Revirando o baú
Escrevi essa redação (conto infantil) no ano de 1984 na aula de literatura. Ontem, revirando o meu baú encontrei-a e senti vontade de compartilhar. Uma história para amolecer nosso coração nesse período natalino.
Morava no subúrbio da cidade, na
favela São José. Era órfão de pai e sua
mãe era uma pobre lavadeira que com o que ganhava nem conseguia alimentar o
único filho. O pai morrera quando Antoninho tinha apenas seis anos. Foi atropelado
por um caminhão conduzido por um motorista bêbado que avançara o sinal e seu
corpo foi esmagado. A única coisa que deixou para seu filho foi o nome: Antônio
Dias da Silva Filho.
Antoninho usava uma velha
camiseta rasgada no peito, bastante suja e surrada. Uma grande cabeça enfiada
num longo pescoço fino, cabelos negros e escorridos na testa emoldurava um
rosto triste e sofrido. Tinha grandes olhos com pupilas negras, o rosto
sarnento, trazia sempre um sorriso pálido.
Tão magro que se podia contar os ossos, usava uma bermuda abaixo dos
joelhos e sempre andava descalço. Seus
pés estavam sempre sujos pois o seu divertimento era pisar nas sarjetas e enxurradas.
Vendia jornal para levar alguns
trocados para sua mãe, mas nem sempre era feliz nas vendas. Já eram 17 horas e
aquele pobre menino de quatorze anos voltava com um pacote de jornal embaixo do
braço. Não tinha vendido nem um exemplar sequer. Parece que ninguém se
interessava em saber as notícias do dia, ou não queria comprar de um menino tão
feio e sujo.
Naquela manhã tinha quebrado o
jejum com um pedaço de pão seco que achara em algum balde de lixo e um pouco de
chá de folhas de laranjeira que uma vizinha ofereceu à sua mãe. Não tinha
almoçado e se contorcia de fome. Aquele fardo pesado lhe torturava e, como se
não bastasse estava com medo de perder a vaga de jornaleiro por não ter vendido
nada. Seria o fim! Não tinha nem um trocado para tomar um ônibus e não
aguentava dar nem um passo a mais. O sol queimava sua pele parda e mal coberta.
Resolveu sentar na calçada de uma loja para descansar um pouco. Encostou no seu
fardo de jornal e estava tão cansado que adormeceu. Adormeceu e sonhou. Sonhou
que estava no céu em companhia do seu pai e logo veio São Miguel com suas vestes
bem alvas e na mão direita trazia um lindo cajado de ouro. Tomou o seu pacote e
saiu distribuindo jornais para todos os anjos do céu. Como pagamento deu-lhe
uma estrela por cada jornal. Antoninho se sentiu feliz pela primeira vez na
vida. Poderia voltar para casa e comprar uma casa de luxo e morar dignamente
com sua mãe.
Antoninho acordou, bocejou e
coçou os joelhos. Ficou um tanto assustado, pois pensava que ainda estava no
céu. Percebeu que tinha adormecido e olhou em volta de si. Que tristeza! Seus
jornais já não estavam ali. Tinham sido espalhados pelo vento por toda a
avenida da cidade. Já era noite e aquele menino não sabia o que fazer. Pensou: “neste mundo não tem mesmo lugar para
um menino pobre como eu. É melhor ir para junto do meu pai. Lá serei feliz”.
Atirou-se sob um caminhão que passava em alta velocidade e partiu...
Marabá, 1984. Escola Santa Terezinha.
Professora de Literatura: Célia Costa.
Belo conto!!! Parabéns. Mais infelizmente somos confrotados todos os dias com situações iguais ou piores em nossa tao agitada vida urbana. Onde nos deparamos com crianças abandonadas, tristes, trabalhando ou melhor sendo exploradas. Sendo que lugar de criança é na escola se preparando para um futuro digno. E amparadas também por seus familiares, pois sem essa base fundamental família e escola dificilmente nossas crianças crescerão com dignidade. Vamos amar nosso próximo. Começando por nossas crianças, que serão o futuro de nosso país.
ResponderExcluirCoitado do Antonino! O que vai ser do pântano?
ResponderExcluirAlípio
Amigo Alípio não entendi o porque do coitado. Refere-se ao pântano ou ao conto? O conto não é relato sobre minha historia. Um abraço e prospero 2015.
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