Diante do caos, nossas autoridades, de forma apressada, adotaram medidas que nada contribuirão para evitar novos ataques e proteger nossas crianças e professores. O governador do Pará Helder Barbalho anunciou que colocará policiais nas escolas. A prefeita de Canaã dos Carajás anunciou que além de policiais, colocará concertina (aquelas bolas de arames cortantes que se usa em presídios) nos muros das escolas e detector de metais nas entradas.
Os pais de alunos, por sua vez, exigem medidas drásticas como segurança armada, detector de metais e, pasmem, até professores armados e crianças trancadas nas salas de aula.
O que as autoridades esqueceram foi o detalhe mais importante: consultar os educadores. Sim, os esquecidos professores. Um conselho de especialistas em educação seria capaz de analisar o cenário, estudar as medidas que fracassaram ou deram certo em outros países e, ai sim, apresentariam um conjunto de propostas concretas e consistentes capazes de frear essa estupidez.
Mas para entender o que está acontecendo, é necessário que continue lendo o texto com muita atenção e analise os dados com frieza.
Mas, afinal, o que está acontecendo com o Brasil?
Em 07 de abril de 2011, (há exatamente 12 anos) no bairro do Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, um ex-aluno de 23 anos invadiu a escola municipal Tasso da Silveira, armado com 2 revólveres, atirou e matou 12 alunos (sendo 10 meninas), feriu 13, e em seguida se matou. Na época, o caso foi tratado pela imprensa como de fato era na ocasião: algo fora do comum no Brasil.
"De acordo com mapeamento da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre casos de ataques em escolas por alunos ou ex-alunos, o primeiro episódio foi registrado em 2002. À época, um adolescente de 17 anos disparou contra duas colegas dentro da sala de aula de uma escola particular de Salvador. O levantamento da Unicamp deixa de fora episódios de violência não planejados, que podem ocorrer, por exemplo, em decorrência de uma briga". (agênciabrasil.ebc.com.br).
Foram listados 22 ocorrências desde 2002. Ao todo, 30 pessoas morreram, sendo 23 estudantes, 05 professores e 02 funcionários das escolas.
Do total de casos, 13 (mais da metade) estão concentrados apenas nos últimos dois anos - 2022 e 2023. Isso demonstra claramente que as ações estão ligadas ao crescente discurso de ódio e ao incentivo para que a população se arme. E você cidadão, sem saber, pode ter contribuído com isso.
Para justificar a minha tese, cito o exemplo dos Estados Unidos. Lá existe o maior numero de ataque em escolas do mundo, e, não por coincidência, é onde existe o maior numero de cidadãos armados e a cultura armamentista é dominante. Quando o ex-presidente Barack Obama tentou restringir o acesso a armas pelos civis, encontrou uma forte barreira no Congresso que, por sua vez, tem o maior numero de congressistas com campanhas financiadas pelos fabricantes de armas. Entendeu a lógica?
Qual seria a solução para evitar mais ataques
...O que não devemos fazer
- Colocar policiais, guarda municipal ou seguranças armados nas escolas - Além de não resolver o problema ainda pode criar outros. Se fosse assim, nos Estados Unidos não teria mais ataques nas escolas. Lá, uma "agência de pesquisa governamental analisou dezenas de revisão de pesquisas publicadas entre 2000 e 2020 sobre o policiamento escolar e concluiu que a presença de policiais não aumentou a segurança nas escolas e não preveniu ataques violentos". (Fonte: G1 Educação). E ainda teríamos mais um agravante no Brasil: o numero deficitário de policiais no Pará e no Brasil, iria deixar outras áreas descobertas, facilitando o ataque de marginais em outros pontos da comunidade.
- Colocar detectores de metais nas portas das escolas - Você já viu como é num aeroporto? Quando o detector de metais apita é um inferno. Revista, abre bolsa, passa novamente... No aeroporto ok, pois além do numero menor do que numa escola, eles possuem toda uma infraestrutura para isso. Agora visualiza na porta da escola! Menino abrindo a mochila, derramando tudo na calçada para encontrar a tesoura, mãe nervosa e com pressa para deixar o filho e voltar para o trabalho, rua interditada pelo numero de alunos aguardando a revista... Ou seja, uma escola pequena iria gastar em média 2 horas para a entrada dos alunos. Agora imagine uma escola pública com mil alunos por turno?
O cenário é assustador, não há diálogo entre pais e filhos ...o respeito brilha por sua ausência, as redes sociais tem o papel de hipnotizar nao somente crianças e adolescentes mais também muitos pais.
ResponderExcluirParabéns Professor, nota-se muito conhecimento e contundência na sua análise. Não tem como serem tomadas decisões tão severas com grande impacto social, recheado de possíveis problemas, sem os principais conhecedores e que vivência o dia a dia nas escolas.
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