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segunda-feira, 23 de junho de 2014

O fim da Câmara de Vereadores

Nesse sábado, 21 o ex-vereador Faisal Salmen foi entrevistado na Rádio Arara Azul no programa do Arimateia.Tudo transcorria normalmente até que ele proferiu a seguinte frase: "acho que Câmara de Vereadores tem que acabar aqui em Parauapebas e em todo lugar do Brasil". Seria uma frase normal se não fosse dita por um ex-prefeito, ex-deputado e ex-vereador. Faisal foi vereador na última legislatura e conhece como ninguém a estrutura daquela casa de leis. Então, independente de concordarmos ou não, isso merece no mínimo uma reflexão.

Após lançar a frase bombástica, Faisal discorreu sobre o assunto. Disse que não teria uma proposta de como substituir o atual poder legislativo, mas que teria que mudar esse modelo. Da forma como está é inútil e está longe de cumprir seu papel. O povo exige do vereador um papel que não é o dele. Exige que ele faça o papel do executivo, ressalta Faisal. Ele (o povo) cobra do vereador que lhe arrume emprego. O vereador por sua vez vai cobrar do prefeito o emprego para o povo. O prefeito dá uma secretaria ao vereador em troca de sua fidelidade. Como é que esse vereador terá independência para fiscalizar o prefeito? -questiona o ex-vereador. Da forma como está fica impossível que haja oposição e ambos (prefeito e vereadores) são reféns uns dos outros.

Faisal lança uma questão polêmica, indigesta e que poucos tem coragem de abordar publicamente. Fala que tem que mudar o paradigma e, principalmente a compreensão do eleitor sobre o papel do vereador.  Mais uma vez coloca o eleitor na berlinda. A coisa funciona assim: o eleitor busca um vereador que atenda suas necessidades individuais. Para isso o vereador tem que se aliar ao prefeito e conseguir vagas de emprego e dinheiro, muito dinheiro. Assim, ele fica nas mãos do executivo e perde sua autonomia e papel de legislador. O vereador nessa condição tem que correr contra o tempo e conseguir mais recurso para fazer caixa para garantir sua reeleição. O vereador que não entra nesse esquema fica isolado, de mãos amarradas e não se reelege. Quer dizer que o vereador é refém do mal eleitor? O vereador tem que ser corrupto para conseguir os votos para a próxima eleição?

Essa é uma questão difícil de ser decifrada. Por um lado temos o eleitor que vive nas portas dos gabinetes exigindo todo tipo de coisa dos vereadores: material de construção, dinheiro, emprego para si e para os parentes, dentadura para a sogra, passagens, etc. etc. Por outro lado temos o político que faz de tudo para chegar ao poder e manter esse poder. Em época de campanha distribui dinheiro e compra votos e acaba se elegendo as custas de muita grana e muitas promessas. Segundo o Faisal o Judiciário não tem condições de coibir essa prática. Infelizmente é verdade. A cada ano uma eleição se torna mais cara em Parauapebas e a prática da boca de urna corre solta nas barbas do juiz. A conta é a seguinte: o candidato contrata mil bocas de urna a cem reais cada para o dia da eleição. Ele sabe que o cara não vai fazer boca de urna devido a fiscalização do judiciário. Nem precisa. Com cem reais no bolso a metade desses eleitores tem um surto de falsa honestidade e vota no tal candidato. Desses 500 cabos eleitorais "honestos" metade consegue pelo menos mais um voto. Resultado: mil pessoas contratadas no dia da eleição por cem mil reais renderá ao candidato no mínimo 750 votos.

Mas afinal, o eleitor é o vilão? Seria ele o culpado pela eleição e reeleição dos corruptos? Do outro lado dessa polêmica está o corruptor, o político. Ao longo dos anos o povo foi educado a agir assim e agora os políticos reclamam desse comportamento. Esse dilema tão cedo será resolvido e se parece com aquela duvida eterna:  quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?  E você leitor inteligente que acompanha esse Blog, o que acha? Não sei quem nasceu primeiro mas de uma coisa tenho certeza: enquanto perdurar essa dúvida o "fiofó" da galinha é quem paga a conta.

Me custa muito assumir isso. Quem me conhece sabe que Faisal Salmen foi meu grande inimigo político desde a minha juventude. Mas reconheçamos: ele foi corajoso ao abordar publicamente essa questão e tem razão em muitos aspectos principalmente quando diz que tem que mudar o paradigma do legislativo e a forma como o povo vê o vereador.

2 comentários:

  1. Ouvi a tal entrevista e, independente de ele ter ou não ter razão, o que me chamou a atenção foi a maneira como ele se expressa, a impostação de voz, a fala pausada, as palavras meticulosamente pensadas e o tom angelical. Conheço este moço desde antes de Parauapebas se tornar município e sei que ele não é boa bisca, e tornou-se um "poderoso chefão" quando virou prefeito (conheço as arengas entre vocês dois), marido da prefeita e deputado estadual (lembra de quando ele se atracou ao trem de pouso do avião em Belém e agrediu a 'outra' esposa, grávida, na sala da Polícia Federal em frente aos policiais e ninguém fez nada?). Pois é, agora vai para a rádio fazer proselitismo político e autopromoção, usando uma voz de coitadinho, fazendo mea culpa, dizendo-se arrependido de não ter feito isso e aquilo. Quem não conhece esse rapaz e também ouviu a entrevista, deve de ter dito: coitado, ele é tão bom, por que está de fora? (fico até imaginando a cara das piedosas dizendo isso). Não se iludam minhas senhoras (sim, porque senhores...), aquela voz é enganadora - quem não conhece aquele velho ditado: "quem vê cara...", ou: "lobo em pele de cordeiro"? Não estou, com isto, tirando-lhe o mérito das palavras naquela entrevista; é que, como o conheço e não acredito na mudança de água pra vinho (em se tratando de ser humano) da noite para o dia, sinto-me na obrigação de deixar um alerta ao povo sério que se prepara para votar nas próximas eleições, em que o dito cujo será candidato a deputado estadual - não é à toa que a Arara Azul está promovendo entrevistas com gente desta monta. E tenho dito. (Cuidaaado!!!).

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  2. Realmente é preciso coragem para falar isso e muito mais para escrever. Gostei da sua análise sobre a compra de votos. Com todo o rigor do Libio a maioria dos eleitos derramaram dinheiro. Só não cito nomes para não ser processado. Conheço vereador que gastou um milhão. Mas para que serve mesmo a camara? Tem vereador que nem sabe.

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