Manual maquiavélico do poder
Como emplacar o terceiro ou quinto mandato?
A distribuição dos cargos
Eu, Nicolau Maquiavel, nascido em Florência-Itália no século XV, autor de várias obras, entre elas O Príncipe, que ficou famosa exatamente pela falta de compreensão e entendimento da minha mensagem subliminar que deixei no livro. Agora, em pleno século XXI, me dou ao trabalho de vir aqui, através desse aprendiz de blogueiro deixar uma mensagem. Espero que essa geração do século XXI tenha mais inteligência do que a minha do século XV. Para quem não entender e para quem não compartilhar essa mensagem, prometo que virei pessoalmente atazanar seu sono e assombrar seus dias.
Dito isso, vamos aos fatos.
O nobre prefeito seguiu todo o roteiro e se reelegeu com facilidade. Agora, sua missão mais importante é emplacar o terceiro ou quinto mandato. Aí vai depender da sua vontade e da sua fome de poder, pois terá que fazer cada vez mais malabarismo para ludibriar esse povo que já conhece as suas artimanhas. Terá que se reinventar e encontrar maneiras cada vez mais criativas. Uma coisa que sempre cola é dizer aparentando humildade que cometeu muitos erros, que confiou muito em pessoas erradas, que foi traído. Mas, agora, você está calejado, muito mais experiente e com mais sabedoria. O povo cairá nesse conto do vigário com facilidade.
Antes que você me interrompa, não esqueci que no século XXI ainda prevalece a lei aí no Brasil que só permite a reeleição para cargos executivos uma única vez. O mandato para quem se reelege só dura 8 anos. Mas basta ficar 4 anos fora do governo para você poder voltar a se candidatar e repetir o ciclo, emplacando mais 8 anos, e assim sucessivamente quantas vezes você quiser, de acordo com sua capacidade de inventar novos truques.
Agora, preste muita atenção nessa lição, pois será a mais importante da sua vida.
Desde o primeiro dia do seu governo após a reeleição, trate de planejar a sua volta quando terminar o mandato. Nesse caso, escolha deliberadamente um secretariado mais fraco possível. Não se preocupe em buscar competência, honestidade ou qualquer habilidade para o cargo. O único critério é que o secretário seja obediente e não questione nada. Quanto mais néscio, melhor para seus objetivos. Calma! Lá na frente você vai entender o objetivo de escolher tanta gente incompetente para gerenciar o que parece sério.
Durante a campanha para sua reeleição, você loteou a prefeitura oferecendo secretarias e assessorias para os partidos aliados. Priorize os vereadores eleitos. Dê uma secretaria para cada um, assim, eles não terão como fazer oposição e nem terão tempo para te fiscalizar. E, o mais importante: estarão comprometidos com seus objetivos. E não se preocupe com o que cada um faz na “sua secretaria”. Se der algum problema, você terá um batalhão de advogados para livrar sua cara. Trate a prefeitura como um feudo. Cada um é dono de um pedaço e deixe a coisa se desenrolar (ou se enrolar) por si só.
Toda unanimidade é burra e levanta suspeitas. Por isso, lembre-se de deixar um ou dois vereadores na oposição comendo o pão que i diabo amassou. Dê corda para que eles falem mal de você. Quanto mais esculhambação, melhor. Se eles te chamarem de ladrão, de corno, de baitola ou do que mais vier à cabeça, apenas sorria. Jamais demonstre raiva. Seja forte, pois o que importa são seus objetivos de se perpetuar no poder.
Na hora de escolher seus assessores, o único critério é que eles sejam bons puxa-sacos. É importante você ter por perto um bando de bajuladores que te defendam a qualquer custo e em qualquer situação, não importando com o tamanho da merda que você faça. Eles funcionarão como soldados que sairão em campo na sua defesa como verdadeiros pitbulls, principalmente nas redes sociais.
O trato com a imprensa
Esse é um quesito muito importante. Sabe aquela história de imprensa imparcial? É a pior mentira que já inventaram. Todo mundo tem seus interesses, e, esses interesses, dependem muito do valor envolvido. Então prefeito, seja generoso. Distribua dinheiro com fartura para esse segmento de “trabalhadores”.
E não escolha veículo de comunicação. Seja rádio, Tv, jornal impresso, blogs, site de notícias, revista de fofocas, página do Facebook, grupos de fofocas no WhatsApp, folheto do grupo de velhinhas missionárias evangélicas... Qualquer um que tenha mais de 100 seguidores, merece sua atenção e o dinheiro dos cofres públicos. Se eles não falarem bem de você, pelo menos vão ocultar as notícias negativas a seu respeito. Não falando mal e nem deixando que outros falem, já está de bom tamanho.
Monitore todos. Deixe uns três assessores só para acompanhar esses órgãos de comunicação e as redes sociais. Se algum se engraçar com sua gestão, corte a verba. Se ele continuar, levante um dossiê do indivíduo. Todo mundo tem algo podre que esconde a sete chaves. Com isso, você manterá o cabresto no “cabrito rebelde”.
Deixe o caos imperar
Parece loucura né? Mas vá por mim. Eu sei o que estou falando. Intercale seu último mandato com obras faraônicas (que nunca serão concluídas) com o caos na administração pública. Se o seu município tiver potencial de endividamento, contraia empréstimos bilionários para as tais obras faraônicas. O importante é deixar um rombo para explodir como uma bomba no colo do próximo gestor.
Se alguém vier reclamar e sugerir que você deve investir em infraestrutura, em saneamento, em postos de saúde e escolas nos bairros, diga que você é visionário e que está pensando no futuro da cidade. Transforme sua cidade num circo pegando fogo. Deixe o caos e o desmando imperar na saúde e, principalmente na educação. E, para aliviar a tensão dos “reclamões”, promova muitas festas, muitos espetáculos, muita pirotecnia. A política do pão e circo deu certo no Império Romano e continuará dando certo nesses confins do mundo atual.
E o mais importante: crie uma áurea religiosa. O povo adora isso. Coloque no seu vocabulário algumas palavras do tipo “Deus te abençoe”, “Deus proteja nossa cidade”, “nosso município é do senhor Jesus”. Frequente templos evangélicos, reúna com pastores, libere verba para igrejas, mesmo que você não tenha nenhuma religião.
Mas qual o objetivo de você causar todo esse caos no município que você administra? Eureca!
Aposte em líderes fracos e artificiais
Você está no seu segundo ou quarto mandato. O seu maior cuidado deve ser com as pessoas com potencial de liderança. A chance de um desses líderes estar se preparando para ocupar o seu lugar é muito grande. Então, trate de destruir qualquer pessoa que demonstre qualquer chance de se tornar um líder. Se algum dos seus secretários ou assessores começar a demonstrar resultados positivos, receber elogios, ser reconhecido pela população pelo seu trabalho, dê um jeito de fritá-lo o mais rápido possível. Arme uma arapuca para ele, use a vaidade do líder como arma de autodestruição, engendre um plano para que ele caia em situação vexaminosa e destrua a sua reputação a qualquer custo. Não tenha escrúpulo ou piedade. No momento, o que você não precisa é de pessoas para dividir a sua glória conquistada com sacrifício.
A regra aqui é fugir de pessoas que apresentem qualquer potencial de apresentar bons resultados para sua gestão. Lembre-se: você tem que causar o caos. Isso parece absurdo para você? Se não estiver preparado para continuar no poder, pode parar por aqui, pois esse espaço não é para quem tem escrúpulos ou pudor. Afaste-se dos seus amigos e cerque-se de bajuladores profissionais. Eles são a energia que você precisa para continuar no poder.
Seu mandato vai terminar e você não poderá mais se reeleger. Lembra que eu te falei no sexto parágrafo que iria entender o motivo de se acercar de gente incompetente no seu governo? Então, para concluir, vai a dica de ouro que fará você se perpetuar no poder.
Você não pode cometer esses dois pecados capitais: a vaidade e a confiança.
Por vaidade, você pode cair na tentação de eleger seu sucessor. Afinal, é normal querer mostrar que é fodão, que tem popularidade bastante para eleger quem você quiser. E aí vem o segundo pecado: você pode cair na tentação de confiar em alguém achando que ele vai ser manipulado por você, que só vai fazer o que você quiser. Acredita que vai apenas esquentar a cadeira para você voltar. Se cometer esses dois pecados será o seu fim. Raciocine comigo: por mais que o seu ungido seja da sua confiança, que esteja com você para o que der i vier, depois que ele sentar na cadeira de prefeito, vai tomar gosto pelo poder. Aí, meu amigo, já era. Com absoluta certeza, vai te isolar, se afastar de você e criará sua própria estratégia de poder. Quando você menos perceber, já virou peça de descarte.
No final do seu segundo ou quarto mandato, quando você não puder mais se reeleger, saia de cena e se prepare para voltar em quatro anos. Para isso, faça o jogo teatral. Lembra do caos que você criou na sua gestão? Agora já está começando a entender a utilidade disso. Seu município estará tão destruído que o povo ficará fragilizado e com ódio de você. E no meio a esse caos que você criou, o eleitor estará tão fragilizado e confuso que será quase impossível de raciocinar com a razão. E a história nos mostra que um povo fragilizado, age como náufrago em busca de uma tábua de salvação. Assim, ele tende a fazer escolhas absurdas. Com certeza, ele (o povo) vai eleger a pior opção possível. Entendeu a lógica?
Como todos esperam que você escolha alguém para te suceder, escolha um candidato que não tenha nenhuma chance de se eleger. Se você eleger seu sucessor, ele terá a chance de ficar oito anos no cargo. E oito anos meu amigo, é tempo suficiente para o povo te esquecer. Então você terá três tarefas: 1º) Provoque divisão na sua base. Prometa apoio a uns três ou quatro nomes. Faça com que eles acreditem que terão sua bênção para a sucessão e deixem eles se matarem por isso; 2º) Na última hora, escolha o candidato mais fraco, que não tenha nenhuma condição de ser eleito. Mesmo você estando queimado com o eleitor, com o uso da máquina o seu candidato ainda pode se eleger. Então cuide-se para que isso não aconteça; 3º) Secretamente, dê apoio ao pior candidato da oposição. Dê um jeito de fazer chegar dinheiro a esse candidato. Um contrato milionário para um financiador da campanha dele é uma boa ideia. Mas cuidado para o eleitor não descobrir isso, senão seu plano vai por água abaixo.
Tudo o que você precisa é que seja eleito um destrambelhado da oposição que vai herdar uma prefeitura falida e não tenha capacidade de colocar o trem nos trilhos. Fará tanta besteira que o incauto eleitor que raciocinou com o fígado ao invés do cérebro, vai sentir saudade de você.
Agora, mãos à obra. Se aplicar esse plano direitinho, te garanto que se elegerá quantas vezes quiser. Confie nos seus instintos e na baixa capacidade de entendimento da maioria dos eleitores. E confie mais ainda na incapacidade de raciocínio e falta de inteligência dos que se matam para assumir o seu lugar.
Eu sempre vejo o futuro repetir o passado
ResponderExcluir“Nada de grandioso jamais foi conseguido sem perigo”
ResponderExcluirOntem a noite iniciei a leitura na intenção de ler uma parte de cada vez. Me lasquei. Só consegui parar quando li as três partes. Realmente uma análise profunda de quem conhece os bastidores da política de Parauapebas. E essa jogada do Maquiavel foi de mestre.
ResponderExcluirQuando é que o Maquiavel vai nos brindar com dicas de como se eleger vereador por diversas vezes?
Um exemplo clássico é a Cidade vizinha, Canaã, o Jeová elegeu a sucessora e ela jogou os pés nele. Pelas bandas daqui isto já mais acontece. Temos leitor aciduo de Maquiavel. O príncipe é o livro de cabeceira.
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