Por Alípio Mário Ribeiro*
A cada ano aumenta o número de
alunos “ricos" matriculados nas escolas públicas estaduais pelo país. Em
Parauapebas, não é diferente. Basta passar pela praça Mahatma Gandhi (ESCOLA
EUCLIDES FIGUEIREDO), pela rua Rio de Janeiro no Rio Verde (Escola EDUARDO
ANGELIM) ou outras escolas estaduais de ensino médio na cidade, para ver alunos
descendo de HILUX, COROLAS, SUV para irem para a aula. Outros tantos, mesmo
menores de idade, vão de motos caras, ostentando celulares de última geração,
roupas de grife, óculos da moda!
A
Lei 12.711/2012 preceitua o seguinte:
"Art. 1o
As instituições federais de educação superior vinculadas ao Ministério da Educação reservarão, em cada concurso seletivo para ingresso nos
cursos de graduação, por curso e turno, no mínimo 50% (cinquenta por cento) de suas
vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.
Parágrafo
único. No preenchimento das vagas de que trata o
caput deste artigo, 50% (cinquenta por cento) deverão ser reservados aos
estudantes oriundos de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário-mínimo (um salário-mínimo e meio) per
capita.”
Compensa
mais para os pais matricularem seus filhos nas escolas públicas e pagarem cursinhos
pré-vestibulares, do que mantê-los em escolas particulares caras e que nem
alcançam a média nas notas do ENEM ou pontuam no IDEB! Os pobres, que não têm
como pagar cursinhos, com certeza, ficarão fora das universidades públicas e
terão que pagar com muito sacrifício, mesmo com a ajuda de programas como FIES,
PROUNI, SISU, pelas mensalidades!
Mas
não é só pelo fato de concorrerem pelas vagas ofertadas pelas cotas que os pais
matriculam os filhos nas escolas públicas. Na realidade, a classe média está em
apuros e empobreceu. E a classe rica virou classe média. Não está sendo fácil
manter os carros e padrão de vida conquistados a duras penas. Há que se cortar
os custos!
Por
outro lado, a migração dos alunos “ricos” para as escolas públicas vem provocando
algumas mudanças, mesmo que pequenas e poucas na rotina dos alunos e
professores! Os pais destes alunos cobram mais, estão atentos às notas de seus
filhos, cobram resultados de diretores e professores. No começo, os alunos são
mais participativos, se destacam no meio dos demais. Aos poucos, porém, se
deixam engolir pela precariedade do ensino público, caem na produtividade e
desempenho. O fato de muitos deles terem uma rotina desgastante, estudando na
escola pública e em cursinhos, cansa, desestimula. Poucos são aqueles que
aguentam a lida e se saem bem no vestibular. Vários são os alunos que conheço e
para quem lecionei, que vivem esta rotina, que não conseguiram boas notas no
ENEM!
A
migração dos alunos “ricos" para a escola pública atraiu a atenção de
bandidos que passaram a roubar e furtar celulares, bonés, mochilas dos alunos.
E todos são prejudicados, perdendo mais, claro, o pobre. Consequentemente,
devido à falta de segurança, a venda de drogas aumentou nestas escolas,
trazendo perigo e desconforto para todos, inclusos professores, servidores e
pais.
Os
alunos pobres reagem de várias formas frente ao estilo de vida dos alunos
“ricos”. Alguns procuram estudar mais, para mostrar que conseguem melhores
notas e no intuito de terem o mesmo padrão de vida dos “intrusos”. Outros se
deixam dominar pelos celulares modernos e bonitos, pelo jeito de ser dos
“ricos”, pelas suas roupas caras. Como nos filmes americanos sobre a vida nas
escolas, seguem e se submetem aos mauricinhos e patricinhas e desprezam os
colegas de anos de convivência.
O
professor precisa ficar atento a estas mudanças para promover a harmonia entre
as classes, buscando estimular a todos na busca por uma vaga na universidade,
na defesa da cidadania. Deve conscientizar o aluno sobre os princípios da
igualdade, respeito e dignidade. É um desafio a mais a ser vencido nesta
pluralidade cultural, social e financeira chamada Brasil!
É
preciso discutir a Lei de Cotas com os alunos e professores, buscar soluções
para enfrentar os problemas causados com a implantação dela no país. Convidar
as famílias dos alunos com mais frequência para atividades sociais e lúdicas
nas escolas, já é um bom começo.
Precisamos
formar filhos melhores para deixar um país melhor ainda para nossos netos e
para nós mesmos!
E
você? Já visitou a escola de seu filho hoje para saber o que ele anda fazendo
lá?
* Advogado e professor da rede pública estadual.