Escrevi esse texto há 20 anos atrás. Hoje o escolhi como uma forma de homenagear meus amigos. Feliz Natal e um ano novo cheio de luz e paz.
J. Luiz B. Vieira
No mês de dezembro inicia-se uma
maratona natalina. As famílias preparam-se para o grande dia. Todos têm que
usar roupas novas, tem que pensar nos presentes, preparar a árvore de natal,
receber presentes e amigos, ceia de natal... afinal, é o mês de Natal!
Os comerciantes ficam eufóricos.
As lojas com suas vitrines coloridas e enfeitadas a rigor. Cada uma mostra um
papai Noel mais gordo e simpático que promete paz e fraternidade... para quem
comprar seus produtos, é claro! Tudo tem que estar muito lindo. Luzes, sinos,
estrelas, e nas prateleiras muitos produtos para presentes. As promoções são
irresistíveis e tentadoras. De qualquer forma, os lucros são altíssimos! Tem
que haver muita música, muita alegria, muito alto astral... afinal, é mês de Natal!
Nas igrejas, os pastores preparam
suas ovelhas para o grande dia. O espirito natalino se apossa de todos. Hinos
de louvores, mensagens, orações... É pregado a fraternidade, a união e o amor
ao próximo. Vai haver culto natalino, apresentações e missa do galo. A euforia
é geral... afinal, é Natal!
Os empresários, os industriais,
latifundiários, os banqueiros e até os políticos, todos ficam com o coração
benevolente. Após um ano inteiro de exploração, mentira e corrupção; após um
ano inteiro de muita fartura, muitos lucros, é hora da fraternidade. Vai ter
presentes para os operários, comida e bebida de graça para os empregados,
festas e até campanhas para ajudar os necessitados. Vamos esquecer os problemas
e tudo será legal... afinal, é tempo de Natal!
Mas afinal, o que é Natal? Será o
aniversário do papai Noel? Será que é aniversário de Jesus? Que magia é essa
que consegue entorpecer a todos? O que há de fato para se comemorar?
Para a civilização cristã, o
Natal significa o nascimento de Jesus. E quem foi Jesus? Foi um homem que lutou
contra a exploração dos pobres, as injustiças, a miséria, o egoísmo e a
violência. Foi um grande revolucionário que tomou partido pelos pobres e
combateu os opressores. Por tudo isso, foi perseguido e assassinado pelos
poderosos da época.
As mesmas pessoas que mataram
Jesus continuam no nosso meio. Promovem festas, enfeitam vitrines, fazem
campanhas de doação de alimentos e presentes, dão banquetes, pagam 13º e pregam
uma falsa fraternidade. Aproveitam a época para ganhar dinheiro, aumentar os
lucros e encobrir os males que praticam todo ano.
Por outro lado, milhões de
pessoas são exploradas, violentadas, massacradas e humilhadas. São os
operários, camponeses, trabalhadores sem terra, desempregados, negros, menores
abandonados, famílias sem teto, assalariados, etc... São frutos da exploração e
da ganância do homem. Estão à margem da sociedade. Para esses milhões, o natal
é diferente. Muitos se revoltam, outros se alegram com as migalhas que são
distribuídas. Todos esses marginalizados só tem a miséria, a fome e a dor para
repartirem. Confraternizam a pobreza e a angústia.
Enquanto isso muitos continuam
festejando com fartos banquetes e nem ao menos lembram o verdadeiro sentido do
natal cristão. É uma festa de aniversários onde todos são lembrados menos o
aniversariante. O grande homenageado do dia acaba sendo Papai Noel.
Festejar o verdadeiro Natal é ser
solidário com os marginalizados e injustiçados. É seguir o exemplo de Jesus – o
aniversariante – e se posicionar contra toda forma de exploração do homem pelo
homem. É lutar incansavelmente por mais igualdade, mais fraternidade, mais
justiça social e mais amor. Fazendo isso, aí sim, poderemos participar do
banquete que não terá gosto de fel. Poderemos brindar com o vinho que não terá
gosto de sangue, e, finalmente, poderemos dormir com a consciência tranquila de
um simples mortal. Afinal... É Natal.
Parauapebas, 15 de dezembro de
1994
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