Vai lá, pega a Vice direção. Vice-diretor não faz nada, mesmo!
Por Marcony Castro*
O convite para assumir a vice direção da escola chegou de
forma inesperada. O que viria pela frente prometia transformar minha rotina.
Eu, professor do Ensino Médio no Estado do Pará, com anos de experiência em
sala de aula, estava prestes a enfrentar um desafio totalmente novo: a gestão
escolar.
Aceitei o convite com um misto de entusiasmo e apreensão. Nos
primeiros dias, a imensidão das responsabilidades administrativas rapidamente
dissipou qualquer ilusão de facilidade. Trabalhar nos bastidores da escola
revelou-se uma tarefa árdua. Antes, meu universo era a sala de aula, com os
alunos, lições e provas. Agora, eu me via mergulhado em planilhas, reuniões
intermináveis e burocracia.
A inexperiência era um fantasma constante. Cada decisão
parecia carregada de um peso enorme, e eu frequentemente me pegava duvidando de
minhas escolhas. Os antigos colegas, que antes eram apenas amigos, agora me
olhavam com olhos críticos. Algumas críticas eram construtivas, outras, nem
tanto. Porém, todas contribuíam para um ambiente de tensão. A amizade que fluía
livremente no corredor se transformou em uma formalidade desconfortável nas
reuniões de equipe.
A pressão administrativa para alinhar a escola aos programas
oficiais do governo era implacável. Havia metas a cumprir, relatórios a
entregar, e os desafios eram muitos: garantir a conectividade da internet,
gerir os recursos financeiros da escola, e assegurar a qualidade da merenda
escolar. Cada problema parecia maior do que o anterior, e as soluções, muitas
vezes, pareciam inatingíveis. As centrais de ar quebradas deixavam salas de
aula insuportavelmente quentes, comprometendo o aprendizado. Boletins de
ocorrência contra casos de ameaças na escola tornavam o ambiente tenso e
exigiam uma atenção redobrada para a segurança de todos.
No entanto, entre as dificuldades, surgiam momentos de
aprendizado e crescimento. Cada crítica recebida me forçava a refletir sobre
minhas ações e decisões, levando-me a buscar melhorias constantes. A
complexidade dos problemas administrativos me ensinava a importância da
paciência e da resiliência. A pressão para fazer a escola funcionar me mostrou
a importância da organização e do planejamento.
Com o tempo, comecei a perceber que esses desafios eram
oportunidades disfarçadas de obstáculos. A experiência na vice direção estava
me moldando, transformando-me de um professor experiente em um gestor em
amadurecimento. Aprendi que a gestão escolar não se trata apenas de resolver
problemas, mas de criar um ambiente onde alunos e professores possam prosperar
e crescer.
Hoje, compreendo que cada dificuldade enfrentada foi um
degrau em minha jornada para me tornar um bom gestor. A transição da sala de
aula para os bastidores da escola foi um processo doloroso, mas, necessário. Ao
enfrentar críticas, pressão e inexperiência, encontrei em mim mesmo uma
resiliência que desconhecia. E, assim, continuo a trilhar esse caminho
desafiador, com a certeza de que cada obstáculo superado me aproxima mais da
excelência na gestão escolar.
*Marcony Castro
Vice-diretor Pedagógico da Escola Cecília Meireles
Nenhum comentário:
Postar um comentário