Por Altamiro Borges
A última pesquisa Datafolha confirmou que FHC é o político mais destetado do país – 57% dos entrevistados garantiram que não votariam em um candidato indicado por ele “de jeito nenhum”. Mesmo assim, vaidoso, ele não consegue ficar quietinho no seu canto, mesmo sabendo que isto pode prejudicar Aécio Neves, o cambaleante presidenciável do PSDB. Citado por Lula num evento no final de semana, FHC se sentiu provocado e reagiu nesta segunda-feira (16). “Lamento que o ex-presidente Lula tenha levado a campanha eleitoral para níveis tão baixos. Na convenção do PSDB não acusei ninguém; disse que queria ver os corruptos longe de nós. Não era preciso vestir a carapuça”, escreveu no Facebook.
Mas quem vestiu a carapuça, de fato, foi o próprio tucano. O que irritou FHC foi uma crítica que até hoje não teve respostas. “Vi o ex-presidente falar com a maior desfaçatez: ‘É preciso acabar com a corrupção'. Ele devia dizer quem é que estabeleceu a maior promiscuidade entre Executivo e Congresso quando ele começou a comprar voto para ser aprovada a reeleição”, afirmou Lula na convenção que homologou a candidatura de Alexandre Padilha ao governo de São Paulo. O petista apenas se referiu a uma denúncia publicada pela própria Folha tucana em 1997 e que, recentemente, ganhou provas mais contundentes com o excelente livro “O príncipe da privataria”, do jornalista Palmério Dória.
A retrucar a alfinetada de Lula, o grão-tucano inclusive forçou a Folha – que, por razões óbvias, nunca mais tratou do assunto e até escondeu o livro de Palmério Dória, um sucesso de vendas – a relembrar o velho escândalo político. O jornal até tenta aliviar a barra de FHC ao dizer que ele “sempre negou o episódio”, mas confirma que “o caso nunca foi investigado nem pelo Congresso, nem pela Procuradoria-Geral da República”. A Folha poderia acrescentar ainda que mídia amiga também arquivou a maracutaia – mas ai já seria pedir demais. Em seu blog, o jornalista Fernando Rodrigues, o primeiro a denunciar o caso, contou um pouco desta história sinistra. Vale conferir:
*****
Conheça a história da compra de votos a favor da emenda da reeleição
Fernando Rodrigues
16/06/2014
O mais importante a respeito desse episódio de 1997 é que nada foi investigado como deveria. Dessa forma, restam apenas os fatos em torno da revelação do fato – trata-se de fato, pois houve provas materiais periciadas a respeito.
Tento evitar escrever sobre assunto tão antigo porque agora é ocioso especular sobre certos detalhes do episódio. Mas como FHC e Lula trocaram chumbo a respeito, é útil fazer aqui, sem juízo de valor, uma cronologia dos acontecimentos:
1) 28.janeiro.1997 – a Câmara aprova a emenda constitucional da reeleição: dispositivo passa a permitir que prefeitos, governadores e presidente disputem um segundo mandato consecutivo.
2) 13.maio.1997: Folha publica reportagem da compra de votos para aprovação da emenda da reeleição. Manchete no alto da primeira página, em duas linhas: “Deputado conta que votou pela reeleição por R$ 200 mil”.
3) O que disse FHC, então presidente da República: sempre negou o esquema. Dez anos depois, em sabatina na Folha, em 2007, o tucano não negou que tenha ocorrido a compra de votos. Alegou que a operação não foi comandada pelo governo federal nem pelo PSDB: “O Senado votou [a reeleição] em junho [de 1997] e 80% aprovou. Que compra de voto? (…) Houve compra de votos? Provavelmente. Foi feita pelo governo federal? Não foi. Pelo PSDB: não foi. Por mim, muito menos”.
4) Provas: confissão gravada de 2 deputados federais do Acre que diziam ter votado a favor da emenda da reeleição em troca de R$ 200 mil recebidos em dinheiro. Outros três deputados eram citados de maneira explícita e dezenas de congressistas teriam participado do esquema. Nenhum foi investigado pelo Congresso nem punido.
5) CPI: PT e partidos de oposição tentam aprovar requerimento de CPI. Sem sucesso
6) Operação abafa 1: em 21.maio.1997, apenas 8 dias depois de o caso ter sido publicado pela Folha, os dois deputados gravados renunciam ao mandato (Ronivon Santiago e João Maia, ambos eleitos pelo PFL – hoje DEM – do Acre). Eles enviaram ofícios idênticos ao então presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Ambos alegaram “motivos de foro íntimo’”. Em comentário irônico à época, o então deputado federal Delfim Netto disse: “Nunca vi ganhar um boi para entrar e uma boiada para sair”.
Reportagem de 21.maio.1997 relata procedimentos utilizados na reportagem sobre a compra de votos.
7) Operação abafa 2: em 22.maio.1997, só 9 dias depois de a Folha ter revelado o caso, tomam posse como ministros Eliseu Padilha (Transportes) e Iris Rezende (Justiça). Ambos eram do PMDB, partido que mais ajudou a impedir a instalação da CPI para apurar a compra de votos.
8) Operação abafa 3: apesar da fartura de provas documentais, o então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, não acolhe nenhuma representação que pedia a ele o envio de uma denúncia ao Supremo Tribunal Federal.
Em 27.junho.1997, indicado por FHC, Geraldo Brindeiro toma posse para iniciar o seu segundo mandato como procurador-geral da República. Sempre reconduzido por FHC, Brindeiro ficou oito anos na função, de julho de 1995 a junho de 2003.
9) Fim do caso: em junho de 1997, o Senado aprova, em segundo turno, a emenda da reeleição, que é promulgada. No ano seguinte, FHC se candidata a mais um mandato e é reeleito.
A Polícia Federal não investigou? De maneira quase surrealista, sim. O repórter responsável pela reportagem foi intimado a dizer o que sabia a respeito do caso em… 4 de junho de 2001. O inquérito era apenas protocolar. Não deu em absolutamente nada.
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Leia também:
- Livro bomba: O príncipe da privataria
A última pesquisa Datafolha confirmou que FHC é o político mais destetado do país – 57% dos entrevistados garantiram que não votariam em um candidato indicado por ele “de jeito nenhum”. Mesmo assim, vaidoso, ele não consegue ficar quietinho no seu canto, mesmo sabendo que isto pode prejudicar Aécio Neves, o cambaleante presidenciável do PSDB. Citado por Lula num evento no final de semana, FHC se sentiu provocado e reagiu nesta segunda-feira (16). “Lamento que o ex-presidente Lula tenha levado a campanha eleitoral para níveis tão baixos. Na convenção do PSDB não acusei ninguém; disse que queria ver os corruptos longe de nós. Não era preciso vestir a carapuça”, escreveu no Facebook.
Mas quem vestiu a carapuça, de fato, foi o próprio tucano. O que irritou FHC foi uma crítica que até hoje não teve respostas. “Vi o ex-presidente falar com a maior desfaçatez: ‘É preciso acabar com a corrupção'. Ele devia dizer quem é que estabeleceu a maior promiscuidade entre Executivo e Congresso quando ele começou a comprar voto para ser aprovada a reeleição”, afirmou Lula na convenção que homologou a candidatura de Alexandre Padilha ao governo de São Paulo. O petista apenas se referiu a uma denúncia publicada pela própria Folha tucana em 1997 e que, recentemente, ganhou provas mais contundentes com o excelente livro “O príncipe da privataria”, do jornalista Palmério Dória.
A retrucar a alfinetada de Lula, o grão-tucano inclusive forçou a Folha – que, por razões óbvias, nunca mais tratou do assunto e até escondeu o livro de Palmério Dória, um sucesso de vendas – a relembrar o velho escândalo político. O jornal até tenta aliviar a barra de FHC ao dizer que ele “sempre negou o episódio”, mas confirma que “o caso nunca foi investigado nem pelo Congresso, nem pela Procuradoria-Geral da República”. A Folha poderia acrescentar ainda que mídia amiga também arquivou a maracutaia – mas ai já seria pedir demais. Em seu blog, o jornalista Fernando Rodrigues, o primeiro a denunciar o caso, contou um pouco desta história sinistra. Vale conferir:
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Conheça a história da compra de votos a favor da emenda da reeleição
Fernando Rodrigues
16/06/2014
O mais importante a respeito desse episódio de 1997 é que nada foi investigado como deveria. Dessa forma, restam apenas os fatos em torno da revelação do fato – trata-se de fato, pois houve provas materiais periciadas a respeito.
Tento evitar escrever sobre assunto tão antigo porque agora é ocioso especular sobre certos detalhes do episódio. Mas como FHC e Lula trocaram chumbo a respeito, é útil fazer aqui, sem juízo de valor, uma cronologia dos acontecimentos:
1) 28.janeiro.1997 – a Câmara aprova a emenda constitucional da reeleição: dispositivo passa a permitir que prefeitos, governadores e presidente disputem um segundo mandato consecutivo.
2) 13.maio.1997: Folha publica reportagem da compra de votos para aprovação da emenda da reeleição. Manchete no alto da primeira página, em duas linhas: “Deputado conta que votou pela reeleição por R$ 200 mil”.
3) O que disse FHC, então presidente da República: sempre negou o esquema. Dez anos depois, em sabatina na Folha, em 2007, o tucano não negou que tenha ocorrido a compra de votos. Alegou que a operação não foi comandada pelo governo federal nem pelo PSDB: “O Senado votou [a reeleição] em junho [de 1997] e 80% aprovou. Que compra de voto? (…) Houve compra de votos? Provavelmente. Foi feita pelo governo federal? Não foi. Pelo PSDB: não foi. Por mim, muito menos”.
4) Provas: confissão gravada de 2 deputados federais do Acre que diziam ter votado a favor da emenda da reeleição em troca de R$ 200 mil recebidos em dinheiro. Outros três deputados eram citados de maneira explícita e dezenas de congressistas teriam participado do esquema. Nenhum foi investigado pelo Congresso nem punido.
5) CPI: PT e partidos de oposição tentam aprovar requerimento de CPI. Sem sucesso
6) Operação abafa 1: em 21.maio.1997, apenas 8 dias depois de o caso ter sido publicado pela Folha, os dois deputados gravados renunciam ao mandato (Ronivon Santiago e João Maia, ambos eleitos pelo PFL – hoje DEM – do Acre). Eles enviaram ofícios idênticos ao então presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Ambos alegaram “motivos de foro íntimo’”. Em comentário irônico à época, o então deputado federal Delfim Netto disse: “Nunca vi ganhar um boi para entrar e uma boiada para sair”.
Reportagem de 21.maio.1997 relata procedimentos utilizados na reportagem sobre a compra de votos.
7) Operação abafa 2: em 22.maio.1997, só 9 dias depois de a Folha ter revelado o caso, tomam posse como ministros Eliseu Padilha (Transportes) e Iris Rezende (Justiça). Ambos eram do PMDB, partido que mais ajudou a impedir a instalação da CPI para apurar a compra de votos.
8) Operação abafa 3: apesar da fartura de provas documentais, o então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, não acolhe nenhuma representação que pedia a ele o envio de uma denúncia ao Supremo Tribunal Federal.
Em 27.junho.1997, indicado por FHC, Geraldo Brindeiro toma posse para iniciar o seu segundo mandato como procurador-geral da República. Sempre reconduzido por FHC, Brindeiro ficou oito anos na função, de julho de 1995 a junho de 2003.
9) Fim do caso: em junho de 1997, o Senado aprova, em segundo turno, a emenda da reeleição, que é promulgada. No ano seguinte, FHC se candidata a mais um mandato e é reeleito.
A Polícia Federal não investigou? De maneira quase surrealista, sim. O repórter responsável pela reportagem foi intimado a dizer o que sabia a respeito do caso em… 4 de junho de 2001. O inquérito era apenas protocolar. Não deu em absolutamente nada.
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Leia também:
- Livro bomba: O príncipe da privataria
Onde está a obra do Restaurante Popular prometida pelo Walmir???????????/
ResponderExcluirAssim fica fácil, não é seu Barbosa? Com tanta blin(Brin)dagem, o "príncipe" nunca que iria virar sapo - acabou virando rei.
ResponderExcluirO Barbosa nao estava la. So tinha ministro medroso. E agora que ele vai se aposentar os mensaleiros vao todos pra casa
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