"O juri considera o réu culpado (...) Condeno o senhor Luis Carlos a 14 anos de reclusão em regime fechado", sentenciou o juiz encerrando o julgamento que durou todo o dia de 24 de setembro de 2015. Na platéia uma mãe amamentava um bebê e sua face incrédula denunciava que era esposa do réu. Ao seu lado uma menininha de bochechas rosadas conversava inocentemente com sua boneca. Um paletó preto enorme que contrastava com aquela figurinha, entregue pelo advogado de defesa cobria-lhe o corpo protegendo-a do frio do gelado salão do tribunal do juri. Fiquei por alguns minutos olhando aquela cena contraditória: uma mãe/esposa angustiada, um bebê e uma criança inocentes que nem se davam conta da gravidade da situação. Qual será o futuro daquele bebezinho de colo? Onde estará aquela menina de bochechas rosadas daqui a vinte anos? Como essa mãe angustiada suportará esse tempo sem o esposo e sem um filho que está foragido? E se tudo fosse diferente?
Ontem, (24) testemunhei essa cena deprimente. Por um lado fiquei aliviado ao ver a justiça sendo feita no caso do assassinato do agente Geraldo que aconteceu no dia 31 de agosto de 2013. Por outro lado fiquei angustiado por presenciar ali a destruição de toda uma família por um erro banal. Um erro banal, mas que a maioria dos pais cometem por entenderem que estão protegendo e amando seus filhos. Como educador que já atua há 29 anos, presencio o início dessa tragédia nas escolas quase todos os dias e, sinto-me na obrigação de tentar parar isso.
Entendendo o início da tragédia
Um jovem cheio de vida sai com sua motocicleta com duas moças na garupa, todos sem capacete. Ao ser abordado por um agente de trânsito, mesmo estando sem documento do veículo, sem habilitação, se acha no direito de enfrentar o agente e até de entrar em briga corporal para não entregar a moto. Não conseguindo seu intento, liga para o pai, que imediatamente se dirige ao local para defender o filho. O que você acha que o pai fez?
1- Levou o filho para casa e deu-lhe uma bronca. Onde já se viu cometer infrações de trânsito e ainda discutir com o agente? Ainda falou que ele teria que trabalhar, juntar o dinheiro para retirar a moto do pátio do DMTT;
2- Chegou ao local e deu total apoio a atitude do filho. Juntos, perseguiram o caminhão guincho onde a moto estava sendo levada. Fechou-o com sua caminhonete e tentou retirar a moto a força de cima do caminhão agredindo o agente.
Infelizmente aconteceu a alternativa 2. Não conseguindo retirar a moto, o jovem agrediu o agente e não satisfeito foi até a caminhonete do pai, pegou uma faca e perseguiu o agente até alcançá-lo, desferindo-lhe duas facadas letais. O jovem encontra-se foragido até o presente momento e o pai foi acusado de contribuir com o crime dando apoio material e moral para que o mesmo ocorresse. Foi julgado e condenado a 14 anos de prisão. Resultado: duas famílias destruídas. A do agente Geraldo que morreu e a família do Luis Carlos que ficará na prisão.
Infelizmente, nem todos que cometem erros na criação dos seus filhos sentam no banco dos réus, mas percebemos que muitos pais estão cometendo esse tipo de erro todos os dias. Alguns tem menos sorte como foi o caso do Luis Carlos ou de outros pais que enterram seus filhos jovens. Mas a maioria absoluta fica impune e contribui para uma sociedade desajustada, violenta, sem ética e princípios.
Inevitavelmente lembrei de uma mãe que me procurou na escola pública para saber do rendimento escolar do seu filho. Inicialmente fiquei empolgado com a atitude da mãe, coisa rara nesses tempos. Eis que minha empolgação virou decepção e perplexidade quando a mãe falou: "se ele não estiver com notas boas o pai dele vai tomar a moto". "Ahm! Quantos anos ele tem?" Perguntei. "Quinze anos", respondeu a mãe toda orgulhosa. "E ele já anda de moto? A senhora não sabe que isso é errado, fora da lei?" A mãe argumentou que o filho é responsável, que tem muito juízo, tem corpo de homem, etc. Não adiantou eu argumentar e até apelar para princípios religiosos já que se tratava de uma evangélica. Ela foi taxativa: "meu filho vai continuar vindo para a escola de moto e o senhor pode chamar o DMTT que eu resolvo".
Como formar filhos desajustados para a sociedade
1- Ensine a seu filho que você é uma pessoa influente, conhecido na cidade e, por isso ele pode fazer o que quiser que o "papai" resolve.
2- Ensine seu filho que ele não deve mexer com ninguém, mas se alguém provocar, reaja. Só não vale chegar apanhado em casa, senão apanha de novo.
3- Deixe que seu filho menor dirija seu carro, sua moto. Isso é coisa de macho. Se um policial abordá-lo, basta ele te ligar que você vai lá resolver. Argumente com o policial que você é pioneiro na cidade, bastante conhecido, ofereça propina... Se o policial insistir em querer multar seu veículo e dizer que seu filho está desrespeitando a lei, jogue essa verdade na cara dele: "tanto bandido solto, tanto ladrão roubando, tanto político corrupto e ao invés de vocês prenderem esses marginais vão querer perseguir meu filho?"
4- Nunca vá na escola do seu filho, nem mesmo nas reuniões de pais. Afinal, um homem ou uma moça de 14, 15, 16 anos não precisa mais de pais dando uma de babá na escola. E se a direção lhe convocar por algum problema, vá lá e enquadre o diretor ou o coordenador. Diga que seu filho é um exemplo, que jamais faria aquilo que foi acusado e, se fez, é porque teve motivo. Fale mal da escola, dos professores incompetentes, do governo, da greve, mas defenda a qualquer custo seu filho, e, de preferência na frente dele.
5- Quando presenciar seu filho fazendo algo errado, diga que isso é coisa de adolescente. Normal!
6- Se um dos conjugues corrigir o filho, tome a defesa. Diga que a mãe/pai está exagerando.
7- Não exija que seu filho faça qualquer trabalho ou passe nenhuma dificuldade ou privação, mesmo que isso lhe custe sacrifício. Dê tudo que ele quiser, afinal, no seu tempo você não tinha nada e, por isso quer que seu filho tenha tudo. Ofereça-lhe a vida que você não teve.
8- Uma mentirinha na frente do seu filho não faz mal. Afinal quem é que não mente? Se alguém lhe telefonar, peça que ele atenda o telefone e diga que você não está.
9- Peça ao seu filho que busque cerveja para você, que acenda o seu cigarro, que esconda uma situação do irmão ou da mãe. Qual o problema, se todo mundo faz isso?
10 - Se seu filho for preso cuide de arrumar um bom advogado para tirá-lo da cadeia, não importa o motivo. Afinal, pai é pai e tem que defender seu filho não importa o erro dele. Dê sempre razão a ele e diga que está sendo perseguido por pessoas invejosas.
Faça apenas um desses quesitos da lista e, quem sabe, um dia você estará no lugar do seu Luis Carlos no banco do réu!
belo texto luiz. como professora, vivenciamos todos os dias uma dessas situações ou mais. somos os viloes da sociedade por querer ajudar na educação futura.infelizmente ospais nos tem como inimigos. e pagam caro por super proteção aos filhos
ResponderExcluirTexto ótimo para reflexão!
ResponderExcluirInfelizmente, meu caro, algumas leis deste país encorajam país e filhos para um caminho tortuoso. Felizmente, casos como estes são poucos, frente aos milhões de jovens com boa educação e atitudes.
ResponderExcluirAlípio
realmente Luiz, essa mãe pode ser evangélica, porém não é cristã, pois cristão segue os ensinamentos de Cristo e com essa atitude ela está sendo tola e precisa se deixar ser ensinavel
ResponderExcluirExcelente texto caro amigo Luiz Vieira. Nos faz refletir em meio a sociedade que vivemos. É um grande desafio criar e educar um filho nos dias de hoje, porem, nao é impossível. Abraço. Continue nos presenteando com seus belos textos.
ResponderExcluirRafael Ribeiro.
Parabéns pelo texto. Irei usa-lo na reunião de pais.
ResponderExcluirSer professor/educador virou profissão de risco. Infelizmente.
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