Por Edmilson Alves Peixoto*
[Sensacional, fantástico! Sem dúvida, a melhor crônica que já pintou por aqui. Quem quiser a tradução (interpretação) é só se manifestar.]
Principiava o mês de novembro. O céu
limpo não anunciava mais o inverno, quando chegou o dia, o grande dia em que o
Zé finalmente faria a apresentação das representações sociais em versos sonoros
para o ápice dos degustadores do estilo.
Meu companheiro, apreciador de uma
mistura de fungos, com um tipo de cereal e engatadeira de sabor amargo,
bastante aromática juntados à água, apesar de ser encontrada com facilidade no
setor comercial, sempre tinha um estoque em casa e consumia com uma certa
frequência como se seguisse uma prescrição médica, tendo neste dia tomado doses
excessivas da mistura, inclusive, nos momentos que antecederam ao evento.
Saiu de casa acompanhado da
família e de um escritor que faria menção ao ídolo numa crônica exclusiva em
opúsculo próprio e com dedicatória específica para Zé. Chegaram à noite para
acompanhar muito cedo do dia subsequente a preciosidade da cultura musical que
era degustada como arte e celebrar o momento que marcaria a transitoriedade da
passagem à celebridade mencionada em capítulo à parte para seu conhecimento.
Apreciadores implacáveis,
assistia a tudo na praça com muita tranquilidade mesmo sem milho e pombos, apenas
transitavam entre estruturas expositivas de negócios ali instaladas, inclusive com
muitas misturas capazes de atuar no Sistema Nervoso e modificar
qualitativamente a atividade cerebral e perturbar a mente, acondicionadas em
latas e garrafas, de marcas diversificadas e bastante disputada pelos seus
adoradores.
Nosso companheiro era um destes
adoradores que consumia compulsivamente sem se preocupar com a mente e muito
menos com a fala, pois sabia que o poder da sua mente era toda sua fortaleza,
mas passo a passo inconscientemente produzia um dialeto novo da generalidade
linguística prevalecente, mas tornava-se totalmente estranha e sem tradução.
Agora sim, Zé estava prestes a
chegar. Um quinteto se formou para aguardar em local privilegiado de acesso
raro, buscando ocupar os espaços, mas lá já haviam outras manifestações de especificidades
que eram passíveis de atendimento por garantia universal dos direitos humanos. Juntou
a eles o literato que escrevera a história do Zé pelas suas próprias mãos e
nosso companheiro eufórico de mente confusa querendo um lugar ao sol naquele início
de madrugada. Estava mesmo muito confuso. Mas, ainda tinha o sol como amigo
entre outros amigos que o acompanhavam para dar um suporte em áreas de risco
extremo.
Quando de repente, não mais que
de repente surge Zé, bem mais velho que seu velho pai e se acomoda em um espaço
fechado e reservado que havia sido preparado para sua acolhida, e uma meiga
senhorita veio nos dizer que somente o nosso escritor podia acessar o recinto.
Mas, nosso escritor não poderia ir só, seu fotógrafo o seguiu para registrar o
momento do ritual da passagem e aproveitar para se registrar também.
Mas o nobre companheiro, do lado
externo imaginava em seu novo dialeto que o homem criou asas e parecia que pelo
menos naquela casa, ele não podia entrar. Quando Zé surge à porta e solicita-se
então um retrato com um adorador fanático dele que o aguarda. Fora concedido.
De braços abertos o ídolo o
recebe, mas se frustra ao perceber que havia devaneios tolos a te torturar
quando se confunde o Zé com Zé e sentiu-se nocauteado e as fotografias recortadas
amiúde, ocorrendo um disparo de balas não de canhão, mas verbais, sentindo-se
uma violeta velha sem colibri e por pouco precisaríamos usar uma camisa de
força para conter o Zé.
Ai só Freud para explicar o que
ocorrera com o cidadão. Ou nós, pobres mortais, podemos supor que Zé talvez
tenha entendido erroneamente naquele dialeto estranho uma mudança de sua
própria configuração e não tenha concordado, uai! No mais, estou indo embora!
*Sociólogo, de Canaã.
Quem nasce Zé morre jonh não.
ResponderExcluirBAITA CRONICA.Vou reler outras vezes a muide.Mesmo assim terei certeza de estar degustando uma leve brisa de sobriedade sempre pela primeira vez.
ResponderExcluirÓ o cara meu! Misturou sociologia com poesia e deu filosofia. Beleza pura.
ResponderExcluirRelendo aqui caro blogueiro e recordando que já se passaram três anos e sempre que leio parece tão presente e parece que foi ontem. kkkkk
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