INCÊNDIO NA PREFEITURA - ESSA TRAGÉDIA PODERIA TER SIDO EVITADA?

Prefeitura em chamas

Quem aqui se lembra do incêndio da boate Kiss que aconteceu na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul? Só para relembrar: a tragédia aconteceu no dia 27 de janeiro de 2013 e matou 242 pessoas e deixou mais de 600 pessoas feridas. Após as apurações, 28 pessoas foram apontadas pelo inquérito policial como responsáveis pela tragédia. Entre elas, o prefeito da cidade, César Shirmer, e o comandante do 4º Comando Regional de Bombeiros, de santa Maria, tenente-coronel Moisés Fuchs. 

Aquela tragédia poderia ter sido evitada se as autoridades responsáveis tivessem feito seu trabalho como manda a lei. Mas, ao invés disso, se omitiram e preferiram apostar no famoso "jeitinho brasileiro". Depois descobriu-se que a boate Kiss estava com o alvará vencido e a prefeitura não havia feito nada para impedir seu funcionamento de forma irregular. Já ao comandante do Corpo de Bombeiros pesou a responsabilidade de deixar a casa funcionar sem projeto contra incêndio.

E aqui em Parauapebas? Esse incêndio será apurado? Serão apontados os possíveis responsáveis por ação ou omissão? Foi apenas uma fatalidade? Poderia ter sido evitado?

Esses e outros questionamentos servirão para jogar luz sobre esse caso, - já que a água não resolveu.- e aqui, não vou fazer como a imatura (ou má intencionada?) oposição de Parauapebas que de maneira açodada tratou de espalhar sua teoria da conspiração baseada na inteligência de quem acredita que a terra é plana.

Sábado, 19 de dezembro de 2009 - festa de inauguração da prefeitura

Festa de inauguração

Uma grande festa foi preparada com toda pompa e circunstância. Afinal, pela primeira vez, Parauapebas iria ter uma sede à altura de sua importância. Lembro que na época, políticos de oposição batiam pesado argumentando que a construção do prédio era um gasto desnecessário e exagerado. Aquela velha conversa fiada de sempre de que deveria construir hospitais, escolas... blá, blá, blá. Mas o fato é que o prédio encravado no Morro dos Ventos passou a ser motivo de orgulho para toda a população e ponto de interesse turístico para os visitantes.

Mas um fato inusitado aconteceu naquela festa de inauguração que passou batido por quase todo mundo. A festa foi rápida e logo os convidados foram chamados para a parte externa do prédio. É que fazia um calor insuportável, e a quantidade de vidros do prédio, apesar de deixar com um ar moderno e arrojado, funciona como uma estufa por absorver e manter os raios solares. Bastaram alguns minutos dentro do prédio para as pessoas começarem a molhar a roupa de tanto calor. 

Alguém gritou: "liguem os aparelhos de ar condicionado!" 

Cadê o ar condicionado? Não havia um sequer. 

O prefeito Darci Lermen havia prometido inaugurar o prédio ainda em 2009. E assim foi feito no apagar das luzes antes do recesso natalino. Mas cadê o ar condicionado? O que aconteceu? Pouca gente sabia. Inclusive esse era um assunto que nem parte do secretariado a época tinha conhecimento. O fato é que o projeto da nova prefeitura previa o sistema de refrigeração central através de dutos (como é nos shoppings). Ninguém soube - ou não quis - explicar o porque da mudança no projeto. Para resolver o problema, uma empresa foi contratada após a inauguração para instalar centrais de ar condicionado de forma improvisada. Lembro dos técnicos reclamando das dificuldades de passar tanto cabo sem ter espaço. 

Ok, problema resolvido. Em 2010, de fato a prefeitura saiu do prédio improvisado alugado próximo a portaria da Floresta de Carajás onde existia um hotel desativado e entrou de vez na sua sede. Dessa vez com aparelhos de ar condicionado por todo lado proporcionando conforto térmico a todos. 

Esses aparelhos, apesar de eficientes, sempre apresentaram problema. Vez por outra, dava um curto circuito e o prédio ficava sem energia. Mas a vida continuou quase normal até que...

Sexta-feira, 29 de julho de 2022

Logo de manhã recebi a notícia num grupo de whatapp que  participo com as tristes imagens. Escrevi: "meu palpite: começou em um ar condicionado". Mais tarde vi num vídeo publicado pela assessoria de comunicação da prefeitura onde uma servidora da procuradoria confirmava meu palpite. 

Esse dia ficará marcado por muito tempo em nossa memória. As imagens do nosso patrimônio sendo consumido pelas chamas e um grupo tentando - em vão - conter as labaredas destruidoras são chocantes e causam comoção a qualquer um que tenha sangue humano nas veias. 

Acho que a população nem conhece a proporção desse prejuízo. Perdemos um patrimônio histórico mais importante da nossa região. No Estado do Pará, no Norte do Brasil não há uma prefeitura que chegue aos pés da nossa. 

Apesar do secretário de comunicação ter escrito e dito que a equipe composta por bombeiros, defesa civil e voluntários conseguiu conter o fogo rapidamente, o que vimos foi o contrário. Aqueles bravos homens corajosos e persistentes, pouco puderam fazer sem os equipamentos adequados. A noite ainda era possível ver fumaça saindo do prédio já quase todo destruído. 

Mas como assim? Sem equipamento adequado?

Uma tragédia que poderia ter sido evitada

Sim. Nosso Corpo de Bombeiros, apesar da estrutura que tem, não pode fazer milagre num prédio daquele porte sem projeto de combate a incêndio. Sim caro leitor. A Prefeitura Municipal de Parauapebas não executou o projeto de combate a incêndio. O mesmo projeto que é obrigatório em órgãos públicos e privados. E não estou falando de extintores. Falo de reservatório de água isolado com paredes antifogo exclusivo para o sistema de prevenção; falo de hidrantes interligados a esse reservatório exclusivo; falo de bicos com jatos aspersores com detector de calor, detecção e alarme de incêndio...

A única coisa que os bombeiros poderiam fazer  era notificar a prefeitura e, após o prazo legal, interditar o prédio por descumprimento de norma de segurança. Mas isso era antes da tragédia. 

Que lição poderemos tirar dessa tragédia?

Quando eu era secretário de meio ambiente, fiz algumas operações contra a própria prefeitura, inclusive com interdição e multa. Isso gerou muito desconforto e fui até taxado de louco e radical. Mas entendo que o poder público que é responsável por cumprir e aplicar as leis, tem que dar o exemplo. Se a prefeitura descumpre as leis e normas está autorizando qualquer cidadão a descumprir. O poder do Estado não pode ter dois pesos e duas medidas como ocasionalmente vemos aqui. 

Espero que esse erro pelo menos sirva de exemplo. Espero que agora a prefeitura instale sistema de prevenção a incêndio em todos os seus órgãos, começando pelas escolas e unidades de saúde. Graças a Deus o incêndio aconteceu numa sexta-feira de recesso de funcionários e o prédio estava quase vazio. Imagine uma situação dessa num hospital cheio de gente! É bom nem imaginar.

Ah, esse alerta vale também para o Estado. Só para se ter uma ideia, nenhuma escola estadual teria condições de manter as portas abertas se a lei do próprio Estado fosse cumprida.

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