O acidente que aconteceu em Bento Rodrigues - MG no dia 5 de novembro deixou um mar de lama e uma enxurrada de dúvidas e especulações. A barragem com rejeito de minério pertencia a empresa SAMARCO que tem como acionista principal a VALE, se rompeu causando o maior desastre ecológico do Brasil. Além do distrito de Bento Rodrigues que ficou soterrado na lama, o Rio Doce foi completamente destruído em proporções catastrófica. A lama avançou para além de Minas Gerais e já alcançou o Estado do Espírito Santo, chegando ao mar.
Tragédias como essa podem acontecer em qualquer lugar, inclusive aqui em Carajás onde nossas lagoas de rejeitos são bem maiores do que a de Bento Rodrigues. Lá, a VALE explora 50 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, e aqui, são mais de 100 milhões de toneladas. Por aí já dá para saber a proporção de um possível acidente.
Até hoje esse assunto domina todos os canais de comunicação. Cidades inteiras da bacia do Rio Doce, sem água potável, agricultores, pescadores e ribeirinhos com suas atividades interrompidas e sem perspectiva de solução, além de famílias que nem conseguiram encontrar seus mortos soterrados na lama. Alguns especialistas falam que o Rio Doce já era; outros acham que é possível recuperá-lo em 20 ou 30 anos. Só o tempo dirá. A única coisa que temos certeza é de que aquela região atingida nunca mais será a mesma.
De quem é a culpa?
Depois de uma tragédia dessa, a primeira reação humana é encontrar culpados. Precipitadamente colocamos a culpa na empresa SAMARCO. Mesmo sendo da VALE, a imprensa como um todo nem cita esse nome, numa espécie de proteção velada.
Sei que muitos vão ficar perplexos com meu ponto de vista, mas direi com todas as letras que as empresas mineradoras VALE e SAMARCO são as que tem menos culpa nessa tragédia. Pense bem: qual a empresa de grande porte, com negócios com os mais exigentes mercados iria correr esse risco? É óbvio que um acidente como esse traz prejuízos incalculáveis que nem uma empresa gostaria de arriscar. Porém, não estou isentando totalmente a VALE/SAMARCO da culpa. São empresas mineradoras que tem por natureza destruir o meio ambiente.
Eu diria que os grandes culpados são as instituições que controlam a exploração mineral e que são responsáveis pela fiscalização do meio ambiente. Nesse caso o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e o IBAMA. Esses órgãos fiscalizadores e controladores geralmente funcionam sem estrutura adequada e vivem de esmolas das próprias empresas que fiscalizam. Aqui em Parauapebas por exemplo, se não fosse pela VALE o Instituto Chico Mendes viveria a míngua. Além do mais, o controle de segurança é feito pela própria empresa. No caso da VALE/SAMARCO, ela própria contratava consultoria para indicar o nível de segurança das suas barragens e apenas encaminhavam os laudos para o DNPM. Complicado isso, não acha?
Outro nível de culpa está com a sociedade. Tanto aqui em Parauapebas como lá em Minas Gerais, o povo tem uma relação de subserviência com a VALE. Uns até chamam de mamãe VALE devido a geração de emprego e renda que a empresa proporciona. Poucos se importam com os prejuízos ambientais e com a exploração dos recursos de forma desordenada visando apenas lucros exorbitantes. E quando os órgãos de fiscalização fazem seu papel com rigor e barram alguma licença ambiental para algum projeto de alguma empresa, muitos ficam contra os agentes públicos e a favor do infrator. Sofri isso na pele quando fui Secretário Municipal de Meio ambiente de Parauapebas de 2005 a 2008. O discurso que mais ouvia era: "está atrapalhando quem quer trabalhar e produzir". Parece que o simples fato de gerar emprego já deixa o sujeito acima da lei e com carta branca para destruir o meio ambiente.
Quem pagará o prejuízo?
Não será a VALE/SAMARCO, muito menos o governo. Mesmo com as multas milionárias aplicadas à empresa, mesmo com os bilhões gastos para recuperar ou minimizar o estrago, quem pagará essa conta seremos nós. E quando digo nós, estou incluindo o povo de Parauapebas. Como a maior fonte de lucro da VALE sai do nosso subsolo, daqui será tirado grande parte da receita para arcar com a conta. Assim, Parauapebas deverá amargar mais um ano de crise intensa. Recomento que apertem o cinto.
Finalizo repetindo uma preocupação que há tempos venho expondo: até quando vamos continuar acomodados e vivendo quase que exclusivamente com a receita da VALE? Quando vamos aprender a diversificar nossa economia? Quando vamos deixar de ter espírito de garimpeiro e viver como se morássemos numa currutela de garimpo? Os exemplos estão aí e até os cegos "vêem". O fim de garimpo todo mundo sabe qual é. E tenho dito!
Só faltou dizer que a culpa é da DIlma.
ResponderExcluirSempre é culpa do governo que nao toma previdencia e nunca defendeu a natureza. Todos os rios brasileiros sao polluidos e a vida animal desaparece.
ExcluirSim a Dilma é culpada para nao tomar previdencia. Ela nao se importa com a natureza.
ExcluirBoa tarde, maior cantador do Vale do Rio Doce faz homenagem as vítimas de Mariana e a seca do Rio Doce em novo trabalho.
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=0YyE_5yoQUg
https://www.youtube.com/watch?v=A4t4NbU0iNs