas/PA
em 09 de Janeiro de 2014
Antonino meu amigo, me emocionei!!!!!, continue escrevendo vc tem talento....
ResponderExcluirobrigado, e' importante quando amigos dao valor as nossas iniciativas. Valeu Rosieny.
ResponderExcluirFidel, acabei de ler. Gostei muito. Seu texto é ótimo. Enxuto.Durante a leitura eu estava ouvindo um CD que comprei dos peruanos que tocam em instrumentos de bambu no centro de Curitiba. Emocionante. Gostei e preciso sobremaneira do ensinamento do seu avô Abdão. Abraço.
ResponderExcluirParabéns.. Belo texto e emocionante..
ResponderExcluirQue Deus abençoe essa linda família que é a sua Antonino..