Escrever é um ato quase sagrado. Através da escrita você se expressa e mostra um pouco de sua alma. Daí os cuidados e a responsabilidade que você tem que ter quando escreve. "Se vejo um papel qualquer no chão, corro logo e apanho pra esconder, com medo de ter sido a anotação que fiz, que ninguém possa ler, eu gosto de escrever." (Paranoia-Raul Seixas). Aqui o nosso filósofo Raul Seixas reflete a preocupação que temos com alguns pensamentos mais íntimos que liberamos através da escrita. Muitos gostam de escrever diários secretos, bilhetinhos e até tratados científicos que preferem manter no anonimato ou atribuem a um pseudônimo.
Escrever é um ato intencional, uma arte, um dom. Com a escrita registramos nossas idéias, fazemos nossos protestos e nos expomos. Jamais, jamais é um ato imparcial como muitos fazem questão de passar. Essa história de que jornalista é imparcial, que apenas registra os fatos, que não põe em seus textos ideologias é conversa para boi dormir. É humanamente impossível registrar um fato sem deixar o nosso DNA, sem deixar nossas impressões, sem deixar registrado nossas concepções e personalidade. Cada escritor expressa aquilo que sabe, ou que pensa que sabe; aquilo que pensa ou que foi levado a pensar; aquilo que acumulou durante toda uma vida.
É extremamente importante termos a noção do poder que temos enquanto escrevemos. Nossos textos podem ser interpretados de diversas maneiras de acordo com o interesse de quem lê. Pode ser um bálsamo ou uma espada cortante. Temos que ter a noção exata do perigo e da proporção que nossa escrita pode alcançar. Independente do teor do nosso texto, encontraremos leitores de todos os tipos e personalidades: desde o bom leitor que é capaz de assimilar as informações e filtrar o que é útil até o leitor mimado e melindroso que acha que está sendo perseguido injustamente. Por isso, apesar de termos cuidado e muita responsabilidade com o que escrevemos, não temos como controlar os efeitos, pois dependemos de fatores externos como a personalidade e o humor de quem lê.
Como não é um ato imparcial nem inocente, sempre que escrevemos para o público temos que ter senso de justiça e sensatez. Vai algumas dicas que gosto de seguir:
*Só escreva quando estiver calmo e tranquilo. Quando estamos nervosos inevitavelmente contaminamos nosso texto. Se não estiver tranquilo adie o texto.
*Evite escrever quando estiver sentindo qualquer emoção negativa como raiva, rancor, desprezo.
*Exponha suas idéias de forma clara e cristalina evitando julgamentos pré-concebidos, preconceitos ou pensamentos contaminados.
*Lembre sempre que sua verdade não é a única. Toda ideia é subjetiva e passiva de interpretações diversas dependendo do ponto de vista e dos interesses que estão em jogo.
*Em qualquer situação use a ética como balizadora.
*Ao cometer erros publicamente com sua escrita, se desculpe publicamente.
*Evite a qualquer custo idéias sensacionalistas.
*Verdades são como lâminas afiadas e incomodam bastante. Tente suaviza-las.
*Se não quer causar polêmica e nem desagradar a ninguém, então guarde seus escritos só para você no seu diário secreto pois o mundo está cheio de gente infeliz e frustrada que vive buscando carapuça.
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