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quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Afinal... É Natal



Escrevi esse texto há 20 anos atrás. Hoje o escolhi como uma forma de homenagear meus amigos. Feliz Natal e um ano novo cheio de luz e paz.
J. Luiz B. Vieira

No mês de dezembro inicia-se uma maratona natalina. As famílias preparam-se para o grande dia. Todos têm que usar roupas novas, tem que pensar nos presentes, preparar a árvore de natal, receber presentes e amigos, ceia de natal... afinal, é o mês de Natal!

Os comerciantes ficam eufóricos. As lojas com suas vitrines coloridas e enfeitadas a rigor. Cada uma mostra um papai Noel mais gordo e simpático que promete paz e fraternidade... para quem comprar seus produtos, é claro! Tudo tem que estar muito lindo. Luzes, sinos, estrelas, e nas prateleiras muitos produtos para presentes. As promoções são irresistíveis e tentadoras. De qualquer forma, os lucros são altíssimos! Tem que haver muita música, muita alegria, muito alto astral... afinal, é mês de Natal!

Nas igrejas, os pastores preparam suas ovelhas para o grande dia. O espirito natalino se apossa de todos. Hinos de louvores, mensagens, orações... É pregado a fraternidade, a união e o amor ao próximo. Vai haver culto natalino, apresentações e missa do galo. A euforia é geral... afinal, é Natal!

Os empresários, os industriais, latifundiários, os banqueiros e até os políticos, todos ficam com o coração benevolente. Após um ano inteiro de exploração, mentira e corrupção; após um ano inteiro de muita fartura, muitos lucros, é hora da fraternidade. Vai ter presentes para os operários, comida e bebida de graça para os empregados, festas e até campanhas para ajudar os necessitados. Vamos esquecer os problemas e tudo será legal... afinal, é tempo de Natal!

Mas afinal, o que é Natal? Será o aniversário do papai Noel? Será que é aniversário de Jesus? Que magia é essa que consegue entorpecer a todos? O que há de fato para se comemorar?

Para a civilização cristã, o Natal significa o nascimento de Jesus. E quem foi Jesus? Foi um homem que lutou contra a exploração dos pobres, as injustiças, a miséria, o egoísmo e a violência. Foi um grande revolucionário que tomou partido pelos pobres e combateu os opressores. Por tudo isso, foi perseguido e assassinado pelos poderosos da época.

As mesmas pessoas que mataram Jesus continuam no nosso meio. Promovem festas, enfeitam vitrines, fazem campanhas de doação de alimentos e presentes, dão banquetes, pagam 13º e pregam uma falsa fraternidade. Aproveitam a época para ganhar dinheiro, aumentar os lucros e encobrir os males que praticam todo ano.
Por outro lado, milhões de pessoas são exploradas, violentadas, massacradas e humilhadas. São os operários, camponeses, trabalhadores sem terra, desempregados, negros, menores abandonados, famílias sem teto, assalariados, etc... São frutos da exploração e da ganância do homem. Estão à margem da sociedade. Para esses milhões, o natal é diferente. Muitos se revoltam, outros se alegram com as migalhas que são distribuídas. Todos esses marginalizados só tem a miséria, a fome e a dor para repartirem. Confraternizam a pobreza e a angústia.

Enquanto isso muitos continuam festejando com fartos banquetes e nem ao menos lembram o verdadeiro sentido do natal cristão. É uma festa de aniversários onde todos são lembrados menos o aniversariante. O grande homenageado do dia acaba sendo Papai Noel.

Festejar o verdadeiro Natal é ser solidário com os marginalizados e injustiçados. É seguir o exemplo de Jesus – o aniversariante – e se posicionar contra toda forma de exploração do homem pelo homem. É lutar incansavelmente por mais igualdade, mais fraternidade, mais justiça social e mais amor. Fazendo isso, aí sim, poderemos participar do banquete que não terá gosto de fel. Poderemos brindar com o vinho que não terá gosto de sangue, e, finalmente, poderemos dormir com a consciência tranquila de um simples mortal. Afinal... É Natal.

Parauapebas, 15 de dezembro de 1994

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